(do grego Palaios, antigo; da mitologia romana Flora, deusa das flores, referência as plantas, botânica). Na tentativa de resgatar os i... Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
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A Paleoflora de Teresina

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(do grego Palaios, antigo; da mitologia romana Flora, deusa das flores, referência as plantas, botânica).

Na tentativa de resgatar os inúmeros trabalhos científicos executados na região de Teresina nas áreas de Ciências da Natureza, especialmente no campo da Paleontologia, realizados nas décadas de 40 e 50, encontramos uma série de boletins do Departamento Nacional de Produção Mineral, então vinculado ao Ministério de Agricultura, sobre estudos aprofundados nas áreas de Paleobotânica e Paleofauna do Piauí.  Na análise destes artigos e em comparação com alguns livros especializados em Paleontologia, podemos constatar a riqueza da flora na região de Teresina na Era Paleozóica.

Para iniciarmos essa abordagem faremos num primeiro momento, uma localização temporal.  Atualmente nos encontramos na Era Cenozóica, a mais recente, se considerarmos o aparecimento da vida (iniciada há 65 milhões de anos atrás).  A flora encontrada em Teresina pertence a Era Paleozóica, que iniciou há 570 milhões de anos e é dividida seis períodos: Cambriano (de 570 a 500 milhões de anos), Ordoviciano (de 500 a 440 milhões de anos), Siluriano (de 440 a 395 milhões de anos), Devoniano (de 395 a 345 milhões de anos), Carbonífero (de 345 a 280 milhões de anos) e o Permiano (de 280 a 225 milhões de anos).  Os primeiros vegetais de que se tem notícia apareceram no período Siluriano (os primeiros seres fotossintetizantes surgiram há mais ou menos 2 bilhões de anos, no Pré-Cambriano, período que antecede a Era Paleozóica).  Os afloramentos (troncos fossilizados) encontrados em Teresina datam dos Períodos Carbonífero e Permiano, avaliados, portanto, entre 345 e 225 milhões de anos atrás.  O período Carbonífero coincide com o surgimento dos primeiros répteis (antecessores dos dinossauros) e de florestas formadas por Pteridófitas (MENDES, 1982).  As pteridófitas constituem um grupo de plantas vasculares (dotadas de vasos condutores de seiva), porém criptógamas (sem flor), representado atualmente pelas samambaias e avencas, que normalmente apresentam um porte muito inferior ao das plantas Fanerógamas (com flor).  As pteridófitas raramente apresentam porte arborescente.  Dentre as fanerógamas destacamos dois grandes grupos de plantas com flores: as Gimnospermas (plantas com flor, mas sem fruto) e as Angiospermas (plantas com fruto) (JOLY, 1993).

Em boletim do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM, bol. nº 147/ 1954), o geólogo Elias Dolianiti, apresenta os elementos da flora identificada pelo geólogo Eusébio de Oliveira, na década de 30, comparados com os identificados por ele próprio em três pontos: na sondagem nº 125 (em profundidades de 225-226 metros) em Teresina, em afloramentos na localidade Curral de Pedras, do então distrito de Natal, distante 80 km de Teresina (região que hoje abrange parte dos municípios de Demerval Lobão, Lagoa Alegre e Monsenhor Gil) e no município de Beneditinos, todos situados na Formação Poti (formação geológica - área com características peculiares sobre elementos geológicos).  No boletim, a flora de Teresina é tratada como importante no contexto mundial por sua localização geográfica (setentrional - norte) e por favorecer ao conhecimento da Paleogeografia do Carbonífero.  Analisando as amostras coletadas, identificou-se as espécies do gênero Adiantites (A. gothanica, A. oliveiranus, A. santosi, A. alvaro-albertoi), e as espécies Cardiopterium sp., Sphenopteridium sp., Kegelidium lamegoi, Paulophyton sommeri, Rhodea sp. e Lepidodendropsis sp.  A Lepidodendropsis sp é uma espécie pertencente à ordem (extinta) das Lepidodendrales, divisão Lycophyta (divisão de plantas com poucos representantes viventes, que se restringe a plantas de porte muito pequeno, como os licopódios de poucos centímetros), do grupo das Pteridófitas, planta arborescente de 25-30 metros de altura, cuja distribuição só foi constatada no Peru e na formação Poti - PI (MENDES, 1982).  A Sphenopteridium sp, assim classificado com dúvidas, já que os materiais encontrados não permitiam uma melhor identificação, é uma espécie de Pterófita (plantas que se assemelhavam a penas), divisão já extinta do grupo das Pteridófitas (DOLIANITI, 1954).  As espécies Adiantites (A. gothanica, A. oliveiranus, A. santosi, A. alvaro-albertoi), Cardiopterium sp, Kegelidium lamegoi, Rhodea sp, de acordo com MENDES, 1982, são todas do grupo das Gimnospermas.

Muitos já conhecem (ou pelo menos já ouviram falar) sobre a Floresta Petrificada de Teresina, às margens do rio Poti, situada em bairros centrais de Teresina (dos Noivos e Ilhotas).  Nessa região foram encontrados, em 1979 pelo Prof. Valdemar Rodrigues (professor de ecologia da Universidade Federal do Piauí), cerca de 60 afloramentos fossilizados: partes e/ou seções de troncos em posição de vida ou rolados, com outras ocorrências fósseis de animais (pegadas) ou esteiras algáceas.  Em 1987, por ocasião da construção do Parque Poticabana, estudos foram realizados por geólogos e paleontólogos de renome nacional como Francisco Pinheiro, Eva Caldas, Diana Mussa e Oscar Rösler, resultando no artigo “Nota sobre a ocorrência de uma Floresta Petrificada de Idade Permiana em Teresina, Piauí”, uma contribuição para projeto da UNESCO denominado “Floras of Gondwanic Continents”.  No trabalho, os estudiosos fizeram a locação dos fósseis ao longo da margem direita do rio (área vizinha ao Parque Poticabana), sendo, a princípio, de 33 troncos, além de identificarem taxonomicamente um exemplar coletado na área, como pertencente à Divisão Pteridospermophyta (grupo de Pteridófitas com sementes), Classe Cycadoxyleae Seward, Espécie Teresinoxylon eusebioi (o primeiro termo, que indica o nome genérico da espécie, em homenagem a Teresina; o segundo, que indica o epíteto específico, em referência e homenagem ao geólogo Eusébio de Oliveira, um dos pioneiros na pesquisa de fósseis no Piauí ) sendo que a formação geológica em questão é a Pedra de Fogo (os espécimes citados anteriormente pertencem a outra formação geológica: a Formação Poti).  Na identificação e caracterização do exemplar, a autora Diana Mussa revela a existência de tecidos vegetais característicos de regiões inóspitas, ambiente seco ou rico em águas salobras, impróprias para absorção contínua, exigência necessária para ocorrência dos processos metabólicos vegetativos.

A paleoflora de Teresina e de suas regiões vizinhas apresenta traços de uma grande floresta, cujos elementos representativos figuram entre espécimes de grupos extintos definitivamente do planeta, como as Pteridospermófitas, ou espécimes pertencentes a grupos que não possuem distribuição natural em nossa região, como as pteridófitas e gimnospermas (que não são nativas).  Vale salientar que o paleoambiente, onde encontramos esses elementos, diferia completamente do ambiente atual.  Na avaliação dos pesquisadores, a área de Teresina, na Era Paleozóica, poderia ter abrigado uma grande praia.