“Às pessoas que foram abusadas e torturadas: perdoem-nos por ter permitido que isso acontecesse”(YOKO ONO apud SOARES, 2007, p. 69).
Num primeiro momento não quis escrever sobre o caso João Hélio, até iniciei, mas “deixei de lado”. Sabia que haveria muita gente, tomada pelo impacto do acontecimento, escrevendo. Certamente, a maioria com palavras diferentes, mas dizendo as mesmas coisas, falando do mesmo lugar, ou seja, apenas da indignação. Mas logo o fato não tardaria a cair no esquecimento quando o calor da emoção passasse. Afinal, brasileiro tem memória curta. Anos atrás uma garota de programa, no interior paulista, foi arrastada pelo possante carro de um ricaço da cidade. Parece que devido à negativa da mesma de se encontrar com o tal sujeito. O que sobrou da moça foram pedaços de peles feitas trapos usados, e alguns cacos de ossos esmerilhados no asfalto. Em dezembro de 2006, em Bragança Paulista, também no Estado de São Paulo, o garotinho Vinicius, de 5 anos de idade, foi amarrado e quinado por facínoras, junto aos seus pais e uma amiga destes. Os assassinos já haviam frequentado sua casa e prestado serviço à sua família. Como diz Jabor (2006), a barbárie é mais sólida e obstinada que a civilização (p.17). Estes casos não foram manchetes no Jornal Nacional, etc., não houve comoção nacional.
Mas João Hélio não calou em mim, organizei uma Mesa Redonda na Universidade com o título: “A violência nossa de cada”. Convidei mestres e doutores, ao todo comigo cinco palestrantes. Na platéia tinha oitenta e três pessoas, a maioria do curso de psicologia. Muitos comentaram ter gostado da iniciativa, das apresentações e debate. No entanto, me pareceu faltar algo: Revolta. Tive a sensação de uma certa “distância”, um determinado alheamento que não parecia tocar-lhes vísceras e corações. Falar deste assunto no momento, talvez até seja melhor para reavivá-lo, em particular, depois de mais um irresponsável acidente com aeronaves, primeiro o da Gol, e agora da TAM, num tempo recorde de menos de dez meses. Enfim, para que não esqueçamos destes fatos que, de formas diferentes e independentes do número de vítimas, são igualmente sinistros.
Segundo Janina (apud BAUMAN, 1998), a coisa mais cruel da crueldade é que desumaniza suas vítimas antes de destruí-las (p.237). Num país, onde em pleno aerocaos - na verdade já instalado, mas teve de ocorrer o trágico para que o perigo fosse dimensionado -, a ministra manda “relaxar e gozar”. Porém, não tem nenhuma incoerência no cinismo desta fulana, é apenas à confirmação de como os políticos tratam à população. De modo que, além do aéreo da sua responsabilidade, o presidente demonstrou que tem uma sensibilidade de fazer inveja a crocodilo. Somente depois de três dias desta última tragédia é que emitiu uma nota de pesar, e na mesma semana condecorou figurões da aviação com a medalha Santos Dumont. Havia tempo um personagem do humorista Chico Anysio, o Deputado Justo Veríssimo, repetia o bordão: “Eu quero que o povo se exploda”. Hoje, literalmente estamos explodindo. Mas, nestas tragédias somos todos ao mesmo tempo algozes, porque nós nos permitimos a isto, e vítimas, um povo abandonado, órfão de cidadania.
Para Yoko Ono (apud SOARES, 2007), sarar é o que o mundo mais precisa hoje. Saremos nossas feridas juntos (p. 69). As feridas saram quando estão curadas. Esquecer não é curar, em especial nos casos brasileiros cujas chagas enormes, vivamente abertas, sangram, e nunca vão parar de sangrar em nossas memórias. Então, nos juntemos para enfrentar, para protestar e exigir uma sociedade com um mínimo de decência. Temos que repensar a educação, os valores e uma série de desgraças. Basta de retórica, dos discursos bem elaborados nas suas propostas, mas apenas no papel, sem tomar a forma da boa vontade de resolvê-las. Porque sempre prevalecem os interesses e as vantagens pessoais. Se não foi C. de Gaulle quem disse, mas, seja lá quem tenha dito, infelizmente, estava certo: “O Brasil não é um país sério”. Porém, não dá mais para continuarmos na meninice preservada da malandragem. É preciso evoluir para um outro estágio, para não apodrecermos de vez.
Como diz Bortoloti (2007), chega de explicações porque precisamos de soluções imediatas, o Brasil não está na UTI, mas na emergência. Embora me pareça que, mais do que soluções os estudiosos devam lançar luz, esclarecer, informar, conscientizar sobre os mais diversos prismas ou pontos que focalizam na questão. Cabe à população pressionar, se mobilizar, se articular, para que os ditos órgãos competentes tomem as providências cabíveis. E preciso sair do comodismo, e não apenas se engajar em luta que somente lhe diz respeito. Mas, naquelas que não “tem nada a ver”, assim, essa participação se torna mais interessante. É necessário que os famosos, os formadores de opinião entrem nessa batalha. Onde está essa gente que poderia ser um chamariz? Por que não vai para a rua protestar? Não se sensibiliza? Não é atingida?
Afinal, somos todos afetados pelas três ecologias de que fala Guattari (2005), meio ambiente; relações sociais e a subjetividade humana, que estão interligadas. Protesto silencioso não faz sentido, esta tem sido à nossa postura, dopada pelas impunidades e encenações de justiça para com os “colarinhos brancos”. Os mortos não precisam de minuto de silêncio, os têm por toda eternidade. Ao invés disso temos que gritar, berrar pelo modo bárbaro como se “foram”, e para que não se repita com os que aqui estão. Porém, não é só fazer barulho, mas exigir soluções. A polícia, com todas suas mazelas, até que trabalha, mas falta em contrapartida a justiça. Sempre encontram uma brecha para deixar bandido endinheirado fora da cadeia. Quem no Brasil de fato pega sentença e mofa na prisão, ainda continuam sendo os negros e/ou pobres.
A passagem do João Hélio Fernandes Vieitas, de 6 anos de idade, em fevereiro deste ano, encaro como uma “mensagem” de que algo sério tem que ser feito com urgência e permanência, não vale mais paliativo. A selva que já era de pedra, agora adquiriu feições monstruosas. Para Jabor (2006), os psicopatas1 são nosso futuro (p.87). E isto foi sinalizando desde Suzane von Richthofen, quando elaborei o texto: A ponta do iceberg das monstruosidades que construímos (SILVA, 2007). No mesmo, tento fazer pontes destes atordoantes acontecimentos com as novas identidades que estão sendo forjadas; com a negligência ética e vilipendiamento das ecologias. Claro que estes casos não são os únicos, porém os mais divulgados pela mídia por terem tido como cenário, em especial, o eixo São Paulo-Rio. Com este artigo espero suscitar alguma compreensão deste contexto patológico cada vez mais presente nas violências urbanas, e, guardadas às devidas proporções, engendrar alguns paralelos com o holocausto.
