Outro fator fundamental para determinar o caráter próprio ao movimento gnóstico é o sincretismo, presente em todas as suas manifestações. Suas teses são formadas a partir de elementos retirados de uma enorme gama de seitas e religiões, sendo suas principais fontes as religiões cristã, judaica, helênica e orientais. Possuiu uma enorme variedade de formas, bem como grande número de adeptos. Entre os séculos I e III, período em que alcançou seu apogeu, chega-se a distinguir cerca de sessenta seitas, entre propriamente gnósticas e afins.
Os maiores representantes do gnosticismo são Simão Mago, Menandro, Saturnilo, Marcião, Valentim, Basílides, Carpócrates e Bandesanes. Suas mais expressivas seitas são: ofitas ou naasenos, que possuem como símbolo a serpente (em grego óphis, em hebraico Nachasch) e barbelognósticos, que afirmam uma trindade formada pelo Pai, o Filho e a Mãe ou Primeira Mulher, compreendida como a Sabedoria (entre eles denominada Barbelo), vencedora da luta travada com os demônios, partidários do Mal (personificado pelo nome de Jaldabaoz).
No século III, surge o maniqueísmo, que representa uma radicalização do dualismo professado pelos gnósticos. Esta religião difunde-se por toda a Idade Média, no Ocidente e Oriente, alcançando enorme popularidade e tornando-se o principal alvo das refutações cristãs.
Dentre a variedade de suas manifestações, contudo, podemos encontrar algumas características comuns às diversas seitas gnósticas.
Em primeiro lugar, o princípio dualista da realidade, personificado pelas divindades representantes de Bem e Mal. O Bem diz respeito à alma e ao plano do inteligível, enquanto o Mal relaciona-se ao mundo, ao corpo e à matéria. Da compreensão da luta travada por estes dois princípios, advém a revelação do sentido intrínseco aos movimentos da Natureza, bem como à finalidade da própria vida humana. Contudo, não podemos afirmar o gnosticismo como um dualismo em sentido estrito, uma vez que, para esta doutrina, o Mal sempre acaba submetido ao princípio do Bem, seu poder permanecendo inferior e, em última instância, subordinado à realidade suprema.
Seu dualismo deve ser, desta forma, compreendido desde o monoteísmo que lhe serve de base. Em segundo lugar, o gnosticismo aponta necessariamente uma norma de conduta, baseada no cultivo da via espiritual em detrimento de tudo que se relaciona ao corpo e à matéria. Contudo, pode-se derivar duas linhas de ação no tocante à relação com o corpo.
A maioria das seitas gnósticas prega uma moral de caráter ascético, repudiando o corpo a fim de purificar a alma das impurezas próprias ao contato com a matéria. Porém, uma outra vertente desta seita aceitava uma moral de liberalidade, por compreender que, se o corpo se encontra radicalmente separado da alma, nada que aquele fizer poderá afetá-la.
O gnosticismo se afirma como um movimento contraposto à doutrina cristã, não podendo ser separado desta.