A abolição não correspondeu nem aos receios dos Escravistas, nem as expectativas dos abolicionistas. Não foi catástrofe nem redenção. Gregório Bezerra conta, em suas memórias, a história de que era feitor numa fazenda do Nordeste, onde Bezerra trabalhou quando menino. Ele tinha sido escravo escreve Bezerra: e tinha saudade da escravidão, porque, segundo ele, naquela época comia carne, farinha, feijão à vontade e agora mal comia em um prato de xerém e água e sal.
Fruto de desespero de um homem depois da abolição fora abandonado à sua própria sorte, sem que a sociedade lhe assegurasse as mínimas condições de vida, esse depoimento de um escravo que tinha saudade da escravidão não deve ser entendido como um comentário a favor da escravidão. Ele é, de fato, um testemunho eloquente das condições de vida de que se encontraram muitos ex-escravos, para os quais a abolição representara apenas o direito de ser livre para escolher entre a miséria e a opressão em que viveram (e ainda vivem) em grande número de trabalhadores brasileiros.
Dessa forma, a abolição foi apenas um primeiro passo em direção a emancipação do povo brasileiro. O arbítrio, a ignorância, a violência, a miséria, os preconceitos que a sociedade escravista criou ainda pesam sobre nós. Se é justo comemorar o 13 de maio, é preciso, no entanto, que a comemoração não nos ofusque a ponto de transformarmos a liberdade que simboliza num mito a serviço da opressão e da exploração do trabalho.