A morte do João chocou o país, mas, os gritos de pavor e medo de Vinícius ficaram abafados na fumaça e retidos nas chamas que também ceifaram as vidas dos seus pais. O pequenino ainda perambulou no desespero da sua solidão e dor do corpo seminu 90% quinado. E esse sofrimento definitivamente cessou 36 horas depois culminando com sua morte (LINHARES, 2006). O caso do João teria emocionado o país por que o garoto foi arrastado dependurado no carro? Mas que diferença faz morrer deste jeito, ou queimado, como no caso do Vinícius? São dois grandes absurdos de tirar o sono, mais ainda por se tratar de crianças indefesas. É de nos envergonhar da raça chamada humana. Será que ainda somos humanos? Esta palavra não é apenas uma alegoria, isto porque cada vez nos brutalizamos para sobreviver, ou para as conquistas centradas no Eu.
Segundo Lasch (1987), as autoridades não garantem mais a segurança dos costumes herdados e dos papéis sociais tradicionais que predominaram na era pré-industrial, nem oportunidade de ascensão social que alimentou a perspectiva de uma sociedade igualitária. Tudo isso deixou de ser fundamento para o consenso social atual. A era dos grandes ideais coletivos desapareceu em favor do culto à paixão individualista, do prazer de vencer e de realizar-se em si (LIPOVETSKY, 2005a). Assim, o sujeito da moral hodierna teria se tornado indiferente a compromissos com os outros – faceta narcisista – e a projetos pessoais duradouros – faceta hedonista (COSTA, 2005, p.186).
Fico me perguntando por que Deus não desalinha as estradas, as rotas, e os horários desses encontros? Estes infortúnios somente tomaram forma exatamente porque houve uma terrível conspiração para o sucesso dos malfeitores ou irresponsáveis na sua apoteótica sanha perversa e assassina. Diante da vulnerável proteção dos pais, por que Deus não salvaguardar as almas inocentes? Derrida (2005), diz que o teatro da crueldade expulsa Deus do palco, no seu ato e na sua estrutura, se produz num espaço não-teológico (p.154). Não devia ser o contrário, para que não se configurasse essas tragédias? Ou as mesmas também são frutos do descaso celestial? Então, por que Deus nos pune deste jeito?
Até parece que, nesses casos, a força do mal vence o bem, que o Demônio é mais forte do que Deus. Para não esbarrar no limite da lógica da compressão divina, de tão absurdamente cortante que são estes feitos, não parece possível pensá-los sem recorrer a algum anteparo subjetivo, sem se equipar de alguma fantasia de inspiração meio lírica ou transcendental. Prefiro acreditar que algum anjo de plantão tenha vindo em socorro ao Vinícius. Pela brutalidade imposta ao João, que ele tenha sido içado pelos anjos direto para os céus, assim que os infames deram partida no motor. Tamanho era o seu medo, em particular porque via que a sua mãe, aquela que a pouco lhe protegia com o seu amor, também estava em desesperador estado de apuro. Hoje vivemos na “corda bamba” da integridade física e, por vezes, moral2. Mas estes quadros rompem, com o até então vivenciado, pelo assombro das suas construções.
As cenas seguintes não podiam ser mais o João, um cérebro espatifado no meio fio era a denúncia da nossa incapacidade e inoperância para conter a monstruosidade, bem como o rastro do sangue da impunidade, da injustiça derramado por “...7 quilômetros em ruas movimentadas de quatro bairros da região” (BORTOLOTI, 2007, p.47). Tudo isto se resume ao vermelho que continuamos a intensificar com o nosso “jeitinho” brasileiro. Os restos do pequeno corpo no fim desse calvário macabro não era nada mais do que a nossa destroçada moral e falta de vergonha. Enfim, uma cruz fincada na Cascadura do nosso ridículo. Que, às vezes, o poder e a força herculanos fazem verter, femininamente, algumas lágrimas, neste país tão carente de “HOMENS”. Mesmo assim nos atrevemos a ostentar no pavilhão nacional: Ordem e Progresso, quando, na verdade, escancaramos o seu inverso.
Os pilantras não tinham antecedentes criminais, mais já era o quinto carro que a dupla abandonava no local (BORTOLOTI, 2007). Ou seja, eram bandidos que vinham burlando a ação policial. O pai de E., menor de idade, não acreditava que seu filho pudesse ser um dos assassinos (idem). Talvez, o pai não soubesse que ele fosse de alta periculosidade! Os pais sempre sabem da tendência ou do potencial criminoso do filho. Se não objetivamente, pelos menos intuem que o sujeito que puseram no mundo “não é flor que se cheire”. Os comportamentos não mudam de forma abrupta, de uma hora para outra, de santo para demônio. Sempre tem “alguma coisa no ar”, um sinal que aponta para uma estranheza de que, se já não desandou, está em processo. Porém, é mais fácil e cômodo atribuir a delinquência do filho às más companhias. Parafraseando Cazuza, diria que é sempre o filho do vizinho que é ladrão, bicha, maconheiro, etc.
No entender de Jabor (2006), há um grande amor do brasileiro pelo fracasso, e quando este ocorre é bom porque retira à ansiedade da responsabilidade pela luta. Para o autor é como se a opinião pública dissesse que não adianta tentar porque sempre dá tudo errado. As falas, no caso de João, que instigam ao protesto, pela falta de crédito na mudança, tem nas entre linhas o desânimo. Na capa da revista Veja de 14 de fevereiro de 2007, trás uma fotografia desfocada (para dramatizar ainda mais o que já é em essência insuportável!) do João, e a frase: “...Não vamos fazer nada?”(sic). Esta expressão deixa implícito de que algo antes não fora feito, sendo possível de que se deixe de fazer outra vez. No corpo do texto a mesma ausência de perspectiva: “O mais desalentador é constatar que o pequeno João Hélio chegou ao suplício em vão”(BORTOLOTI, 2007, p.48). Como pode se dar por consumado um fato recentíssimo? Não houve uma mobilização imediata, é verdade, mas isso não queria dizer que, instigado, não poderia ocorrer mais adiante. Até porque esta imobilidade é um misto de medo, pesar e culpa.
