[Flávio José Cardoso]
I- Autor :
Nasceu em Lauro Muller.
Dedica-se ao conto, tendo como temática predominante a Ilha de Santa Catarina com seus mares, suas gentes e sua colonização açoriana. O sonho maior do escritor “é aproveitar com dignidade as coisas conterrâneas especialmente a Ilha de Santa Catarina”.
Em 1968, três de seus contos foram premiados no Primeiro Concurso Nacional de Contos do Paraná. Em 1969 voltou a ser premiado pela Academia Catarinense de Letras, no concurso nacional de contos.
Em 1977 recebeu o Prêmio Remington de Literatura.
II- Obras:
Singradura [contos]
Zélica e outros [contos]
Água do pote [crônicas]
Apesar da reduzida produção – dois livros de contos e um de crônicas – , Flávio José Cardoso é um nome importante, pois com ele o regionalismo dos temas do mar transfigura-se e atinge a universalidade. A trilha de Virgílio Várzea e Othon D’Eça é retomada num nível original, onde o particularizado possibilita a instauração dos atributos que universalizam tanto o espaço quanto o homem nele inserido.
Em seus livros de contos evidencia-se a fidelidade ao homem da ilha, de vida simples, sem heroicidade, que age em busca da prevenção da essencialidade de si mesmo enquanto ser humano, levando o leitor a identificar as raízes portuguesas desse universo recriado, em que as personagens se constroem em meio ao conflito gerado pelo apego à terra e a atração pelo mar.
Tanto em Singradura quanto em Zélica e outros, Flávio José Cardoso explora os conflitos sociais e humanos numa posição que oscila entre o trágico e o humorístico. Os achados humorísticos são responsáveis pela diluição da tensão dos temas abordados. Ou seja: ao constatar aspectos negativos e opressores que aniquilam o homem, chama a atenção do contexto social sem que transpareça, em primeiro plano, na narrativa, a denúncia ou a crítica, sobressaindo muito mais a atitude de constatação de uma realidade. Isto decorre do elemento humorístico explorado. Conscientes de sua própria fragilidade e inferioridade social, as personagens desenvolvem uma luta pela reconquista de um status que as reabilita diante da comunidade. Nessa luta optam pelos meios disponíveis, os quais nem sempre são adequados.
Daí, a tensão diluída. Em consequência, a tragicidade dos ingredientes temáticos abordados, como a solidão existencial, a miséria econômica, os vícios, a loucura, etc., deságua, em geral, em soluções cômicas ou líricas. A literatura de Flávio José Cardoso resgata a dimensão real e universalidade do cotidiano ilhéu, reavaliando-o. ao mesmo tempo, recupera a memória da cultura açoriana, não em seu momento inicial, passado, como o faz Almiro Caldeira, mas em seu momento presente, onde a interferência dos valores culturais urbanizados é detectada como uma das principais causas da crise e dos conflitos gerados.
Igualmente, como cronista, não foge à paisagem florianopolitana, seus tipos humanos, hábitos, costumes e aspectos pitorescos. Em Águas do pote, resgata fatos do passado, recria cenas domésticas, aspectos da cultura popular, personagens pitorescas da comunidade ilhoa, lembranças da infância do autor, etc. Além do que, permanece o substrato humorístico, com que enriquece e particulariza sua obra literária.
III- Notas:
Assim os contos reunidos nesse livro nos levam à Ilha de Santa Catarina, seus ambientes mais autênticos, sua gente sem retoques ou artifícios de civilização urbana.
Nos nove contos que lhe arrebataram o Prêmio Remington de Prosa, em 1977, o autor leva para dentro as páginas de Zélica e outros as terras e as gentes açorianas da Ilha de Santa Catarina – terra e gentes que, sem contar as de Florianópolis, para o Norte, não vão nunca “além das áreas de São Miguel e, para o Sul nem passam da Enseada ou de Garopaba”.