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Fim da URSS, O

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Em pouco menos de duas década, a geopolítica global conheceu uma grande reviravolta. No início dos anos 80, era inconcebível a ideia de um possível colapso da URSS. Supor que a grande nação socialista, a opositora aos Estados Unidos no contexto geopolítico bipolar, implodiria política e economicamente ia contra todas as expectativas, considerando-se a iminente ameaça de um hecatombe nuclear.

A URSS entra na década de 80 sob boicote dos Estados Unidos, devido ao fato de ter invadido o Afeganistão e apoiado os sírios na guerra civil libanesa, os sandinistas na Nicarágua, e boa parte dos movimentos ditos de esquerda, em todos os quadrantes do planeta.

Neste período as negociações de paz caminha muito lentamente. A Europa vive o pesadelo de ser palco do confronto entre as superpotências, a Alemanha está dividida, e a Polônia há pouco escapou de uma intervenção do Pacto de Varsóvia.

Esse é o panorama de um tempo aparentemente distante, que a maioria das pessoas quer ver sepultado. Este quadro caótico torna-se ainda menos suave, se nos aprofundarmos na ordem mundial, no decorrer da década de 80.

A rápida transformação pela qual o mundo passou, em que pesa o surgimento de novas questões como a ecologia, teve seu início na URSS, semelhante à queda de uma fileira de peças de dominó.

A Glasnost e a Perestroika

Quando em 1985 Mikhail Gorbatchev assumiu o poder na URSS, enfrentou o caos. A superpotência que detinha uma capacidade nuclear suficiente para destruir a vida no planeta várias vezes encontrava-se à beira do abismo. Os problemas eram tantos e em tantos setores, que desde o início o mais jovem líder da URSS implementou reformas.

As reformas não significavam que o socialismo havia dado errado, ou que o capitalismo havia vencido. As mudanças de ordem estrutural propostas por Gorbatchev visavam à modernização do país, mas para isso seria necessário o desenvolvimento real dos problemas, apartado da maquiagem da burocracia, solidificada, no país, sob o contexto de defesa dos interesses do povo, no contexto da Guerra Fria.

Uma tentativa de se aplicar a planificação estatal na solução desses problemas certamente fracassaria, pois havia muito a população amargava uma queda em seu precário padrão de consumo.

Exigir sacrifícios, e eles seriam necessários, da população já demasiadamente sofrida e incrédula na ação do Estado seria como acender o estopim do caos político que eclodiriam ou num conflito interno sem precedentes, ou na volta da linha dura.

A reestruturação econômica do país, denominada Perestroika, só seria possível com a adoção de uma política de transparência, democrática, possível apenas com a prerrogativa da participação popular - a glasnost.

A Perestroika não se resumia num esforço para acabar com o socialismo na URSS. Consistia, sobretudo, em um processo de reestruturação da economia, no qual os problemas - como a ineficiência da produção agrícola e industrial, os excessivos gastos com a corrida armamentista, a estrutura política e econômica demasiadamente burocratizada, e a falta de opções para os modelos de produção impostos, alheios à realidade da população -, devidamente equacionados, seriam atacados em prol do crescimento do país e de uma nação realmente democrática.

Essa reestruturação teria apoio popular, desde que o povo fosse ouvido, seus anseios atendidos, perspectivas fossem criadas. Na tentativa de carrear a que se configurou como um processo democrático jamais visto na URSS, expôs as mazelas do país. Além da insatisfação econômica, em que a produção se mostrava superpotência, a abertura política possibilitou a emersão de problemas de ordem étnico-nacionais, que anos de linha dura conseguiram amainar ou esconder definitivamente, dando-lhes uma dimensão mesquinha, alheia aos interesses do país.

À medida que as reformas evoluíram, surgiam novos problemas decorrentes dos desvios dos ideais socialistas colocaram em choque a postura em relação ao bloco vital - os Estados Unidos e seus aliados - e aos membros de seu próprio bloco, antes com relativa coesão, agora ante o esfacelamento.

Enfim, ao buscar um meio de modificar as estruturas políticas, econômicas e sociais do país, Gorbatchev, com a Perestroika e a glasnost, criou uma situação em que o país, no âmbito internacional, cessa de intervir em outras nações por interesses geoestratégicos, deixando assim de ocupar o lugar de liderança no mundo socialista, agora voltado para seus próprios problemas; e, no âmbito nacional, enfrenta as dificuldades econômicas, a oposição política de segmentos radicais, tanto daqueles a favor de um postura mais enérgica do Estado, como daqueles favoráveis ao capitalismo, somadas às questões nacionais, em um novo contexto, apoiadas pela comunidade internacional, e particularmente pelas nações ricas que mais tarde viriam a socorrer o país.

As mudanças propostas por Gorbatchev sucumbiram diante de um mosaico de problemas. Da mesma forma que o socialismo real tinha sido golpeado com a falta de democracia, que recorria aos perigos da Guerra Fria, essas mudanças afundavam no terreno movediço das nacionalidade, e no ressentimento de anos e anos de linha dura.