Enfim, o autor identifica: “... pavor paralisante no país”. E provoca de modo brando: “É vital escapar da paralisia”(p.50). Esse pavor não deve paralisar, mas se transformar nas exigências mais contundente de segurança para todos os cidadãos. Segundo Mainardi (2007b), quem tem de se sentir culpado pelo assassinato do menino carioca é o estado (p.113). Não. Como diz Bauman (2007), a sociedade não é mais protegida pelo Estado, ou pelo menos é pouco provável que confie na proteção oferecida por este (p.30). Todos nós somos culpados, quanto povo ainda mais porque não exigimos nossos direitos. Quem tem que fazer alguma coisa somos nós, a parte afetada. O Estado é adormecido e míope para as demandas do povo, porém no que diz respeito ao voto, o que é de seu maior interesse, ele é bem desperto. Não é à toa que temos um sistema de votação e apuração de votos tão sofisticados que não existe nem em alguns países de primeiro mundo. Todo esse aparato quando, geralmente, não temos opção, assim, sempre elegemos os políticos pelo critério dos melhores entre os piores.
O Brasil se chocou, mas não parou em protesto, continuou funcionando como se nada tivesse acontecido. Na opinião de Mainardi (2007a), a primeira medida a ser tomada pelo poder público deveria ter sido cancelar o Carnaval, decretando luto oficial (p.101). Somos a sociedade dos chocados, mal passa o efeito de um, logo vem um outro. Mas, do que adiantam as lágrimas, este humanismo todo se não fazemos nada de concreto para tentarmos modificar esta realidade? Nossos protestos, além de raros, quando acontecem não tem força, são mixurucas. Somos pacíficos, ou melhor, passivos demais para o meu gosto, no entanto efusivos em demasia para os carnavais, etc. Na verdade um povo superficial e imediatista, falamos muito (e mau) e agimos pouco. Temos vergonha de mostrar nossa dor e desamparo coletivo, mas acatamos o engodo de que somos, apesar de tudo, alegres e cordiais.
No depoimento dos pais de João, diante da espantosa imparcialidade da Fátima Bernardes, dona Rosa pedia para que os políticos tratassem o João como um filho. Mãe!!! Infelizmente, claro que não. Seus filhos estão a salvo desse risco, muitos de tão protegidos moram no exterior. No domingo de carnaval, o Governador do Rio estava num dos camarotes do Sambódromo se vangloriando de oferecer ao mundo uma festa genuinamente brasileira. Enquanto isto o prefeito na passarela não se cabia de tanta alegria, e, tentando alguns passos, se disse somente desengonçado para o samba. Fez questão de frisar: Mas, não para a política. O que é obvio, não só ele, mas a maioria dos seus pares tem um excelente “jogo de cintura”. De tal modo que muitos tiram à última “gota de suor” de vantagens dos cargos, do que podem, e até do que não podem e nem devem. Agora, para “sambar”, para aquilo que diz respeito às necessidades dos cidadãos, eles são sempre desengonçados, porque quem samba, ou melhor, quem “dança” mesmo somos nós, povo.
Numa cidade como o Rio de Janeiro, os desníveis sociais ficam mais explicitados. As favelas se encalharam como balões velhos e murchos nos picos dos morros que circundam as ricas crateras. Parece uma Serra Pelada (assim descreveu uma amiga). O pessoal trabalhador das favelas se prostra ali para garimpar não ouro, mas algum “latão” para sobrevivência. Para ficar mais próximo do trabalho, ou seja, da classe dominante a qual serve. Assim, economiza tempo e alguns trocados, e ainda está perto do Centro da cidade e das praias badaladas. Se esta estética faz a paisagem contrastante, é possível imaginar o que se aloja no seu bojo. Certamente, o favelado que trabalha para o burguês, inveja as suas posses. E este, por sua vez, é obrigado a ter contato com essa gente porque precisa de secretária do lar (eufemismo inútil para suavizar o peso do estigma de empregada doméstica), babá, motorista, porteiro, etc. Estes que, quase sempre, têm de negar que moram na favela para conseguir o emprego. Queriam o quê? Que residissem na Vieira Souto?
Como uma espécie de tira ou fita de Moebius3, o dentro e fora (pobreza e riqueza) infinitamente se vêem. Quem sai da favela dá de cara com os bairros classe média, nobre e vice-versa. O pobre da favela está o tempo todo se confrontando e se afrontando com o que lhe falta no reluzente da ostentação que é obrigado a vê da janela do seu barraco, etc. Fora a “provação” dos turistas que sugerem ter poder de compra para consumir o melhor daquilo que o nativo raramente ou nunca terá acesso. Porém, assim como na tira, estão somente aparentemente juntos, íntimos, mas nunca se tocam. Essa convivência é bastante angustiante para ambos, um porque não tem, e outro porque tem, e teme que lhe seja, de uma hora para outra, arrancado. Noutras cidades, intencional ou não, a pobreza, feito lixo, é colocada para longe das vistas dos privilegiadas. O que dificulta o trânsito desses “indesejados” nas cercanias das suas fortalezas. Jabor (2006) diz: No Rio, sofro mais com a visão da miséria. Em São Paulo, é menos visível: suas favelas são longe do Centro ou se escondem sob montes de lixo debaixo de viadutos (p.144). Ou seja, todo refugo, incluindo o lixo humano, tende a ser depositado indiscriminadamente no mesmo local (BAUMAN, 2007, p.47).
A civilização mostrou-se incapaz de garantir a utilização moral dos poderes que trouxe à luz (BAUMAN, 1998). Diante da injustiça explícita, os menos castrados pela cultura, não aceitam o seu desnível, e se tornam amorais. Os valores estão deteriorados, e assim, ele revida ao preconceito e a exclusão com toda força agressiva. Não existe mais esperança e fé, como diz Nietzsche “Deus está morto”. Parece-me que Deus está morto exatamente por ter sido colocado pela Bíblia como símbolo de justiça. Para quem tem meios de subsistência, é bem mais fácil aceitar Deus, ele parece, de fato, justo. Porém, Deus foi sendo desafiado dia a dia diante do disparate social: uns com tanto, e outros com quase nada, sem teto para se abrigar e nem pedaço de pão para aplacar a fome. Como tomar a cola do menino da rua? A cachaça do mendigo? Ela é a companheira, a família, o amparo para tanta frieza e hostilidade. Logo, os preceitos da religião deixaram de ser as rédeas que mantinham submissos ou cordeiros pelo temor, pobres, miseráveis, remediados, etc.
