Peregrinações a Lugares Santos
A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde atualmente fica o Estado de Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito remotas, judeus, cristãos e muçulmanos faziam peregrinações a Jerusalém para venerar os Lugares Santos.
Na Idade Média – mesmo hoje, em certa medida – os cristãos em geral acreditavam que os lugares onde os santos viveram, os objetos por eles usados e o que restava de seus corpos (as chamadas “Relíquias”) possuíam poderes milagrosos, como a cura de enfermos e a salvação para os pecadores. Havia vários lugares de veneração espalhadas por todo o mundo cristão, mas a Terra Santa, onde Jesus viveu, pregou e foi supliciado, era considerado o mais sagrado de todos.
Para os judeus, Jerusalém é a principal cidade de sua antiga pátria e ali se encontram vários locais sagrados, principalmente o “Muro das Lamentações”, ruínas do Templo de Salomão destruído pelos romanos no primeiro século de nossa era. Para os cristãos, é reverenciada por ter sido o local no qual Jesus de Nazaré viveu durante os três últimos anos de sua vida, pregou, fez discípulos e foi crucificado. Para os muçulmanos, Jerusalém é uma Cidade Santa porque crêem que Maomé subiu ao céu da Cúpula do Rochedo, situada no coração da cidade.
Curioso refletir como as três religiões monoteístas acreditam no mesmo Deus mas, como se prendem a metáforas e as lêem e compreendem literalmente, os desentendimentos entre os três grupos seguem até os dias de hoje...
Apesar da grande distância da Europa Ocidental, muitos peregrinos faziam uma longa e arriscada jornada para chegar a Jerusalém. Alguns iam primeiro a Roma e, em seguida, partiam de algum porto italiano para a Palestina. As pessoas mais pobres percorriam todo o trajeto a pé.
Motivos
Em 638 d.C. os árabes, de fé islâmica, tomaram a Palestina, inclusive, naturalmente, Jerusalém. Durante séculos aquela ocupação não chegou a criar problemas para os cristãos, pois os árabes respeitam a religião cristã e, portanto, as peregrinações seguiam permitidas. Em 1071, porém, a Terra Santa foi capturada pelos turcos otomanos, também muçulmanos mas, intolerantes para com os cristãos, passaram a criar todo o tipo de dificuldades para os peregrinos.
Economicamente, o feudalismo ingressava em seu período de crise – como o capitalismo está em crise nos dias atuais – havendo forte contradição entre as forças produtivas e o modo de produção, ou seja, o aumento da população ou crescimento demográfico exigia maior empenho na produção de gêneros alimentícios mas, segundo as normas do MPF todo o excedente ficava com o Senhor Feudal e não com os produtores (mais ou menos como ocorre com a mais-valia em nossos dias...).
Para atender aos fiéis desejosos de retomar as peregrinações e escoar o excesso de mão-de-obra ociosa na Europa, o papa Urbano II declarou guerra aos “infiéis” muçulmanos conclamando as multidões sob o brado de “Deus o quer! Deus o quer!” O fervor religioso espalhou-se por toda a Europa. As pessoas acreditavam firmemente que o cristianismo estava em perigo e que defendê-lo, portanto, era cumprir a vontade de Deus. O papa Urbano II prometeu a todos os que partissem para a guerra contra os “infiéis” teriam seus pecados perdoados e iriam para o céu após a morte.
Os cavaleiros que, a partir de 1095, atenderam ao chamado do papa para fazerem parte de uma expedição à Terra Santa escolheram como símbolo uma cruz pintada na armadura ou bordada nas vestes. Por isso foram chamados “cruzados”. Eles seriam os guerreiros da cruz, os defensores do cristianismo. Séculos de guerra começaram então...
A Cruzada dos Pobres
Enquanto os nobres europeus se preparavam para a cruzada, pregadores itinerantes levavam a mensagem do papa às pessoas comuns. Um desses pregadores, Pedro, o Eremita, inspirava seus ouvintes com tanto entusiasmo que milhares passaram a seguí-lo.
Em abril de 1096, os seguidores de Pedro se reuniram na cidade alemã de Colônia. Não eram soldados disciplinados. Na Idade Média, somente os nobres eram treinados nas artes da guerra... Os seguidores fiéis de Pedro, o Eremita, eram mendigos e camponeses pobres e ignorantes que, por vezes, levavam suas famílias consigo.
