De todas as etapas do desenvolvimento humano, a adolescência é o momento que acarreta mudanças mais significativas. Neste período o jovem sofre transformações em diversas áreas de sua vida. Ocorrem mudanças corporais, mudanças no relacionamento com a família, mudanças nos desejos, no pensamento e consequentemente na compreensão deste sobre o mundo que o cerca. A adolescência é um turbilhão de sensações e sentimentos, que na maioria das vezes são conflitantes e antagônicos: é o querer ser adulto por um lado mas continuar a ser criança por outro.
É neste momento complexo que o adolescente necessita decidir-se por uma profissão, ou seja, escolher entre diversas possibilidades profissionais num mundo em constante mutação. Para ser capaz de realizar esta escolha, o jovem deve voltar-se para si mesmo (autoconhecimento) e ao mesmo tempo informa-se sobre o mercado de trabalho e o mundo das profissões.
No processo de orientação vocacional a etapa do autoconhecimento permiti ao jovem refletir sobre suas características pessoais, suas competências e seus interesses, assim como, o auxilia a projetar-se no futuro e imaginar o tipo de vida que ele deseja construir. A orientação vocacional gestáltica acredita que a articulação entre escolha profissional e projeto de vida é fundamental, e que uma boa escolha profissional é aquela que leva em conta o estilo de vida que a pessoa almeja para si.
É nesta articulação entre decisão profissional e estilo de vida, que os modelos familiares estão presentes, auxiliando ou mesmo dificultando a escolha do adolescente. A influência destes modelos se dá não somente pelas expectativas ditas e não ditas dos pais para o futuro dos filhos, mas por todo contexto familiar no qual ele encontra-se inserido. Tornar-se por isso importante, o conhecimento das opções profissionais dos membros desta família (bisavós, avós, pais, tios...), assim como, os valores transmitidos por esta com relação a trabalho, ideais e objetivos de vida.
As estórias familiares contribuem, mesmo que indiretamente, para a construção da visão de mundo do jovem e consequentemente influenciam na sua identidade profissional. Muitas vezes os adolescentes optam por tipos de vida e profissões que parecem contraditórios aos desejos dos pais e ao modelo do núcleo familiar (pais e filhos). Mas um olhar mais atento para a estória desta família revela que a escolha do filho reflete, na realidade, um modelo familiar que se repete em algumas gerações.
Neste momento decisivo é importante que os jovens se conscientizem destas influências de forma a decidir sobre quais modelos, valores e padrões, ele deseja perpetuar e quais ele gostaria de diferenciar-se. A compreensão destas influências possibilita ao jovem realizar uma escolha profissional consciente e singular, diferenciando-se das expectativas parentais, sem contudo negar ou alienar-se dos determinantes familiares, sociais e culturais no qual ele encontra-se inserido.
* Ingrid Canedo é Psicóloga e Orientadora Vocacional