Esta história de que os últimos serão os primeiros, nos dias de hoje, faz gargalhar até criançinhas de jardim de infância. A relação com o divino também tem o viés do poder simbólico que passa pela barganha. Não importa o ato criminoso ou pecaminoso em si, desde que Deus seja reconhecido como um ser superior. Na sua infinita tolerância Deus redimirá o criminoso do seu crime, e o pecador do seu pecado, bastando para isto que se tenha a humildade de lhe pedir perdão. Um assassino poderá renovar sua purificação a cada crime que comete através dessa concessão. O homem já o faz por meio do indulto, em outras palavras com um tipo de Nada Consta, a exemplo do ex-casal Guilherme de Pádua e Paula Thomaz que assassinaram a filha da autora Glória Perez, a atriz, de 22 anos de idade, Daniella Perez. Assim, perante a justiça estão “limpos”, e se tiveram a disposição para o e-nor-me trabalho de pedir perdão, também para Deus. Pelo menos em relação ao Pádua, tudo indica que sim, hoje ele está casado, e se tornou evangélico. Ou seja, sem pecado e, se achando melhor do que o Marcola, tem o seu lugarzinho garantido no reino dos céus.
O vagabundo hoje conta com a total vulnerabilidade da vítima, esta que é instruída a não reagir. A população até que aceita ser violada nos seus bens materiais. Mas o bandido brasileiro de tão perverso e quase certo da impunidade, ao som de um grito de socorro de reação e/ou de uma ação ao seu ataque, ao invés de fugir como fazem seus colegas de “profissão” no exterior, ele mata. Talvez por isso que tantos turistas estrangeiros no Brasil “dançam” por acharem que o constrangimento o afugente. Os gringos não sabem que tem de deixá-los em paz, ao invés de atrapalharem sua performance com “gritinhos histéricos”. Eles desconhecem a “lei” de que aqui é para ser furtado, mesmo, e dá graças a Deus quando também não lhe “roubam” a vida. Até porque essa é a praxe, de algum modo o brasileiro está sempre sendo lesado ou roubado. Enquanto um terço trabalha, dois estuda como tirar-lhe o resultado deste esforço, sejam por meios legais ou ilegais. Isto é, quem produz, colabora com o emperrado crescimento deste eterno emergente país, é sempre punido. Pelo menos os bandidos oficiosos são mais “honestos”, explicitam sua ilegalidade.
Tem gente que já sai de casa com o dinheiro, um valor menor no bolso ou na bolsa, para o ladrão. Muda a posição do relógio, ou até anda com manequim no carro, para dar a impressão que não estar só. Mais do que meio de proteção, é um gesto que o disponibiliza para a vitimização. Enfim, uma série de macetes, por vezes esquisitos, mas necessários para despistar os fora da Lei. Mas, “o mal não é todo-poderoso. Pode-se resistir a ele” (BAUMAN, 1998, p. 236). Ao invés de protestarmos, exigirmos a proteção dos órgãos estatais, federais, nos subjugamos ao medo. Enquanto pagamos para termos segurança e não a temos, o governo seguramente tem o nosso dinheiro através dos impostos, além do que o Leão abocanha na moita, o embutido em toda mercadoria que consumimos.
Nessa insegurança, o trabalhador é o “marginal”, por isto fica a maior parte do tempo em casa trancado, e mesmo assim ainda é atacado. Anda assustado, paranóico, não tem direito as ruas porque estas estão tomadas pelos vagabundos que fazem à festa da delinquência. Isto é, um país em guerra, sob a máscara climática de uma alienada euforia. Segundo Bettelheim e Frankl (apud LASCH, 1987), no terror sistemático, dos campos de concentração muitos prisioneiros sofriam uma espécie de morte emocional, que forçava homens e mulheres a viver como as crianças, apenas no presente imediato, sem pensar no futuro. Na verdade essa morte emocional já nos ocorreu, na excitação resignada de aproveitar ao máximo cada segundo antes que nos dêem cabo por meio de assalto, trânsito “assassino”, bala perdida, etc. Enfim, temos que resgatar o respeito e o direito à vida, e garanti-la na sua totalidade de liberdade dignificada, ou estaremos como prisioneiros de campo de concentração esperando passivamente como patinhos a vez do nosso sacrifício.
A instrução precária, aliada a baixa remuneração apenas colabora para causar frustração material cuja saída pode ser a prática de roubos e furtos, mas não é o seu fator fundamental. Antes de qualquer sentimento ou respeito moral e ético, são considerados apenas os próprios prazeres e satisfações. Para Costa (2005), o indivíduo está subordinado a esse princípio, e assim, cede à ilusão de associar aquisição de objetos materiais à felicidade (passin). Mas, não é toda a verdade de que “os jovens pobres esmagados pelo desemprego e subemprego crônicos buscam na rua os meios de sobrevier e realizar os valores do código de honra masculino, já que não conseguem escapar da miséria cotidiana” (WACQUANT, 2001, p.8). Nas últimas quatro décadas em que cresceu a participação dos adolescentes no crime, aumentaram também o grau de escolaridade e a sua inserção no mercado de trabalho (JOLY, 2007). Ou seja, por si sós, estudar e trabalhar são incapazes de diminuir as taxas de violência. Hoje fica evidente que muitos jovens não delinquem por necessidades básicas, mas para possuírem, a qualquer custo, as benesses do jovem burguês. Para Misse (apud JOLY, 2007), o menino não assalta porque não tem um sapato, mas sim porque deseja ter um tênis de grife (p.80), isto é, a defesa anti-social está organizada, sobretudo, de ganho secundário (WINNICOTT, 2002).
Sobre o filho, o pai de E., acrescenta: Ele não precisava disso. Estava estudando e ganhava dinheiro lavando carros (BORTOLOTI, 2007, p.50). Precisar, mesmo, não precisava desde que ele se contentasse com “feijão e arroz”. Mas, ele também tinha um outro ofício não tão visível: assaltava, e com desmedida perversidade. Castro (2002), diz que é impreciso afirmar que a miséria, a penúria de bens materiais, a falta de perspectivas como causa dos atos infracionais, mas se conclui que é uma condição que vulnerabiliza. Ainda para a autora, quando o jovem comete um ato infracional grave, houve inúmeras falhas: as políticas sociais básicas, o lazer, a escola, o estado, a sociedade; todos nos estamos implicados (p.123). Sem dúvida isso é um fato, no entanto acarreta uma outra falha quando não o punimos adequadamente conforme a sua infração.
