Sete anos de idade. Meus pais compraram uma enciclopédia Barsa. O resumo do saber do mundo cuidadosamente compilado em dezesseis luxuosos volumes. Sempre manuseado com cuidado, o material foi de utilidade incrível durante toda a minha formação básica.
Sete anos de idade. Minha filha ganhou um notebook. Através da internet, ela tem acesso à maior parte dos conteúdos de pesquisa solicitados pelos seus professores.
No intervalo de tempo entre o início da nossa vida escolar e o de nossos filhos, aconteceram muitas mudanças. Muitas coisas tornaram-se mais acessíveis, mais fáceis. Outras nem tanto.
Difícil mesmo tornou-se identificar o que vale a pena investir para assegurar um bom desempenho na vida escolar de seus filhos.
Eu diria a você: escolha uma boa escola. E também invista num espelho grande, em diferentes folhas de papel, e num lápis bem macio para rabiscar...
Não é uma visão simplista. Ao contrário, estrutural.
Toda estrutura de pensamento que seu filho desenvolver irá necessariamente passar pela visão que ele tem dele próprio. Da imagem que tem de seu próprio corpo.
Difícil é imaginar como a criança constrói uma imagem sobre seu próprio corpo quando não tem um espelho para se ver de corpo inteiro.
Quase irônico é pensar em milhares de famílias, insistindo que seus filhos aprendam a escovar direitinhos os dentes e o cabelo, quando sequer na pontinha dos pés os pequenos conseguem ver seu rostinho no espelho.
Ou escolas de educação infantil, onde não existe um espelho para o pequeno ver-se, de corpo inteiro.
A imagem do próprio corpo será internalizada pela criança, pouco a pouco, com a ajuda de um adulto competente. Nomeando cada parte do corpo com ele – em frente ao espelho. Mostrando, repetindo. E depois reproduzindo.
É numa folha de papel, e com um lápis para rabiscar que seu filho irá aos poucos estruturar o desenho do que ele entende dele próprio. Incentive seu filho a registrar no papel o que ele viu no espelho.
Vale comemorar o primeiro cabeção... Com olhos imensos, que ele registra no papel. Guarde para sempre aqueles desenhos incríveis, dos braços e pernas, diretamente ligados à cabeça...
Parabenize. Cole na geladeira. E volte ao espelho. Diga com carinho: você já fez seus olhinhos e boca, agora vamos desenhar o nariz.
Cada vez que ele conseguir sozinho, lembrar-se de mais uma parte de seu corpo no desenho, elogie. E apresente uma nova parte do corpo: as orelhas, o cabelo.
De todo o processo, parece que o mais difícil é representar o corpo, sem fazer as pernas e braços diretamente ligados à cabeça. Por isso, a importância do espelho. Com tranquilidade, faça-o perceber toda a estrutura de seu corpinho. Em breve, uma barriga enorme - com o umbigo bem demarcado ir - irá fazer parte do seu gracioso desenho.
É um tempo de crescimento. Mais que um desenho qualquer, a representação do próprio corpo, indica, o grau de amadurecimento de uma criança. É através de seu próprio corpo que a criança irá relacionar-se com o mundo que a cerca.
O corpo é o ponto de referência para desenvolvimento da lateralidade e das noções espaciais. É através do próprio corpo que a criança vai aprender a distinguir a direita da esquerda. A partir daí, escrever da esquerda para a direita é possível. Compreender o que é em cima e embaixo também.
Você já se deu conta que muitas letras são apenas uma bolinha com um risquinho? Pense na semelhança do b, d, p, q. São as noções de esquerda e direita, e em cima e embaixo, que irão permitir à criança diferenciar cada uma delas. E é a imagem do próprio corpo que irá permitir criar essas estruturas.
Mas acho que esse é um papo técnico que não interessa a você.
Quer investir em seu filho? Escolha uma boa escola. Mas compre também um espelho grande, muitas folhas de papel, e um lápis macio para ele rabiscar..