Partiram no início do verão, cheios de fé e nenhuma provisão. Quando conseguiam alimentos era através do saque ou da mendicância... Atacaram, por exemplo, cidades na Hungria e na Iugoslávia. Além disso, ao passar por Constantinopla, sede do Império (Cristão) Romano do Oriente ou Império Bizantino, saquearam os subúrbios da cidade levando a todos grande terror. Mas o pior estava por vir: o enfrentamento do feroz e bem treinado exército turco.
Resultado? Um verdadeiro MASSACRE! Os cruzados maltrapilhos se instalavam desordenadamente numa fortaleza abandonada. Um pequeno grupo saiu para saquear os arredores mas foi surpreendido e totalmente aniquilado. Quando o exército turco se aproximou da fortaleza, os cruzados, como era de se esperar, sofreram fragorosa derrota, com milhares de baixas. Alguns foram capturados e vendidos como escravos; outros escaparam e conseguiram ser resgatados para narrar o ocorrido...
A Primeira Cruzada – Cruzada dos Nobres
Os nobres europeus prepararam-se com maior acuidade durante todo o ano de 1096. Partiram no outono daquele ano e já em abril de 1097 estavam em Constantinopla prestando sua solidariedade e solicitando o apoio do cesaropapa bizantino Aleixo Comneno.
Partiram inicialmente ruma a Antioquia. No caminho sitiaram e tomaram a cidade de Nicéia, até então ocupada pelos turcos.
O Cerco de Antioquia
Os cruzados continuaram seu caminho, atravessando a Síria. A jornada foi muito difícil, cheia de conflitos e desentendimentos entre os chefes cristãos e perpassada por duros combates com o exército turco.
No outono de 1097 finalmente chegaram a Antioquia, cuja conquista foi longa e penosa. Durante sete meses os cruzados sitiaram a cidade sem conseguir vencer a resistência de seus defensores. Somente em julho de 1098 os exércitos cristãos conseguiram ultrapassar as muralhas da cidade, graças a alguns moradores cristãos que ainda ali viviam e que facilitaram a sua entrada.
Poucos dias depois uma nova leva do exército turco chegou e cercou Antioquia com os cruzados dentro. Depois de muitas batalhas os cruzados lograram romper o cerco, derrotar os turcos e seguir em sua jornada rumo a Jerusalém.
Em Jerusalém
Os cruzados chegaram às portas de Jerusalém em julho de 1099. Seus primeiros ataques foram facilmente repelidos pelos turcos. A 14 de julho, após jejum e oração, o exército cristão partiu para seu mais importante ataque. Por volta do meio-dia de 15 de julho de 1099, os cruzados escalaram as muralhas e abriram um de seus portões. Os que estavam fora das muralhas correram para dentro da cidade e massacraram impiedosamente e sem discriminação judeus e muçulmanos, habitantes da cidade.
Quando finalmente entraram na Igreja do Santo Sepulcro, os cruzados caíram de joelhos dando graças a Deus pela vitória. Do lado de fora da Igreja os cadáveres de suas vítimas, recobertos de sangue, enxameavam as ruas...
Criação de Feudos Europeus na Palestina
A maioria dos nobres e seus seguidores voltou para a Europa, mas alguns permaneceram. Os líderes dos que ficaram estabeleceram quatro Estados cristãos nas regiões conquistadas: o Condado de Edis, o Principado de Antioquia, o Condado de Trípoli e o Reino de Jerusalém que, por ser o mais importante, ficou com Godofredo de Bouillon, um dos líderes da cruzada.
Os soldados receberam terras nesses novos Estados. Estabelecendo-se entre árabes, turcos, gregos e judeus que ali viviam, começaram gradualmente a adotar os hábitos e o linguajar do local.
Vale ressaltar que aqueles Estados cristãos jamais conheceram a paz. Estavam constantemente em guerra com seus vizinhos muçulmanos e jamais foram capazes de controlar as áreas rurais. Os muçulmanos, via de regra, rondavam as estradas e atacavam peregrinos cristãos com destino a Jerusalém.