A sociedade, como um todo, está gestando monstros sejam pobres, remediados e ricos. Estes queimam índio e homossexual, espancam doméstica por julgarem que é prostituta (como se profissional do sexo devesse ser espancado!), etc. Ou seja, esses machos de “meia tigela” fazem o diabo, porque não conseguem atear fogo ou espancar a própria homossexualidade latente ou ego-distônica, as suas ignorância e imbecilidade. E os pais que os apóiam, se tornam imediatamente cúmplices, portanto, são igualmente monstros de defendê-los sejam lá por quais justificativas forem. É a velha história do duplo vínculo, dos dois pesos e das duas medidas. Ou seja, foram criados não tendo como parâmetro uma suposta verdade, mas num jogo de interesses, e de corrupção moral.
Para explicar a violência dos delinquentes ditos bem-nascidos, Vilhena (2007), diz que estão combinados: Primeiro, a falta de limite e valores nas famílias; segundo, a ideia de que negros e pobres são cidadãos de segunda classe. Este discurso, além de já muito batido, é superficial ou não acrescenta nada. O meio social pode ser favorável, mas não é determinante. Crianças e adolescentes que se criam sem ou em péssimas estruturas financeira, psicologia e emocional, apesar de viverem às margens da sociedade, a maioria não se torna bandido. Os jovens pobres que enveredam no crime, como foi visto, é mais por motivos supérfluos do que por razões de subsistência. Na realidade há uma insatisfação geral, numa sociedade de valores morais depauperados, que perdeu o rumo, e está fortemente orientada para a posse, num contexto cujos maus exemplos que vem de cima, e a impunidade campeiam. Como diz Crema (2003, p.125), a crise que vivenciamos é a da pequenez de alma. Perdemos de vista a vastidão do projeto humano.
Para Costa (2005), no cenário moral de hoje, a equação quase se inverteu. Para muitos indivíduos, desejável é o que pode ser sensorialmente experimentado como agradável (p.194). Vende-se a promessa de que a riqueza trás o gozo pleno, a isenção de qualquer dor física, psicologia e existencial. Assim se formam dois grupos: os dos pobres e/ou favelados, carentes e odiosos porque não têm bens materiais; e o outro grupo, dos “filhinhos de papai”, que têm posses, mas, são odiosos tanto quanto os pobres, porque quererem mais. O segundo grupo é capaz de citar uma lista de quem têm, por exemplo, os últimos modelos de carros das marcas mais luxuosas do mundo, o primeiro grupo apenas sabe que existe. Mas, ambos parecem se torturar com as imagens do que existe de mais caro, de melhor e de mais prazeroso no mercado. Para Weber e Elias (apud LIPOVETSKY, 2005b), nas sociedades aristocráticas, o luxo não é algo supérfluo, é uma necessidade absoluta de representação decorrente da ordem social desigual (p.34). Diria que, se de um lado há a necessidade de ostentar; do outro, em consequência disto, de se apossar ou violar.
Pode não ser o caso dos assassinos de João Hélio, mas muitos pais estimulam a bandidagem dos filhos. Se um adolescente sem atividade legal ou informal remunerada, chega em casa com bens matérias, etc., e não justifica convincentemente essas posses. Logo, sua origem é no mínimo duvidosa. Ou ele está envolvido em ilegalidade, ou em profissão a exemplo do michê4 que, embora marginalizada pela sociedade, pode ser exercida com honestidade. É só uma questão moral de a família aceitar ou não. Cada um se defende com o que quer ou com os recursos que considera mais negociável, no caso o corpo.
Em geral, os pais não estão inocentes da delinquência do filho, e que alguns são “alheios” ao seu comportamento em quanto deste tiram vantagens. Porém, quando ele, de repente, fracassa na sua história de crimes, aí vem o “Nós não sabíamos”. As pessoas tentam manter o mito de que pobre é sempre honesto, e que gente de posses e educação não pode ser pilantra, etc. Tomei conhecimento de uma família que tem negócios, e uma confortável condição de vida proporcionada pelas transações ilícitas de dois dos seus membros. Até aí nada de excepcional. Quantas famílias nesse Brasil afora não recorrem a esse modus operandi ou usam fachada de legalidade? O interessante nesse caso, e que uma irmã fez curso de enfermagem com o único objetivo de atender os irmãos assaltantes e/ou seus comparsas em situações de possíveis ferimentos em eventuais confronto com a polícia.
Recorrer a um hospital, decerto, indicaria suspeito. Estes bandidos principais - porque toda clã é bandida - estão presos, mas não afetou o seu padrão de vida. É estranha essa assepsia de excluir o grupo familiar da jogada. Penso que, na maioria das vezes, mesmo que indiretamente, alguns são coniventes, seja porque se beneficiaram ou porque fizeram a tal “vista grossa”. Em alguns casos também para enriquecer rápido, basta se engajar na “mágica” da política ou está a ela associada. Assim, pai fora do poder é igual a filho pobretão, mas chefe de família no poder... O filho do presidente da República, por exemplo, foi agraciado pelos deuses, considerando o que a imprensa tem divulgado parece que está milionário. Este sujeito deve ser um fenômeno, como sugeriu seu genitor, o problema é que ninguém desconfiava da sua genialidade. Isto é a mídia “maldosa” que fica inventando coisas. Bem feito. Veto à sua liberdade de expressão.
Não parece justo denominar os animais de irracionais, e considerar esses assassinos selvagens, isto é uma ofensa aos bichos, além de descaracterizá-los uma vez que os mesmos raramente são perversos ou cruéis. Mas agressivos por necessidade de sobrevivência e autoproteção. Nesse sentido, “a ferocidade não é pois belicosa, mas sim, temerosa. Acima de tudo ela é incapaz de declarar a guerra” (DERRRIDA, 2004, p.229). O adjetivo monstro é o mínimo que pode se adequar a esses assassinos. João Ubaldo Ribeiro (2006), diz que a sociedade irresponsável que nasceu da conjunção da psicanálise e da sociologia de boteco. Não se ouve falar que alguém seja ruim, ninguém e responsável por seus atos, todo mundo é condicionado a fazer alguma coisa (p.11). Somente pais muito dignos são capazes de admitir de ter produzido monstro. Também não é nenhum ato heróico entregar um filho já “estragado” à polícia, é até mais conveniente. No estágio em que isto acontece apenas à força policial é capaz de conter mais estragos.
