[Antônio de Alcântara Machado]
Narrado em 3ª pessoa, tem-se o retrato do sonho de Gaetaninho, de realização muito difícil. O simplório sonho do menino era andar de automóvel ou carro. Sonho de menino pobre; mas isso, ali na rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. Gaetaninho sonha, com a roupa marinheira, acompanha, na frente quatro cavalos pretos empenachados levavam a tia Filomena para o cemitério. Depois outros serão levados.
Gaetaninho, na boléia do carro. No sonho, muita gente nas calçadas, nas portas e nas janelas vendo o enterro, sobretudo admirando Gaetaninho, que queria ir carregando o chicote. Mas o desgraçado do cocheiro não queria deixar. Quando Gaetaninho pensa em reagir é acordado com os gritos da tia Filomena. Isso o deixa desapontado, quase chorou de ódio. A tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho. Este sentiu remorsos. Os irmãos quando souberam do sonho, revolveram jogar no elefante. Deu vaca. E eles ficaram loucos de raiva.
Na rua, meninos brincavam com bolinha de meia. Depois do chute do Beppino, a bola cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua. Gaetaninho corre, mas antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou. A notícia da morte de Gaetaninho se espalhou:
- Sabe o Gaetaninho?
- Que é que tem?
- Amassou o bonde!
No dia seguinte, às dezesseis horas, saiu o enterro. E Gaetaninho ia na boléia do carro da frente, dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima.
Antônio de Alcântara Machado (1901-1935)
Nasceu em São Paulo. Foi advogado, jornalista e
político. Em 1926, colaborou na Revista do Brasil e, em
1928, dirigiu a Revista de antropofagia (1ª fase). Participou
da criação do periódico modernista Terra Roxa e Outras
Terras (1926) e da Revista Nova (1931). Colaborou ainda
em diversos jornais paulistas e cariocas.