Cavaleiros Templários e Hospitalários
Para defender os Estados cristãos, alguns nobres formaram associações chamadas de ordens militares. As duas mais poderosas foram as dos Cavaleiros do Templo (Templários) e a dos Hospitalários de São João de Jerusalém – em 1305, contudo, com vistas a apoiar o rei francês Filipe “o belo” sob o qual vivia em cativeiro, o papa Clemente V (Bertrand de Got) decidiu-se a exterminar com a Ordem dos Cavaleiros do Templo através de torturas e confissões forjadas. Mas os Cavaleiros Templários seguem fortes até os dias de hoje na Maçonaria, como se sabe...
Seus membros viviam como monges e lutavam como cavaleiros. Faziam votos religiosos e juravam empreender guerra incessante contra os infiéis. Dedicavam-se a auxiliar os peregrinos, os pobres e os doentes. E, de seus enormes castelos, vigiavam toda a região. Eram os cristãos mais temidos pelos muçulmanos por seu destemor e desapego até mesmo da própria vida em defesa do cristianismo.
Apesar de todos os esforços daqueles valorosos Cavaleiros, todavia, anos de guerra enfraqueceram enormemente os Estados dos cruzados. Em 1144 um desastre: o exército muçulmano capturou o Condado de Edessa! Quando Edessa caiu, os turcos conseguiram reagrupar seu exército e atacar sem trégua a longa fronteira dos outros três Estados.
A Segunda Cruzada – Cruzada dos Reis
Depois da queda de Edessa, os Estados cristãos ficaram em perigo. Temerosos, seus governadores enviaram embaixadores a Roma, pedindo ao papa que lhes enviasse ajuda para lutar contra os turcos e proteger a Terra Santa.
O papa Eugênio III resolveu atendê-los e convocar uma nova cruzada. Para divulgá-la na Europa, encarregou Bernard de Clairvaux (mais tarde canonizado), o mais erudito e respeitado clérigo da sua época.
Bem sucedido, Bernard persuadiu o rei francês Luís VII (mais tarde canonizado também) e o Imperador do Sacro Império Romano Germânico Conrado III que, com seus relutantes nobres, decidiram-se a participar da expedição.
Os dois reis, inimigos um do outro, não se reuniram para a cruzada. Cada um enfrentou o adversário turco por sua conta, em batalhas separadas, sem qualquer acordo entre eles.
Em 1147, os esplêndidos exércitos reunidos pelos dois reis marcharam através da Europa em direção a Constantinopla.
Conrado chegou primeiro e, por volta de outubro daquele ano atravessava o Bósforo e estava a caminho da Terra Santa. Em Dorileu, o exército turco lançou-se contra ele e lhe impôs fragorosa derrota. Conrado e outros sobreviventes do massacre arrastaram-se de volta a pé para Constantinopla, onde os franceses acabavam de chegar.
O rei Luís ousou atravessar território inimigo em pleno inverno. Os turcos estavam à espera e mataram muitos franceses durante esta insana travessia. Muitos outros morreram ainda de fome e de frio...
Os remanescentes dos dois exércitos encontraram-se em Jerusalém no verão seguinte, quando outros cruzados, recém-chegados da Europa, se juntaram a eles.
Desta vez os dois reis resolveram unir-se. Com inacreditável insensatez, decidiram sitiar Damasco, uma cidade cujo governante sempre se mostrou muito amigável com os cristãos. O fracasso foi total. Depois de cinco dias de ataques infrutíferos e com muitas baixas, os exércitos cruzados desistiram da luta e regressaram à Europa.
Saladino
Anos de confusão seguiram-se à desastrosa Segunda Cruzada. Havia desavenças entre os cristãos, mas também os muçulmanos guerreavam entre si por hegemonia. Durante algum tempo os Estados cristãos puderam sobreviver graças às divisões entre seus inimigos.
Foi então que começou a surgir um reflorescimento muçulmano. Nur ad-Din, governador de Alepo (Síria), derrotou todos os outros governantes muçulmanos. Em 1164 ele enviou um exército para invadir o Egito, que era o país muçulmano mais rico da época.
O comandante daquele exército levou consigo seu sobrinho Saladino, um notável guerreiro. Em 1169, com a idade de 31 anos, Saladino foi feito governador do Egito. Depois da morte de Nur ad-Din e de seu filho, tornou-se Sultão de um Império que se estendia do Egito até a região central da atual Turquia.
Em 1187, à frente de poderoso exército, Saladino invadiu a Terra Santa.