Mas, os atuais comportamentos criminosos não se dão isolados, em parte são respaldado pela nova identidade social. Hall (2005) distingue três concepções de identidade:
a) Sujeito do iluminismo - é centrado, unificado, dotado de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia de um núcleo interior que permanece contínuo ou “idêntico”. Concepção muito “individualista” do sujeito e de sua identidade;
b) Sujeito sociológico - refletia a complexidade moderna e a consciência de que não era autônomo e auto-suficiente, mas formado na relação com “outras pessoas importante para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos da cultura que habita. O sujeito ainda tem uma essência que é o “eu real”, formado e modificado no diálogo contínuo com os mundos das culturas “exteriores”, e suas identidades que eles oferecem. Isto estabiliza os sujeitos e os mundos culturais, de modo recíproco mais unificado e predizíeis;
c) Sujeito pós-moderno - sua identidade que antes era vivida como unificada e estável tornou-se agora fragmentada; composto não de uma única, mas de várias identidades, por vezes contraditórias ou não resolvidas. O processo de identificação se mostra mais provisório, variável e problemático. O sujeito pós-moderno, não se concebe como tendo identidade fixa, essencial ou permanente. Mas como uma “celebração móvel”: formada e transformada de acordo com as representações que o rodeia. Assume identidade diferente em momentos diversos, que não são unificadas de forma coerente com o seu “eu”.
Esta identidade pós-moderna reforça a ideia que os meios justificam os fins. Uma vez que a mesma é fragmentada, uma parte pode desconhecer o que a outra faz. Mas, também, não há culpa em reconhecer porque prevalece em todo contexto social a ideologia dessa moral egocêntrica.
Na compreensão de Wacquant (2001), o Brasil nem sempre foi um Estado de direito digno do nome. Devido às duas décadas de ditadura militar a mentalidade coletiva, no conjunto das classes sociais tende a identificar a defesa dos direitos do homem com a tolerância à bandidagem (grifo do autor). Esta observação caso se refira ao indivíduo produtivo que cometeu algum deslize ou um crime passional sem perversidade, tem razão de ser. Mas com referência a sujeitos, a exemplo dos assassinos do João Hélio, do Vinicius, da Liana Friedenback e tantos outros. Por vezes, parece exacerbada essa intenções de defesa. É justo chamar sujeitos desse porte, ou um outro que estupra e estrangula um bebê das dependências de uma igreja, de humanos, gente, civilizados? Direitos humanos para quem é, ou ainda lhe resta algum traço do que se identifica humano. Mas, para quem não tem um mínimo de empatia pela dor do outro, ou seja, para monstros, a ideia de defesa de direitos humanos soa como um aforismo.
Segundo Bettelheim (apud LASCH, 1987), os campos de concentração ensinaram uma “lição” não apenas em relação aos nazistas, mas também da influência do meio ambiente sobre o homem, bem como da sociedade correr o risco de extinguir-se ao se reduzir a uma massa amorfa. O que os canalhas atuais estão fazendo aos cidadãos, é exatamente isto, tornando uma massa indefesa, medrosa, a mercê dos seus caprichos sádicos. Com uma espetacular hierarquia e organização, controlam o tráfico até de dentro dos presídios, e se dão ao luxo de promover ataques a determinados segmentos institucionais, deixando toda sociedade em pavorosa.
Pela exposição ao perigo e a impunidade, o medo, embora por vezes se revele através da síndrome do pânico, foi vulgarizado e incorporado ao cotidiano. Os prisioneiros dos campos de concentração sempre estavam prontos a recorrer a qualquer meio, honesto ou não, para salvar sua pele (FRANKL apud LASCH, 1987). Aqui, segundo o Datafolha, 56% da população tem mais medo do que confiança nos policiais militares (PEREIRA, 2007). Daí, o fato de se submeter aos paramilitares, esses grupos de milicianos que dominam cerca de oitenta favelas no Rio, e que são liderados por policiais e ex-policiais. Assim, não satisfeita em corromper-se, a polícia da cidade agora concorre com a bandidagem que, por vias tortas acabou mostrando que é possível acabar com o tráfico de drogas, ou seja, é admitir a total falência do poder público (FRANÇA, 2007).
Segundo Castro (2002), o modelo socioeconômico e cultural dominante, cujo grande valor se insiste em anunciar na mídia, é possuir bens que a maioria jamais terá acesso, e isso agrava mais a situação dos adolescentes brasileiros. Diria que isso ainda é mais agravado na atualidade quando as propagandas estimulam a quebra da ordem e do respeito à moral. Desde cedo inculca na criança a desonestidade na relação com os pais, para tirar vantagens sobre eles, como sendo natural. Num comercial um garoto combina com os coleguinhas para burlar sua mãe e conseguir mais biscoitos. Feito isto, ele adquire literalmente a cara de bolacha, e posa de herói para a genitora que, na sua lerdeza amorosa, não percebe a tramóia. Ou seja, com a cara cínica, burlando a moral e as autoridades, ele pode obter ainda mais as delícias da vida. Numa outra, um menino de pais separados, a mãe capricha no seu treino do uso dos talheres, pois o mesmo vai almoçar com o pai. Este ao se dar conta de que o filho está pouco à vontade com o aprendizado desse ritual, o libera. O garoto pega com a mão uma tenra coxa de galeto. Ou seja, para saborear o apetitoso se dispensam as etiquetas, estas que só parecem atrapalhar.
De volta para mãe, esta cisma que algo não ocorrera bem, o menino disfarça as mãos ainda sujas. Pelas costas da mulher o pai faz um aceno para que o filho mantenha esse segredo que é somente deles. Ou seja, os pactos de camaradagem ilícitos são perfeitamente tolerados quando trás benefício para os envolvidos. A mensagem reforça a cumplicidade pai-filho, portanto, entre machos, reduto que ela jamais poderá compartilhar como mãe ou mulher. Enfim, a mãe é desqualificada, e ainda termina por incorporar a figura da chata, da megera, porque quer, no caso, o melhor para o seu filho. Assim, a escola da desonestidade começa em casa, nesses pequenos, mas significativos atos legitimados indireto ou ostensivamente pelas próprias figuras de autoridade.
Nessas propagandas as mães foram ludibriadas. Mas, no geral - o que vou dizer poderá parecer radical -, são as mães as maiores responsáveis pelos comportamentos anti-social ou delinquente dos filhos, sim. Devido a sua carência afetiva, falta de companheirismo dos parceiros, e a dupla ou mais jornada de trabalho, elas se debruçam no filho. Tem neste o amante imaginário, a compensação para tudo que não lhe gratifica. As mães estão na base da formação dos filhos, e os acompanham por mais tempo. Elas confundem amor com a excessiva tolerância, e permitem tudo aos filhos. Diria que ame seu filho sem rédeas, e terás para sempre uma besta-fera. Observo inúmeras atitudes protecionistas, e, às vezes, também perversa das mães em todos os níveis sociais e culturais. São atitudes extremamente prejudiciais para a independência e formação da consciência moral da criança e do adolescente. Se as mulheres mães tivessem uma maior satisfação e liberdade sexual - as fêmeas sempre foram injustiçadas e cruelmente castradas ao longo da história. Embora hoje elas gozem de alguns direitos de igualdade, mesmo assim, ainda há o ranço do machismo, até porque elas mesmas o reproduzem uma vez que o tem introjetado.
