Entre 1305 e 1376 a sede do papado esteve na cidade de Avignon, na França. Clemente V e toda a cúria romana se transferiram para o condado de Provença, pertencente à casa dos Anjou, no dramático episódio que ficou conhecido como o “Cativeiro da Babilônia”. Em 1377, o papa Gregório XI reinstalou seu pontificado em Roma, após fortes pressões populares e atendendo aos apelos de Santa Catarina de Sena.
Gregório XI morreu no mês de março do ano seguinte, aos 47 anos de idade. A notícia de sua morte foi motivo de desordens entre a população romana, que temia o retorno do papado a Avignon. Era imprescindível a eleição de um papa italiano para que Roma pudesse novamente dirigir a Cristandade. Diante de uma multidão ameaçadora, o Colégio Cardinalício se reuniu em conclave no início de abril. Amedrontados com uma possível insurreição popular, os cardeais procederam com uma eleição rápida, favorável ao napolitano Bartolommeo Prignano, arcebispo de Bari. Prignano foi coroado solenemente como o novo papa e adotou o nome de Urbano VI (1318-1389).
Urbano VI, ainda cardeal era o “nome da concórdia”, uma vez que agradava ao mesmo tempo às “denominações” francesa e italiana do Colégio cardinalício. Bom conhecedor da administração pontifícia, era um homem piedoso, com boa parte de sua formação em Avignon. No entanto, o novo papa revelou, tão logo eleito, uma brusca mudança de conduta. Assumiu um discurso crítico e reprovador de certas atitudes dos outros cardeais, o que começou a produzir atritos com os mesmos.
Em 1378, parte do Colégio de Cardeais se retirou para Anagni e depois para Fondi, onde realizaram uma nova eleição. Inconformados com as atitudes de Urbano, os cardeais afirmavam que sua eleição tinha sido inválida, visto que o conclave havia se reunido sob pressão. O eleito foi o cardeal Roberto de Genebra, que adotou o nome de Clemente VII. Estava concretizada a ruptura. Em 1379, Clemente VII se instalou em Avignon. Diante de uma Cristandade atônita, tinha-se, a partir de então, uma Igreja bicéfala.
Tão logo se produziu o Cisma, as duas partes buscaram alianças políticas internacionais. Carlos V, rei da França, e Amadeu VI, conde de Savoia, reconheceram Clemente VII como o verdadeiro papa. O mesmo fez o reino da Escócia, aliado da França. A Inglaterra reconheceu Urbano VI, assim como o sacro-imperador Carlos IV (1316- 1378)39 o fez. Também se posicionaram urbanistas a Hungria e Flandres.
Nos reinos ibéricos, o clima foi mais cauteloso. Em Castela, Henrique II (1334-1379)40 se declarou neutro; a mesma posição foi a de João I (1358-1390), seu filho, que relutantemente convocou uma assembleia do clero para que pudessem chegar a um denominador comum; em 1380, Castela se decidiu por Clemente VII. O rei aragonês Pedro IV, o Cerimonioso, também se declarou indiferente, mas não tardou a se colocar favorável ao papa avignonês. Carlos II de Navarra, foi o único monarca a não abandonar a neutralidade, conservando-a até sua morte. Portugal, sob o governo de Fernando I, apoiou Clemente VII; no entanto, a partir de 1383, já sob a política de João I, o reino português favoreceu o papado romano.
Na Itália, o reino de Nápoles optou por Clemente VII. Já os Estados do norte da península se posicionaram a favor de Urbano VI. Antes de se instalar em Avignon, Clemente VII permaneceu alguns meses em território italiano. Com os dois pontífices em mesmo solo, a Itália esteve prestes a se tornar palco de uma guerra entre ambos, afinal a primeira tentativa de superação do cisma era pela força, a chamada via facti (PALENZUELA, 2005, p. 717). Felizmente, o conflito não chegou a ser iniciado.
Em 1389 morria Urbano VI. Surgia um novo alento de ver, mais uma vez, a Cristandade unida sob um mesmo líder espiritual. No entanto, todas as expectativas foram frustradas e, quinze dias após sua morte, o napolitano Pietro Tomacelli era eleito o novo papa, que adotou o nome de Bonifácio IX . O Cisma persistia.
Com a morte de Clemente VII, em 1394, mais uma vez se tinha a expectativa de que a divisão da Igreja chegaria a seu fim. Contudo, os cardeais da obediência avignonesa não depositaram seus votos no papa romano. Procederam, assim, com uma nova eleição, que recaiu sobre o cardeal aragonês Pedro de Luna. Adotou o nome de Bento XIII.
A 26 de Junho de 1409 realizou-se o Concílio de Pisa que acrescentou um outro antipapa e declarou os outros dois depostos. Depois de muitas conferências, discussões, intervenções do poder civil e várias catástrofes, o Concílio de Constança (1414) depôs o Antipapa João XXIII, recebeu a abdicação do Papa Gregório XII, e finalmente, conseguiu depor o Antipapa Bento XIII. Em 11 de novembro de 1417, o concílio elegeu Odo Colonna, que tomou o nome de Martinho V, com o que terminou o Grande Cisma do Ocidente e foi restabelecida a unidade.
O prestígio do papado foi profundamente afetado com esta crise, o que causou a criação da doutrina conciliar, que sustenta que a autoridade suprema da Igreja encontra-se com um concílio ecumênico e não com o papa, sendo efetivamente extinta no século XV.
Por: Matheus Corassa da Silva
Concílio de Constança
O Concílio de Constança, realizado entre 1414 e 1418 em Constança, foi um concílio da Igreja Católica. O seu principal objetivo foi acabar com o Grande Cisma do Ocidente e reunificar a Igreja Católica.