Uma a uma as fortalezas caíam diante das tropas lideradas por Saladino. Por volta de setembro, seus exércitos já haviam cercado Jerusalém. Os defensores da cidade, muito menos numerosos que os soldados muçulmanos acabaram por se render.
Em 2 de outubro de 1187, os muçulmanos entraram em Jerusalém e começaram a destruir todos os altares e cruzes dos Lugares Santos...
Algumas palavras sobre o Sultão Saladino
Numa época em que era comum os governantes mostrarem-se traiçoeiros e cruéis, Saladino ficou famoso por sua humanidade e honestidade. Tendo dado sua palavra, fosse a um amigo ou a um inimigo, ele sempre a mantinha. Tinha grande amor pelas crianças e as histórias de seu carinho para com elas e sua gentileza para com os desprotegidos fizeram dele uma lenda.
Saladino era implacável na luta, mas generoso na vitória. Ao contrário do que acontecia com os exércitos cristãos, seus homens nunca macularam seus trunfos com o massacre de prisioneiros indefesos...
A Terceira Cruzada – Nova cruzada de reis
A perda de Jerusalém revoltou todos os cristãos. Incitados pelo papa, os principais monarcas da Europa decidiram-se a participar de uma nova cruzada. Em maio de 1189 iniciou-se a partida para o Oriente. Foi o maior exército jamais reunido para uma expedição à Terra Santa, e a notícia de sua chegada alarmou os muçulmanos da Palestina.
Mas o desastre mudou completamente o rumo dos acontecimentos: ao atravessar um rio, o Imperador Frederico I (o “Barba Ruiva”), então com 70 anos de idade, morreu afogado. Sem a sua liderança, o gigantesco exército alemão rapidamente se desintegrou. A maior parte dos soldados voltou para a Alemanha; apenas uns poucos se decidiram a seguir para a Terra Santa.
No ano seguinte, Filipe Augusto, da França, e Ricardo I (o “Ricardo Coração de Leão”), da Grã Bretanha partiram numa cruzada conjunta. Seus exércitos se encontraram na Sicília, onde passaram o inverno. Na primavera de 1191, zarparam em direção ao porto de São João D’Arce, no Reino de Jerusalém, para socorrer um exército cristão atacado pelas tropas de Saladino. Ricardo desviou-se da rota para capturar a ilha de Chipre e só chegou a Arce em junho.
Os extenuados cristãos que sitiavam São João D’Arce estavam sendo dizimados pelo exército de Saladino, mas a chegada dos ingleses e franceses trouxe-lhes novo ânimo. Os recém-chegados construíram poderosas catapultas e altas torres de assalto para, com a ajuda destas armas de guerra, empreenderem uma série de ataques contra as bem protegidas muralhas de Arce. Os homens de Saladino não conseguiram repeli-los e o ânimo dos que defendiam a cidade se abateu.
Em 8 de julho, os muçulmanos acabaram por se render, e os cristãos penetraram na cidade. Saladino bateu em retirada e Filipe Augusto voltou para a França, deixando o comando dos exércitos cristãos ao Rei Ricardo Coração de Leão. O rei inglês perseguiu Saladino em sua retirada para o sul, em direção a Jerusalém.
A Batalha de Arsuf e o Tratado de Paz
Muitos cristãos morreram de calor durante a marcha, e muitos outros foram mortos nas batalhas que diariamente eram travadas. Em Arsuf, os muçulmanos interceptaram a marcha do exército de Ricardo. Os soldados da infantaria de Saladino atacaram em ondas, mas suas flechas e lanças leves não conseguiam perfurar a espessa armadura dos cruzados. Os muçulmanos foram varridos dos campos de batalha e perseguidos em sua marcha em direção a Jerusalém.
Em Arsuf, os muçulmanos foram vencidos, mas não destruídos. Saladino conduziu-os ordenadamente a Jerusalém, enquanto Ricardo estabelecia seu quartel-general no porto vizinho de Jafa.
A essa altura, Saladino e Ricardo nutriam grande respeito um pelo outro e começaram a perceber ser improvável uma vitória definitiva de um dos lados. Saladino adoeceu e Ricardo estava ansioso por voltar à Inglaterra, onde seu irmão, João Sem Terra conspirava contra ele (são dessa época as narrativas de Robin Hood, por exemplo...).