Assim como respeitadas enquanto pessoas, e menos colocadas na condição de objetos sexuais - equivocadamente elas sentem a traição como resultado de sua menos valia5. Enfim, se sentissem amadas (a maioria vive sob a angústia da certeza ou da inquietude na dúvida de serem traídas) pelos parceiros, e não sobrecarregadas de atividades, teríamos menos jovens dependentes químicos, e delinquentes, etc. E, em decorrência disto, menor inchaço da população carcerária. As mulheres mães e esposas nas portas dos presídios, tão dedicadas aos filhos e maridos, desconhecem do quanto às próprias carências e deturpação do seu afeto têm a ver com o fato dos mesmos estarem ali. Diz o clichê: “Por trás de um grande homem tem sempre uma grande mulher”. Eu diria que também o inverso é corriqueiro: “Por trás de um grande bandido, de um delinquente, de um desajustado, tem sempre uma mulher neurótica em alto grau, etc., em particular uma mãe que falhou na leitura e na execução do seu script”.
Para os muitos de menores é uma afronta deter uma estrutura de poder simbólico: jovens, geralmente encorpados - devido ao culto do corpo hoje democratizado em todas as camadas sociais -, mas, não real. Não existe mais inocência, assim sendo a não aceitação da redução da idade penal para 16 anos, é desconhecer a atual precocidade social e afetiva-sexual dos adolescentes. É tentar negar esse novo tempo, prova dessa mudança é que ele pode votar. Uma contradição: Ele é suficientemente maduro para escolher um presidente da república imbecil ou não, que vai conduzir o “destino” da nação, mas é incapaz para se responsabilizar pelos seus próprios atos? O jovem de hoje não só é mais crescido como também muito mais malicioso. É mais livre, aprende bem mais, e mais cedo, têm acesso a um número maior, e mais diversificado de informações na Internet, e outros meios de comunicação. Sabe o que é politicamente correto, se assim não age é porque não se esforça, e aproveita das brechas na Lei, e do protecionismo. Qualquer menino de rua ou na rua é conhecedor dos seus direitos. A maioria deles quase como uma oração sabe decor e salteada da proteção, pelo menos em tese, que o Estado lhe destina.
O cidadão que tem o que perder, não pode andar armado, o assaltante sabe disso, e aumenta o poder da sua ação criminosa, quando da posse da arma, assim realiza sua catarse ou descarga de ódio. Ou seja, assaltar, roubar e matar, como diz o ditado: “É mais fácil do que tirar pirulito da mão de guri”. Agora a pouco, uma garota de quinze anos, que sonhava ser delegada, foi assassinada com um tiro na cabeça na porta do seu colégio, disparado por um menor “inocente” musculoso de 1,80 m, ao resistir de entregar-lhe seu celular. Lipovetsky (2005a) salienta que o momento presente amplia as tendências à exclusão e à marginalização. Os analistas atribuem esse fenômeno ao aumento da pobreza pela concentração de renda e a desorientação pessoal pela perda dos valores tradicionais.
Mas Costa (2005) discorda, para ele “a delinquência seria um efeito da avidez por objetos supérfluos e o culto ao corpo efeito do fascínio pelas imagens corporais da moda, ambos estimulados pela publicidade” (p.131 - grifos do autor). Ainda para o autor, nesta sociedade de consumo hedonista e narcisista, não existe, propriamente, perda de valores, mas uma re-hierarquização dos valores tradicionais sob o dossel da moda e da mitologia científica. A maioria dos indivíduos urbanos elegeu o bem-estar e os prazeres físicos como a bússola moral para sua vida, que ele chama de personalidade somática de nosso tempo (grifo do autor).
Mas, se fosse apenas uma nova hierarquia de valores não provocaria esse caos. Estaria em conformidade com a máxima da matemática de que a ordem dos fatores não altera a soma. A questão é que as escolas “...não mais podem asseverar que a educação promete a mobilidade social ascendente” (LASCH, 1987, p.187). Esta sociedade temerosa, vulnerável e injusta, de alguma forma, estimula toda ira e crueldade marginal. Sob a pressão do consumo, este que implícita a promessa da felicidade plena, diante de valores já deteriorados não consegue conter a violência. Por que um indivíduo de menor, na verdade grandalhão, emocionalmente embotado, livre das rédeas morais, e acreditando na impunidade, não arriscaria em satisfazer suas necessidades e desejos? Apenas, é oferecido um cardápio de possibilidades para que o menor abrace o crime.
Para Arendt (apud LASCH, 1987), a maldade de tão profunda soterra qualquer categoria convencional de pecado, e derrota as tentativas de imaginar uma punição adequada. São os denominados menores que saem de arma em punho, não para brincar de bang-bang, mas para satisfazer o seu desejo sobre inocentes e indefesos, sentindo prazer pelo medo e violência que causam. Têm a necessidade de chocar, e tripudiam suas vítimas. Esta violência do menor, ou mesmo sendo usado como instrumento dela está em toda parte. Alguns acham que somente as vítimas e suas famílias perdem com a violência, mas é o país como um todo, o sentimento de humanidade, honra e justiça. Enquanto não nos percebermos como um todo, nenhuma força poderá ser mobilizada. E a nossa dignidade rola na lama da brutalidade, e nos envergonha perante o mundo. O Brasil que é “um só coração” no futebol, e pára para vibrar e comemorar as suas vitórias, ainda não se “tocou” de aceitar esta causa como nossa.
Wacquant (2001) diz que a urgência do Brasil é lutar em todas as direções não contra os criminosos, mas em relação à pobreza e a desigualdade, isto é, contra a insegurança social que impele ao crime e normaliza a predação que alimenta a violência. E porque estas coisas não podem ser feitas concomitantemente? A punição deve ser prioritária aos criminosos sejam os que matam com arma de fogo ou branca, mas também aos que matam pelo desvio de verbas, corrupção, etc. Estes crimes fazem aumentar a pobreza. Depois, porque ser ou estar pobre não é sinônimo de bandidagem, muitas vezes, mesmo que estando abaixo da admissível (o que também é um absurdo) linha da pobreza.
