Toda sociedade costuma produzir uma imagem ideal a respeito de si mesma. É a partir dessa imagem que ela gosta de se enxergar, e que gostaria de ser lembrada no futuro. Nos grandes centros urbanos, a sociedade procura fazer-se notar através de obras que denotam progresso, riqueza e modernidade. No decorrer da História, muitos povos passaram à memória da humanidade através de edificações suntuosas, como as pirâmides erguidas por ordem dos faraós do Egito, e os magníficos edifícios e templos do Império Romano e da Grécia Antiga.
É claro que a perspectiva grandiosa corresponde sempre ao ponto de vista de quem está no poder.
São os poderosos que têm motivações para glorificar sua época. E são eles que possuem os meios para criar monumentos e produzir imagens. Um escravo do tempo dos faraós, por exemplo, que trabalhou duro na construção de uma tumba, provavelmente não teria um depoimento muito favorável sobre sua própria época.
A imagem ideal de uma sociedade realça sempre as suas qualidades e procura esconder ou minimizar os aspectos negativos. Essa tendência fica mais acentuada quando um país está em guerra. Nesse caso, é essencial que se produzam imagens para estreitar a união do povo e estimular o espírito de luta dos soldados e das nações. Nos períodos de guerra, representações visuais e sonoras carregadas de simbolismo, como a bandeira e o hino nacional, são fundamentais para se manter em alta o ânimo de um exército em luta.
O poder da imagem no século XX
O poder da imagem tornou-se questão estratégica durante o século XX, com o desenvolvimento de mídias de grande impacto como a fotografia, o cinema, o rádio e a televisão. Com o avanço da tecnologia, a reprodução e o alcance das comunicações passaram a abranger virtualmente todo o planeta.
Esse apelo à imagem já podia ser notado na Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Ele foi fundamental para a criação de um espírito nacionalista nos dois lados em luta. Um recurso muito utilizado na Primeira Guerra foi a reprodução de milhares de cartazes para estimular o alistamento e pedir contribuições em dinheiro e em horas de trabalho pelo chamado "bem da pátria".
Não por acaso, a propaganda visual tornou-se uma das partes centrais da monumental máquina de guerra de Adolf Hitler. O ministro da Propaganda, Josef Goebbels, foi peça-chave do esquema nazista durante a Segunda Guerra, entre 1939 e 1945. Nas mensagens publicitárias e filmes produzidos sob orientação dele, as imagens depreciavam de forma explícita os judeus, os comunistas e outros inimigos do nazismo.
Na verdade, o auge da utilização bélica da imagem aconteceu durante a Guerra Fria. No lugar dos mísseis, disparavam-se as armas da propaganda. Em vez de ogivas nucleares, detonavam-se mensagens persuasivas elaboradas cuidadosamente. Os objetivos eram ganhar a simpatia da opinião pública e procurar convencer o outro lado de sua superioridade militar.
A propaganda ideológica
Na Guerra Fria, os temas da propaganda ideológica eram complexos porque envolviam ideais distintos de vida, democracia e felicidade. No bloco soviético, por exemplo, esses ideais refletiam o processo político desencadeado com a Revolução de 1917.
A União Soviética surgiu em 1922, dentro dos planos da Revolução Russa liderada por Vladimir Lênin e Leon Trotsky. Os bolcheviques idealizavam uma sociedade igualitária, com direitos e deveres iguais para todos, sem a exploração do homem pelo homem. O Estado passaria a proprietário das terras, da grande indústria e dos bancos. Uma sociedade sem desigualdades e sem classes sociais.
Mas a Rússia de 1917 era um país essencialmente rural. Era necessário realizar um salto tecnológico, como forma de se criar empregos. Segundo Lênin, o sucesso do socialismo dependia do sucesso do programa de industrialização do país. Essa imagem, associando felicidade e produção industrial, perduraria por toda a existência da União Soviética.
Nos primeiros anos da revolução, a indústria do cinema soviético já aparecia como um veículo de reforço dos ideais socialistas. Foram produzidos filmes como o clássico "O Encouraçado Potemkin" e "O Fim de São Petersburgo".
Uma descrição Panorâmica
A Guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável, e a paz, impossível. Com essa frase, o pensador Raymond Aron definiu o período em que a opinião pública mundial acompanhou o conturbado relacionamento entre os Estados Unidos e a União Soviética. A divisão do mundo em dois blocos, logo após a Segunda Guerra Mundial, transformou o planeta num grande tabuleiro de xadrez, em que um jogador só podia dar um xeque-mate simbólico no outro. Com arsenais nucleares capazes de destruir a Terra em instantes, os jogadores, Estados Unidos e União Soviética, não podiam cumprir suas ameaças, por uma simples questão de sobrevivência.
A paz era impossível porque os interesses de capitalistas e de comunistas eram inconciliáveis por natureza. E a guerra era improvável porque o poder de destruição das superpotências era tão grande que um confronto generalizado seria, com certeza, o último. Hoje, podemos ver isso claramente. Mas, na época, a situação se caracterizava como o equilíbrio do terror.