Em outubro de 1191, representantes dos dois monarcas começaram a discutir a paz. Mas a luta prosseguia e Saladino se aproveitou da ausência de Ricardo para capturar Jafa. O monarca inglês apressou-se em voltar para reconquistar a cidade, no que foi bem sucedido. Ambos os lados já estavam fatigados da luta e as conversações de paz foram retomadas. Em setembro de 1192, os dois soberanos assinaram um Tratado de Paz e Ricardo pode final e definitivamente regressar à sua pátria.
A Quarta Cruzada – Saque de Constantinopla
Em 1198, o papa Inocêncio III, convocou uma outra cruzada para conquistar Jerusalém. Os nobres que planejaram a campanha estabeleceram como primeiro objetivo o Egito, o mais rico e paradoxalmente o menos protegido dos Estados muçulmanos.
Para atacar o Egito era necessário o acesso marítimo e apenas a cidade de Veneza podia fornecer uma esquadra capaz de transportar o exército de cruzados e seus suprimentos. Os venezianos concordaram em alugar seus navios, mas exigiram uma importante mudança de rumos. Já não seria o Egito o primeiro objetivo, mas Constantinopla. Isso aconteceu porque o príncipe Aleixo, herdeiro do trono bizantino, propôs um vantajoso negócio ao governante de Veneza: os cruzados o ajudariam a recuperar o trono que havia perdido nas disputas da família real e os mercadores de Veneza receberiam em troca o monopólio do comércio de Constantinopla, que era o mais importante centro comercial da época. Além disso, os cruzados teriam pagas as despesas de transporte até o Egito.
De empreendimento de cunho religioso, esta cruzada revestiu-se de um aspecto de negócio ou “negociata”. Já o comércio começa a imperar sobre a Fé; caem as máscaras que motivaram, no fundo, a realização das cruzadas.
A frota veneziana chegou a Constantinopla em julho de 1203 e os cruzados reconduziram Aleixo ao trono. Mas a população reagiu obrigando os cruzados a acamparem fora das muralhas da cidade, enquanto a frota ficava ancorada no porto.
O príncipe – agora Imperador – Aleixo não pode pagar as despesas da expedição conforme sua promessa e os cruzados decidiram-se a atacar e saquear a rica cidade, massacrando boa parte de sua população. Foi o maior ato de pilhagem de toda a Idade Média: roubaram-se relíquias, objetos de arte, tesouros de imenso valor, etc.
Os cruzados formaram então o Império Latino de Constantinopla, sob a tutela de Veneza e os venezianos finalmente obtiveram o cobiçado monopólio do comércio da cidade. Com isso, os objetivos da Quarta Cruzada desapareceram, já que seus integrantes nem chegaram a enfrentar os infiéis...
A Cruzada das Crianças
O pequeno pastor francês Estevão estava persuadido de que somente os puros de coração e mente poderiam reconquistar a Terra Santa. Conseguiu fazer centenas de prosélitos em toda a Europa Ocidental.
No verão de 1212, milhares de crianças, principalmente francesas e alemãs, deixaram suas casas para se juntar a uma cruzada. Nenhuma delas conseguiu chegar à Terra Santa.
O grupo francês dirigiu-se a Marselha, onde mercadores inescrupulosos lhe ofereceram transporte gratuito até a Palestina. Algumas das crianças afogaram-se numa tempestade; as restantes foram vendidas como escravas...
As crianças alemãs foram para a Itália, mas não conseguiram seguir adiante. Sem dinheiro e sem comida, tiveram de mendigar para sobreviver. Pouquíssimas conseguiram voltar para casa.
A Quinta Cruzada – outro fracasso
Por volta do outono de 1217, cristãos de muitos países europeus reuniram-se em São João D’Arce, para outra tentativa de reconquista da Terra Santa; dentre eles Francisco de Assis. Eles planejavam atacar primeiro o Egito. Com aquele país em mãos, todo o sul da Palestina, inclusive Jerusalém, cairia sem nenhuma resistência.
O porto de entrada para o Egito era Damieta, situado na foz do Nilo. Os cruzados levaram um ano para capturar o porto e ainda mais tempo brigando uns com os outros antes de subirem o rio para penetrar no Egito. Sem perceber o risco que corriam, acamparam às margens do rio, onde o inimigo só precisou abrir as comportas para afogá-los. Os cruzados não tiveram outra escolha senão aceitar uma paz humilhante, abandonando o Egito sem conseguir absolutamente nada!