Para Epstein (2007), a lei deve proteger pessoas porque são incapazes, e não porque são jovens. Não é possível um jovem de 13 anos cometer um crime e ter total capacidade de entender o que fez? É claro que é”(p.114). Ainda para o autor, “não podemos culpar a idade do cérebro pela irresponsabilidade dos jovens” (ibid). Se um adolescente é capaz de praticar um crime com um requinte de perversidade e premeditação que seria típico do adulto, então parece sensato que ele responda a altura, isto é, que tenha uma punição a este nível. Afinal, “crime é crime: todos devem ser punidos com o mesmo rigor” (MAINARDI, 2007a, p.101). Nesse sentido, nos Estados Unidos, “em 26 dos 50 Estados, além de a maioridade penal estar abaixo de 18 anos, o juiz pode decidir, de acordo com o crime, se o autor deve ser julgado como adulto” (LOYOLA, 2007, p.141). O americano Charles Williams, de 15 anos de idade, que matou dois colegas e feriu mais 13 na escola. Foi condenado desde 2001, só saíra da cadeia quando tiver 65 anos (idem, ibid).
Para Foucault (1983), as prisões ao invés de diminuir a taxa de criminalidade, aumentam, e que provoca reincidência – uma vez preso tem mais chance de voltar para ela. Que a prisão fabrica delinquentes, onde há abuso de poder. No que é corroborado por Albergaria (apud TERRA, 1999), de que a pena de prisão determina a perda dos direitos fundamentais de liberdade e igualdade que representa a degradação da pessoa humana. Mas deve ter direito a liberdade o indivíduo que faz jus, que é digno para tal. Este princípio é básico, o criminoso tem que ser punido com o rigor da Lei sem distinção de cor, credo, condição sexual e nível social. A premiação é inerente ao bom comportamento, bem como a punição aos maus comportamentos. Se deixar de seguir essa orientação, agir com ética ou na ilegalidade não irá fazer diferença, desde que se tenha um ganho, mesmo que seja apenas pelo desejo da transgressão. Como diz Deleuze (2006), as condições que tornam a maldade possível confundem-se com um estado social determinado (p.74). Ainda para o autor, toda maldade é lucro ou compensação. Não há maldade humana que não se inscreva em relações de opressão, conforme interesses sociais complexos (ibid - grifo nosso). Se o sistema de carceragem não funciona, aí é um outra historia. Tem que ser melhorado para atender seu objetivo principal que é de reintegração do sujeito à sociedade.
A insatisfação psicológica faz parte do hábito de consumir. O indivíduo moderno tem de sentir insatisfeito, do contrário, correria o risco de se tornar anti-social (BAUDRILLARD apud COSTA, 2005). O social catequiza com ideais de consumo que a realidade frustra. A educação devia se prestar ao cuidado de não propagar ilusões, numa sociedade que tem como dote uma forte hipocrisia. Nenhuma aquisição de riqueza ou droga - mesmo que se use a religião com tal - vai tamponar a angústia do existir. A violência também é fruto do choque dessa promessa, junto à falta de uma sustentação moral sólida, coerente. Do mesmo modo que, da violência simbólica na família, na escola, e das impunidades e das injustiças sociais. Essa violência somos nós. Não é à toa que a droga é consumida equitativamente pelos jovens de todas as classes sociais. Num contexto em que se “aprendeu a acreditar que a felicidade é sinônima de satisfação sensorial” (COSTA, 2005, p.185-6).
Para Costa (2005), os delinquentes fazem, na realidade, o que grande parte de nós faz na fantasia (p.175). Então seríamos todos potencialmente desviantes? Não acredito nisto. Mas, a violência explícita é decorrente das inúmeras violências simbólicas: Quebras de normas ou princípios, tolerância às pequenas infrações e ilegalidades. No entender de Weil (2003), tem normas que são benevolentes e outras definidas como normose. São conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar e de agir, que são aprovados por consenso, mas que provocam sofrimento, doença e morte. Em outras palavras, são todos aqueles comportamentos que, de tão frequente, embora prejudicial, deixou de ser questionado, tornou-se uma patologia da normalidade, foi incorporada e já não se consegue perceber ou se incomodar com esse seu caráter patogênico. Para este autor nos tornamos autômatos normóticos.
Finalmente, se para Nietzsche Deus está morto, com base em Reich diria que todo dia se crucificam “Cristos”. Porém, não podemos deixar de emocionarmos com essas tragédias, bem como também de tomarmos providências. Nesse sentido, para uma mudança efetiva a única resposta apropriada é um compromisso coletivo com a paz e a justiça, com o mundo no qual se possa viver com dignidade (LASCH, 1987). Ou correremos o risco de ficarmos cada vez mais anestesiados, tolerantes à violência absurda da bestialidade humana. Segundo Janina (apud BAUMAN, 1998), a mais dura das lutas é a de continuarmos humanos em condições inumanas. Costa (2005) parece mais otimista quando diz: apostemos na melhor hipótese. Afinal, a futilidade, a ganância e a violência só conseguiram até hoje, empolgar os tolos, os medíocres e os arrogantes (p. 240). Assim, conquistarmos, definitivamente, à ética e a cidadania, é o mínimo que podemos fazer em homenagens a estes que foram tragados pela violência das nossas crueldade e irresponsabilidade cotidianas.
NOTAS:
1. Seria mais adequado usar o termo sociopatas.
2. A Internet por tudo que trás de bom para facilitar nossas vidas, também é um território sem fiscalização e sem Lei no qual mau caráter, covarde, desocupado pode prejudicar a reputação de qualquer profissional digno, ético, sem que nada possa ser feito para ser evitado. O que é uma outra forma absurda de violência.
3. Descoberta em 1865, pelo matemático e astrônomo alemão August Ferdinand Moebius (1790-1868), a faixa serviu como ponto de partida para a topologia, um novo ramo da matemática. As pontas unidas de uma faixa retangular de papel formam um “anel”, com o lado de dentro e de fora sem fim. Mas, se antes fizer um meio giro, e juntar essas mesmas pontas o resultado terá a faixa de Moebius.
4. O termo michê vem do francês miché, que significa a ação de se prostituir; o preço pago à prostituta (AUGRAS, 1995). Atualmente, este termo também usado com referência à prostituição praticada por varões (garotos de programa) que não abdicam das características masculinas (PERLONGHER, 1987).
5. No texto: O Homem, seu “direito” de Trair, e a Mulher Adúltera (http://www.algosobre.com.br/comportamento/), este tema é especificamente discutido.
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