Aproximando-se o período de inscrições para os vestibulares, senti vontade de escrever-lhes algumas palavrinhas. Gostaria de poder contribuir para uma escolha um pouco mais consciente deste passo tão significativo.
Quem de nós já não ouviu a expressão “já não se fazem mais médicos como antigamente...” ?
Fico curiosa para saber por que os tais “médicos de antigamente” entraram em processo de extinção, sem que ninguém denunciasse tal fato. Nada contra o mico-leão dourado, mas seu risco de extinção é alardeado aos quatro cantos do país, e toda a sociedade é chamada a cumprir seu papel . Eu particularmente não sei o que fazer para salvar os miquinhos da extinção. Se alguém tiver uma ideia que me ajude, por favor.
Bem, voltemos ao nosso foco: Os médicos!
Por que será que estamos diante de uma situação tão paradoxal: de um lado o PACIENTE reclamando de maus serviços prestados, de uma total desatenção com suas queixas. Chega até mesmo a dizer que o médico sequer lhe dirigiu o olhar...
Por outro lado, a SOCIEDADE valorizando os homens de branco. Atribuindo a estes um poder bem próximo ao de Deus. Que incrível dicotomia!
E você, que médico(médica) quer ser? Muito provavelmente algum padrão de excelência deve passar por sua cabeça. Certamente você não vai admitir ser “mais ou menos” na sua profissão. Mas quando é que você pretende adquirir as habilidades mínimas para o exercício dessa tal qualidade? Nem venham me dizer que é quando entrarem na faculdade... Sermos pessoas melhores começa hoje e ainda assim uma vida vai ser curta para que consigamos chegar a isso. A faculdade vai priorizar sua formação técnica. A competência pessoal é tarefa exclusivamente sua. Que tal começarmos a faculdade de medicina naquelas matérias que não constam nas grades curriculares? Não consigo conceber a ideia de um bom médico que não saiba tolerar frustração. É inimaginável um bom médico que não tenha persistência de ideais.
“O que faz um médico não são seus conhecimentos de ciência médica . A ciência medica é algo que lhes é exterior e que ele leva consigo, como se fosse uma valise. Esses conhecimentos, qualquer pessoa pode ter. A alma de um médico não se encontra no lugar do saber, mas no lugar do amor. O médico é movido pela compaixão.Compaixão que nas origens etimológicas quer dizer ‘sofrer com o outro’. Toda pessoa que procura um médico está sofrendo. O paciente é aquele que sofre. Há sofrimentos dos mais variados tipos, das hérnias de disco e cálculos renais até a absoluta falta de apetite e tristeza. E aquela inexplicável dor na alma?????” (Rubem Alves)
Como entender alguém que diz sentir “um frio, que nada lhe aquece o peito”?
Engana-se quem pensa que o mais difícil na rotina de um médico é encarar a morte. Esta é uma contingência natural da condição humana! Vai acontecer sempre, mesmo que não haja falhas, mesmo que não a desejemos...
Mas o que dizer do sofrimento? Como amenizar as dores que remédio algum pode aplacar?
Portanto, meus queridos aprendamos a lidar com os nossos sentimentos muito antes de nos atrevermos a nos aproximarmos de um outro que anseia, sofre, duvida, espera, oscila...
Meu objetivo ao dirigir-lhes estas poucas linhas é o de levá-los a refletir se é esse caminho mesmo que desejam trilhar e principalmente se lhes é permitido sofrer porque a trilha é sinuosa, cheia de obstáculos.
Você se acha preparado para lidar com sofrimento? Como?
Um grande abraço, daquela que também escolheu dedicar a vida aos que sofrem,
Eliana Balena- Psicóloga