A Sexta e a Sétima Cruzadas – vitórias diplomáticas e tragédias militares
A Sexta Cruzada foi comandada por Frederico II, da Alemanha. O monarca chegou ao Oriente em 1228, mas muitos cristãos locais não quiseram juntar-se a ele. Para sua sorte os muçulmanos mostravam-se igualmente divididos. Ambos os lados preferiam parlamentar ao invés de lutar.
As negociações se estenderam por todo o inverno e, em 29 de fevereiro de 1229, chegou-se a um acordo de paz, assinado para durar 10 anos. Os cristãos foram muito mais favorecidos pelo tratado, pois obtiveram Jerusalém, Belém e Nazaré. A cruzada representou o triunfo de Frederico. Através de negociações inteligentes ele alcançou o que anos de guerra não tinham conseguido.
O que Frederico conquistou perdeu-se em 1244, quando os muçulmanos expulsaram os cristãos de Jerusalém. Para reconquistar a cidade foi organizada uma cruzada em 1248, sob o comando de Luís IX, da França.
Luís atacou primeiro o Egito, e Damieta caiu sem oferecer grande resistência. O exército do rei subiu o Nilo cautelosamente, mas os egípcios bloquearam o rio na retaguarda do inimigo, cortando-lhe o fluxo de suprimentos. Os alimentos acabaram e, enfraquecidos pela fome e por doenças diversas, Luís e todo o seu exército foram cercados e feitos prisioneiros.
O rei e os nobres que tinham dinheiro suficiente para tanto foram libertados mediante o pagamento de um enorme resgate. Os demais cruzados foram mortos ou vendidos como escravos.
O Fim da Cruzadas
A Sétima Cruzada terminou em tragédia, mas o pior ainda estava por vir. Em 1260, dez anos depois da derrota do rei Luís, chegou ao poder no Egito o sultão Baybars. A ele caberia unir os muçulmanos e expulsar os cristãos do Oriente.
Baybars pertencera à milícia dos mamelucos, guerreiros de elite encarregados da defesa pessoal dos sultões egípcios. Era um muçulmano fanático e tão bom general quanto Saladino havia sido. Uma a uma, as cidades e fortalezas cristãs da região caíram diante dele, até que apenas Trípoli e São João D’Arce continuaram em poder dos cristãos. Baybars morreu em 1277.
Uma trégua entre os dois lados aplacou a luta por um certo tempo, mas em 1289 os muçulmanos recomeçaram os ataques às fortalezas cristãs remanescentes. Rapidamente tomaram o porto de Trípoli e se aproximaram de Arce.
Os muçulmanos que sitiaram São João D’Arce eram cinco vezes mais numerosos que os defensores da cidade. Os projéteis lançados por suas máquinas de assalto abalaram as muralhas.
Em 18 de maio de 1291, antes do amanhecer, teve início o ataque final. Ao por-do-sol, os atacantes já estavam dentro da cidade e quando a noite caiu eram senhores de Arce e de todo o Oriente cristão. Uns poucos defensores conseguiram escapar por mar. Os que sobreviveram foram massacrados ou escravizados.
A ideia das cruzadas, contudo, não morreu depois da catástrofe de São João D’Arce. Os cristãos do Ocidente encontraram outros inimigos contra quem lutar, como os eslavos e os muçulmanos da Espanha. Novas cruzadas se dirigiram à Palestina, mas nenhuma delas conseguiu chegar lá. O sonho de uma Terra Santa segura para os peregrinos e governada por cristãos acabara para sempre.
Um balanço das Cruzadas
Os cruzados voltavam para suas terras de origem com um gosto pelos novos luxos e confortos descobertos durante a viagem. As cidades italianas, principalmente Veneza e Gênova, ficaram imensamente ricas com o comércio desses produtos na Europa.
O grande desenvolvimento do comércio que as cruzadas propiciaram foi um dos fatores das profundas transformações que levaram do Modo de Produção Feudal ao Modo de Produção Capitalista na Europa durante os séculos seguintes; em outras palavras, aquelas grandes expedições de caráter primordialmente ou alegadamente religioso prepararam o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Em muitos outros aspectos as cruzadas foram um desastre! Os cruzados não conseguiram expulsar definitivamente os muçulmanos E isso durou por séculos, chegando até os nossos dias.
Fonte:
http://www.culturabrasil.org/cruzadas.htm