A situação do Cisma do Ocidente havia se agravado com o passar dos anos. Desde 1378 duas linhagens papais completamente independentes dividiam os fiéis pela Europa. Em vias de regra, a divisão se deu a partir de reinos, cada qual assumindo fidelidade a um dos pontífices, mas na prática isso não ocorria tão claramente. Tornando a situação ainda mais complexa, o Concílio de Pisa, realizado em 1409, culminou com o agravamento da situação. Ao invés de conseguir a reconciliação entre os então pontífices Bento XIII, segundo a linhagem de Avignon e Gregório XII segundo a linhagem de Roma. A situação, antes do concílio de Pisa, já não estava simples, especialmente após a França, em 1398, retirar seu apoio a Bento XIII e começar uma guerra contra ele. O então papa Bento XIII ficou preso em um cerco de cinco anos em seu palácio, quando então foi expulso, tendo de se refugiar em Anjou. França, Portugal e Navarra mudam seu apoio para o papa Romano, ao mesmo tempo Escócia, Sicília, Aragão e Castela matem seu apoio a Bento XIII.
Nesta situação o concílio de Pisa, tentando evitar mais conflitos, optou por eleger um terceiro papa, desconsiderando os dois papas anteriores. Entretanto a situação só piorou, uma vez que acabou se formando três grupos distintos disputando pelo poder. Bento XIII de Avignon, mas com sede em Anjou, Alexandre VI, papa por Pisa e Gregório XII papa por Roma. Essa situação de tripartição do poder pontifical era apenas um dos fatores que ameaçava a estabilidade da Igreja Católica. Vários pensamentos considerados heréticos estavam se espalhando, entre eles o pensamento de Wycliffe, que através da figura de Jerônimo de Praga agora estavam se espalhando para diversos pontos da Europa, como Boêmia, Polônia e Lituânia.
Como tentativa para tentar, de alguma forma, sanar todos esses problemas, o Concílio de Constança foi convocado em 1414, tendo se iniciado no dia 5 de novembro, na catedral da cidade de Constança, no Sacro Império (cidade atualmente fronteiriça entre Alemanha e Suíça). A iniciativa de convocar tal concílio foi do papa João XXIII, eleito em Pisa após a morte de Alexandre V (este morto após um único ano no papado, provavelmente vítima de envenenamento).
O imperador Sigismundo do Sacro Império prometia garantir a segurança do concílio e os outros papas foram convocados. O concílio teve duração de quatro anos e foi eficiente no que diz respeito à reunificação dos três pontificados. Oficialmente João XXIII e Bento XIII foram depostos pelo concílio e Gregório XII renuncia voluntariamente, terminando com a eleição do papa Martinho V em 11 de novembro de 1417, sendo este pontífice da Igreja Católica como um todo. Apesar da aparente tranquilidade, o concílio não resolveu os problemas de união da Igreja de uma vez por todas. A linhagem de Avignon, por exemplo, continua até 1437.
Embora não tivesse o apoio de nenhuma grande monarquia da época, tivemos, sucedendo a Bento XIII, o papa Clemente VIII (que ainda teve apoio de Aragão por alguns anos) e posteriormente a ele Bento XIV. Igualmente no campo do combate aos pensamentos heréticos, apesar da morte de um dos principais discípulos de Wycliffe, Jan Hus, temos revoltas que levarão décadas para serem vencidas e o poder da Igreja Católica restaurado de forma mais eficiente.
Apesar da reunificação de uma igreja dividida em três pontificados ser visivelmente de suma importância, entretanto, como veremos a seguir na análise dos atos do concílio, o foco na questão das heresias, do julgamento de Jan Hus e da condenação dos ensinamentos de Wycliffe não se perdeu em várias seções, tendo, em termos de tempo gasto no concílio, importância semelhante à reunificação da Igreja.
Por: Leandro Villela de Azevedo
Tópicos abordados:
- o que foi cisma do ocidente;
- parte da história da igreja católica;
- o que é um concílio do vaticano;
- a origem da igreja católica;
- breve histórico de alguns papas da igreja católica;
- o que é lutero;
- reforma na igreja católica;
Referências
BERNAT METGE. Lo somni / El sueño (edición, traducción, introducción y notas de Julia
Butiñá. Edición bilíngue catalán-español). Madrid: Centro de Linguística Aplicada Atenea, 2007.
BOÉCIO. A consolação da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
DANTE ALIGHIERI. A Divina Comédia. Edição bilíngue. 3 volumes. São Paulo: Editora 34, 1998.
PETRARCA, Francesco. Il canzoniere. Milano: Rizzoli, 1954.
PETRARCA, Francesco. Trionfi. Milano: Rizzoli, 1956.
SANTA CATARINA DE SENA. Cartas completas. São Paulo: Editora Paulus, 2005.
GARCIA-VILLOSLADA, Ricardo; LLORCA, Bernardino (org.). Historia de la Iglesia Católica. Tomo III. Edad Nueva. La Iglesia en la época del Renacimiento y de la Reforma católica (1303-1648). Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2010.
MONTENEGRO, Enrique Cantera. Pontificado de Aviñón. In: PALENZUELA, Vicente Ángel Álvarez. Historia Universal de la Edad Media. Barcelona: Ariel, 2005.
PALENZUELA, Vicente Ángel Álvarez. Cisma y Conciliarismo. In: ______________. Historia Universal de la Edad Media. Barcelona: Ariel, 2005.
Histoblog <http://histoblogsu.blogspot.com.br/2009/04/o-cisma-do-ocidente.html>
Slideshare <http://www.slideshare.net/vitaoloureiro/o-grandecismadoocidente>