Leio Manuel Bandeira quase diariamente
Nessa frase ocorre uma figura de estilo que consiste na substituição de um termo (a obra) por outro (nome do autor). A essa figura de estilo dá-se o nome de metonímia.
Numa metonímia, em vez de designarmos o ser a que queremos nos referir, utilizamos outra palavra que com ele mantém uma relação de significado.
Ocorre a metonímia quando se emprega:
a) o autor pela obras: Detesto ler Paulo Coelho.
(Na verdade, os livros de Paulo Coelho)
b) o continente pelo conteúdo: Bebi apenas dois copos de cerveja.
(Na verdade, o emissor não bebeu os copos e sim a cerveja)
c) o lugar pelo produto feito no lugar: Só toma champanhe no reveillon.
(Champanhe é o nome de uma região da França onde se originou esse tipo de vinho)
d) o efeito pela causa: Vivemos do nosso trabalho.
(Na verdade, o trabalho é a causa e o efeito é o alimento)
e) o instrumento pela pessoa que o utiliza: Em geral, os adolescentes são bons garfos.
(Em geral, os adolescentes comem muito)
f) a parte pelo todo: Seus olhos têm me consumido.
(Na realidade, trata-se da pessoa como um todo e não apenas dos olhos)
g) o material pelo objeto: A porcelana todo branca dava um toque especial ao jantar.
(Os objetos feitos de porcelana)
h) a marca pelo produto: Só usa gilete importada.
(A palavra gilete vem da marca Gillete da lâmina de barbear.)
Observação importante: A metonímia não se confunde com a metáfora. Enquanto a metáfora se baseia numa relação de caráter subjetivo, individual, a metonímia se baseia numa relação lógica, constante entre dois seres.
Perífrase
Observe:
O povo lusitano foi bastante satirizado por Gil Vicente.
Utilizou-se a expressão "povo lusitano" para substituir "os portugueses". Esse rodeio de palavras que substituiu um nome comum ou próprio chama-se perífrase.
Perífrase é a substituição de um nome comum ou próprio por um expressão que a caracterize. Nada mais é do que um circunlóquio, isto é, um rodeio de palavras.
Outros exemplos:
astro rei (Sol) | última flor do Lácio (língua portuguesa) | Cidade-Luz (Paris)
Rainha da Borborema (Campina Grande) | Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro)
Observação: existe também um tipo especial de perífrase que se refere somente a pessoas. Tal figura de estilo é chamada de antonomásia e baseia-se nas qualidades ou ações notórias do indivíduo ou da entidade a que a expressão se refere.
Exemplos:
A rainha do mar (Iemanjá)
O poeta dos escravos (Castro Alves)
O criador do teatro português (Gil Vicente)
Gradação
Surpreso, admira o seu porte, sentindo-se vivo, o maior, o invencível.
Nesse exemplo, o autor caracteriza o porte da personagem, empregando três adjetivos dispostos numa progressão ascendente, isto é, do menos intenso para o mais intenso. Trata-se de uma gradação ascendente ou clímax.
A gradação pode ocorrer também numa progressão descendente, isto é, do mais intenso para o menos intenso, do maior para o menor, do mais distante para o mais próximo. Trata-se, neste caso, de gradação descendente ou anticlímax. Exemplo:
Um grito, um gemido, um sussurro, nada quebrava o silêncio daquele lugar sombrio.
Catacrese
Observe:
Embarcamos no ônibus das 10 horas da manhã.
O verbo embarcar era usado primitivamente para significar apenas "entrar num barco". Hoje, pela falta de um termo apropriado, em diversas circunstância utiliza-se esse verbo para significar "entrar em avião, ônibus ou trem". Essa figura de estilo chamasse catacrese.
A catacrese consiste no emprego de um termo figurado pela falta de outro mais próprio. É um tipo de metáfora cujo uso é tão corrente que não é mais considerada como tal.
A perna da mesa
O dente de alho.
O braço da cadeira.
A asa da xícara.
Eufemismo
Leia estes versos de Camões:
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Ao invés de dizer que sua amada havia morrido, Camões utilizou a expressão partir cedo desta vida. A esse recurso usado para suavizar ou atenuar ideias consideradas desagradáveis, cruéis, chocantes, imorais dá-se o nome de eufemismo.
Na linguagem popular há muitas expressões eufemísticas que substituem o verbo morrer. Exemplos "entregar a alma a Deus", "despedir-se da vida", "passar desta para melhor".
Hipérbole
Leia estes versos de Fernando Pessoa:
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até o fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo...
É evidente que há exagero por parte do poeta quando afirma que clarear até o fim do mundo ou ver a terra inteira. Esse recurso que consiste no exagero proposital das coisas, atribuindo-lhes proporções fora do normal, chama-se hipérbole.
Na linguagem popular, a hipérbole é bastante empregada.
Já falei mais de mil vezes.
Morreram de rir.
Hibridismo
Consiste em formar palavras novas utilizando elementos de línguas diferentes. São exemplos de hibridismos ou palavras híbridas:
Um microondas! Uma televisão! Um automóvel! Para mim?
a) socio logia (latim e grego)
b) auto móvel (grego e latim)
c) alcoô metro (árabe e grego)
O hibridismo ocorre, com frequência, na linguagem coloquial:
sambó dromo (português e grego)
chutô metro (português e grego)
olhô metro (português e grego)
Onomatopeia
Consiste na reprodução aproximada de certos sons ou ruídos por meio de palavras. Exemplos: pum!pum!, tchibum!, zás! bem-te-vi.
Em geral, os elementos dessas palavras duplicam-se:
cricri
reco-reco
tique-taque
zunzum
Sigla
Consiste em reduzir certos títulos e expressões, utilizando a letra ou a sílaba inicial de cada um dos elementos. Esse processo vem sendo cada vez mais empregados nos dias atuais.
ONU: Organização das Nações Unidas.
Ibope: Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
UFPB: Universidade Federal da Paraíba
Abreviação vocabular ou redução
Consiste na redução fonética de uma palavra ou expressão. Exemplos:
apê (apartamento)
foto (fotografia)
cine (cinema)
moto (motocicleta)
bíci (bicicleta)