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Cassiano Ricardo

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Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos 1895, e estudou Direito em São Paulo e no Rio de Janeiro. Atraído desde cedo para as letras, aos 12 anos, fundou, em sua cidade natal, a revista "Íris", e quando estudante em São Paulo, "Panóplia". Mais tarde, lançou "Novíssima". Iniciou-se no jornalismo profissional no "Correio Paulistano", vindo a fundar ou dirigir vários jornais no futuro, entre eles "Anhanguera" e "A Manhã". Foi também editor, ensaísta, historiador, estudioso de temas sociológicos, pertencente à Academia Paulista e Brasileira de Letras.

Fez premiar o volume de Cecília Meireles, "Viagem", o primeiro livro de versos modernos que a Academia distinguiu.

Cassiano Ricardo estreou com "Dentro da Noite", aos vinte anos, e nessa obra já se utiliza de versos heterométricos, chega quase ao verso livre, e o seu clima poético é penumbrento, sombrio até, estando assim divorciado da norma parnasiana, ainda imperante.

Cassiano Ricardo Mas sua carreira poética começou mesmo pelo treinamento parnasiano. Depois de muito batucar versos rigorosos e obedecer teimosamente à disciplina da escola, enveredou pela experiência modernista, vindo a destacar-se na nova corrente, que a princípio não conquistara o seu aplauso, como um dos principais líderes das dissidências "Verde - Amarelo" e "Grupo da Anta".

Escreve então "Borrões de Verde e Amarelo" e "Vamos Caçar Papagaios", que são esboços, rascunhos, de "Martim Cerêrê" - uma peça clássica da poesia moderna brasileira, como disse Carlos Drummond de Andrade. Esse poema propunha uma visão épica da história pátria, exaltava o bandeirismo, buscava a mitologia nacional, vinculava-se à civilização cafeeira e à civilização industrial.

 É poema da terra e das grandes cidades, produto eufórico de um momento eufórico, de um instante de crescimento, de formação de uma consciência de grandeza. Cantava uma raça nova, produto da miscigenação, raça que fora anunciada pelos modernistas desde as primeiras horas do movimento e que deveria produzir um tipo especial de brasileiro - esse filho de todos os povos, que era feito de percentagem de todos os sangues - do branco, do preto, do índio e de todos os imigrantes.

 É canto nascido da crença na "democracia biológica", inventada, aliás, pelo próprio Cassiano Ricardo, ou seja, a democracia fundada na ausência de preconceitos de sangue. O poema engrandecedor dessa raça está em "Martim Cererê".

Cassiano Ricardo praticou um "full-time" artesanal que muito lhe enriqueceu o poder de expressão, a ponto de lhe permitir o domínio de vários processos de dicção poética, mantendo-se, porém, fiel à tradição da poesia brasileira que se situa nos polos extremos representados por D. Dinis e Fernando Pessoa. Cassiano Ricardo viveu, intensamente , a poesia e a vida brasileiras, os dramas do homem moderno, os acontecimentos históricos de seu tempo.

Atendendo à estes chamados de sua época, é que foi, primeiro, um contemplativo; depois um intérprete de anseios nacionalistas, animado de entusiasmo, ávido de luz e de cor; e, por fim, um radar sensibilíssimo do convulso e sombrio mundo contemporâneo. Ser poeta, para ele, é um atormentado ofício, que atualmente exerce sob forma interiorizado. Recolhida e depurada, fazendo seus versos, não apenas transferindo-os para o todo coletivo, de que é a voz ou o megafone.