Era uma cena linda. A menina tinha menos de dois aninhos. Cabelo cuidadosamente arrumado, uniforme novo, uma pequena mochila. Seu rosto estava radiante. Entrou na escola com o narizinho empinado, confiante que vai descobrir o mundo num dia só.
Um pouco atrás estava a mãe; quieta, introspectiva. Seus olhos marejavam. Entre choros e vozes das professoras, ela se questionava: matricular a filhinha na escola era uma decisão acertada?
Essa é uma cena que se repete, ano a ano, em frente às escolas. Ela não assinala apenas a insegurança natural em afastar-se pela primeira vez de um filho pequeno. A dúvida em matricular o filho pequeno reflete o desconhecimento da sociedade da importância que a Educação Infantil tem na vida da criança. A escola, para alguns, é apenas um lugar seguro de cuidados da criança enquanto a mãe trabalha e estuda. Para outros, é encarada apenas como uma despesa que pode ser adiada, em função do financiamento de um carro novo. Deliberadamente, a criança deixa de ser atendida em uma de suas necessidades mais básicas: a de aprender coisas novas.
Nossas crianças tem direito à saúde. Todas as mamães estão lá, mês a mês acompanhando o crescimento de seus filhos junto a um pediatra, seja através da rede pública ou particular de atendimento.
E o direito à educação? Muitas famílias deixam de oferecer aos filhos um verdadeiro tesouro, por desconhecerem o que existe de tão importante na Educação Infantil. Agem como se cuidado e carinho fossem tudo que a criança precisa para se desenvolver bem. Em especial, se a mãe puder estar com o filho em tempo integral, se contar com a ajuda maravilhosa da vovó, ou ainda, tiver meios de pagar uma babá.
No senso comum, ir à escola de Educação Infantil enquanto as mamães trabalham ou estudam é apenas uma opção à casa da vovó ou a babá. Se a mamãe tem a possibilidade de ficar com o filhote durante todo o dia, pode chegar a ser incompreendida: por que ir à escola tão cedo?
Alguns pais são mais atentos a perceber que seus filhos tem necessidades além daquelas que o ambiente familiar pode suprir. Percebem a necessidade dos filhos de brincar com outras crianças, aprender brincadeiras novas, e diminuir o tempo em frente à televisão. Na escola, a criança desenvolve sua identidade e autonomia, amplia seu conhecimento de mundo, desenvolve a linguagem oral e se socializa. Mas isso não é tudo.
O fato é que os cinco primeiros anos de vida são decisivos no desenvolvimento cerebral do ser humano. Negligenciar a necessidade de apropriar-se de conceitos significa fechar para sempre inúmeras janelas possibilidades e potencialidades. É negar a aprendizagem na época que a criança tem a maior sede por aprender.
Milhares de aulas particulares e acompanhamentos psicopedagógicos, poderiam ser evitados se no momento oportuno – ou seja – nos cinco primeiros anos de vida, fossem desenvolvidos na criança os conceitos e habilidades necessários à alfabetização.
Vale salientar que tais conceitos não são desenvolvidos pela criança de forma espontânea. É necessário o conduzir e acompanhar consciente do professor. Adiar o desenvolvimento desses conceitos para o ensino fundamental é arriscar o futuro brilhante que cada criança tem em potencial.
A importância do profissional que atua nesta faixa etária é tão grande, que os órgãos competentes exigem formação adicional em relação ao professor habilitado para as séries iniciais.
E que conceitos são esses? Imagem corporal; lateralidade; conhecimento de direita e esquerda; orientação espacial; orientação temporal; ritmo; análise-síntese visual e auditiva; habilidades visuais específicas (percepção e discriminação de semelhanças e diferenças, constância de percepção de forma e tamanho, percepção de figura- fundo e memória visual, acompanhamento visual); coordenação viso-motora; memória cinestésica; habilidades auditivas específicas (discriminação de sons, discriminação auditiva figura- fundo, memória auditiva,) e linguagem oral;
A Educação Infantil é a base, o alicerce, para a construção de conhecimento que ocorrerá nos anos subsequentes. Não oferecer Educação Infantil é restringir as oportunidades.
Onde os menos avisados veriam apenas uma caixa de areia, um varal de atividades e muitos brinquedos educativos, você pode acreditar; existe um grande tesouro. Ele é capaz de dar mais cores à cada história de cada criança. Seu nome é Educação Infantil!