A vida de palestrantes e professores mudou bastante nos últimos anos. No passado não muito distante os ouvintes se concentravam praticamente o tempo todo nas palavras do palestrante, enquanto que os alunos, exceto os espíritos de porco que jogavam batalha naval, ficavam atentos aos ensinamentos do mestre.
Hoje o quadro apresenta contorno bastante diverso. Professores e palestrantes, tidos como competentes, ficam indignados. Como é que pessoas em sala aula, ou durante uma palestra, sem a menor cerimônia, podem abrir o computador ou sacar o smartphone para passar mensagens ou atender a uma chamada telefônica?!
Algumas escolas chegaram a proibir esses aparelhos durante a aula. Por mais estranho e difícil que possa parecer, entretanto, essa é uma nova realidade que precisa ser assimilada. Como afirma o antropólogo Pierre Lévy: 'Para dizer a verdade, cada um de nós se encontra em maior ou menor grau de desapossamento.'
Isto é, os imigrantes no mundo tecnológico vivem um momento de transição onde os métodos pretéritos que dominam se desatualizam com velocidade incontrolável, mas, ao mesmo tempo, têm dificuldade para manusear o novo com naturalidade.
Professores e palestrantes descobriram que precisariam se adaptar rapidamente à nova onda. Esses profissionais passaram a me procurar cada vez mais para dizer que se sentiam impotentes diante de pessoas com esse comportamento. Querem saber como agir nessas situações.
Minha tarefa tem sido a de mostrar a esses profissionais que em certas circunstâncias algumas pessoas ficam tão dependentes dos seus aparelhos que não conseguem se livrar deles onde quer que estejam. Nesse caso deve entrar o rigor da disciplina, pois se o professor não interferir não haverá aprendizado. Para isso, lógico, o mestre precisa do respaldo da escola, caso contrário pode se tornar refém do aluno.
Por outro lado, mostro que por trás desse aparente problema poderá haver uma boa oportunidade para tornar ainda mais eficiente o trabalho desses profissionais. O celular e o computador podem participar naturalmente das aulas e palestras, ajudar no aprendizado e se tornar bons aliados dos professores e palestrantes.
Vamos combinar. Essa garotada é superantenada. Eles se concentram em diversas atividades ao mesmo tempo. Parece incrível, mas conseguem no mesmo instante conversar ao telefone, trocar mensagens, fazer pesquisa, assistir à televisão e ainda avisar a mãe que já vai para a mesa almoçar com a família.
Segundo o pesquisador franco-canadense Derrick Kerckhove, 'estamos à beira de uma nova cultura profunda que começou a tomar forma durante os anos 90. Todas as vezes em que a ênfase dada a um determinado meio muda, toda a cultura se move'. Acompanhar essa mudança com a velocidade exigida é o desafio que deve ser vencido.
Tive relato de um professor que se sentiu envergonhado. Ele tentou pegar desprevenido um aluno que teclava o computador e se aproximou por trás como quem não quisesse nada. Descobriu que não se tratava de joguinhos ou troca de mensagens com amigos, mas sim de um resumo da aula ministrada.
Outro contou que quis saber o que o aluno estava 'tuitando' com o smartphone. Ficou surpreso ao constatar que ele usava o Twitter para compartilhar uma dica que o mestre acabara de ensinar. São inúmeros os exemplos do bom uso desses aparelhos em aulas e apresentações.
Procuro incentivar o professor para que seja criativo e aproveite esse potencial de maneira positiva. Por exemplo, se estiver diante de alunos que gostam de mandar mensagens pelo Twitter, talvez, um bom exercício seja pedir que escrevam um texto com tamanho máximo de 140 caracteres com finalidades diversas: um para amigos, outro para apresentação de proposta comercial, outro sobre um fato histórico etc.
Dessa forma poderão usar o 'brinquedinho' do aluno para desenvolver seu potencial de redação de maneira lúdica e participativa. Isto é, em vez de se mostrar cerceador, o professor se comporta como um parceiro aliado. Sem dúvida o resultado das aulas terá melhor qualidade.
Portanto, computador e celular em sala de aula ou na plateia, embora devam ser observados com cautela, pois podem ser motivo de desatenção, não indicam necessariamente que a pessoa esteja sendo negligente ou desinteressada. Ao contrário, em muitos casos podem revelar atitude participativa e comprometida.
- Encare os aparelhos eletrônicos como parte integrante de palestras e aulas
- Aproveite o potencial dos alunos para usar os eletrônicos como meio de aprendizagem
- Nunca reaja de maneira emocional porque um aluno usa computador em aula
- Se perceber que o aluno só brinca com o aparelho e atrapalha a aula, peça que desligue