Quando começou e quando terminou a Guerra Fria
Não existe um consenso sobre a data exata do início da Guerra Fria. Para alguns estudiosos, o marco simbólico foi a explosão nuclear sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.
Outros acreditam que seu início data de fevereiro de 1947. Foi quando o presidente norte-americano Harry Truman lançou no Congresso dos Estados Unidos a Doutrina Truman, que previa uma luta sem tréguas contra a expansão comunista no mundo.
E há também estudiosos que lembram a divisão da Alemanha em dois Estados, em outubro de 1949. O surgimento da Alemanha Oriental, socialista, estimulou a criação de alianças militares dos dois lados, tornando oficial a divisão da Europa em dois blocos antagônicos. Poderia ser esse o marco inicial da Guerra Fria.
Não há consenso também sobre quando terminou a Guerra Fria. Alguns historiadores acreditam que foi em novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim, um dos grandes símbolos do período de tensão entre as superpotências.
Nessa mesma perspectiva, o marco final da Guerra Fria poderia ser a própria dissolução da União Soviética, em dezembro de 1991, num processo que deu origem à Comunidade dos Estados Independentes.
E outros analistas, ainda, consideram que o período terminou não em dezembro, mas em fevereiro de 1991, quando os Estados Unidos saíram da Guerra do Golfo como a maior superpotência de uma nova Ordem Mundial.
"Quando se tenta delimitar os marcos da Guerra Fria, as pessoas escolhem datas que enfatizam aquilo que lhes parece ser o mais importante. Por exemplo, aqueles que acham que a questão nuclear é o principal, dirão que a Guerra Fria começou em 1945, com Hiroshima e Nagasaki, e terminou em 72, com os acordos do Salt-1.
Para aqueles que acham que o principal foi a relação entre os blocos, os marcos serão, provavelmente, a Doutrina Truman, em 1947, e a queda do Muro de Berlim, em 1989. Mas a Guerra Fria foi muito mais do que apenas uma disputa armamentista ou geopolítica. Ela teve uma importante dimensão cultural, que colocou em movimento um jogo simbólico do Bem contra o Mal.
Ela mexeu com a imaginação das pessoas, criou e reforçou preconceitos, ódios e ansiedades. Nesse sentido mais amplo, dois marcos parecem ser mais adequados quando se trata de dar à Guerra Fria o seu conteúdo simbólico mais abrangente: o seu início foi a conquista de um novo poder, a bomba atômica, e o seu fim foi a Guerra do Golfo, quando os Estados Unidos escolheram outros símbolos do Mal para ocupar o lugar que antes pertencia ao comunismo, como o chamado fanatismo islâmico ou o narcotráfico." José Arbex Jr.
Socialismo e capitalismo: dois ideais de felicidade
A Guerra Fria se manifestou em todos os setores da vida e da cultura, representando a oposição entre dois ideais de felicidade: o ideal socialista e o ideal capitalista. Os socialistas idealizavam uma sociedade igualitária. O Estado era o dono dos bancos, das fábricas, do sistema de crédito e das terras, e era ele, o Estado, que deveria distribuir riquezas e garantir uma vida decente a todos os cidadãos.
Para os capitalistas, o raciocínio era inverso. A felicidade individual era o principal. O Estado justo era aquele que garantia a cada indivíduo as condições de procurar livremente o seu lucro e construir uma vida feliz. A solução dos problemas sociais vinha depois, estava em segundo plano.
É por isso que a implantação de um dos dois sistemas, em termos mundiais, só seria viável mediante o desaparecimento do outro. Nenhum país poderia ser, ao mesmo tempo, capitalista e comunista. Esta constatação deu origem ao maior instrumento ideológico da Guerra Fria: a propaganda.
A Corrida Armamentista
O filme "O Planeta dos Macacos", que mostra as dificuldades do ser humano na Terra no ano de 3.978, é um exemplo da preocupação do cinema norte-americano em abordar o tema da devastação nuclear, tão comum no período da Guerra Fria. Diversos filmes tratam do assunto, como "Síndrome da China" e "The Day After", na tentativa de fazer um alerta sobre os perigos da guerra nuclear. O surgimento da bomba atômica teve sérias implicações históricas, políticas e culturais. Durante o período da Guerra Fria, o pesadelo da chamada "hecatombe nuclear" rondou a vida dos habitantes do planeta. Acreditava-se que o ataque de um dos lados, num momento qualquer, desencadearia uma guerra que poria fim à vida humana na Terra.
Nós vamos ver de que modo a bomba atômica surgiu e se transformou num dos elementos principais do jogo de poder entre Estados Unidos e União Soviética. Um jogo macabro conhecido como "o equilíbrio do terror".
Einstein e a bomba atômica
O início da corrida armamentista nuclear foi marcado por um apelo de Albert Einstein ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, numa carta enviada em 1939. O físico alemão mostrava-se preocupado com a possibilidade de Hitler ter acesso à tecnologia nuclear antes dos americanos. Roosevelt decidiu ampliar os investimentos em pesquisas e determinou, em 1942, o início do Projeto Manhattan, voltado ao desenvolvimento da bomba atômica. Três anos depois, em julho de 45, a equipe de Robert Oppenheimer fez o primeiro teste bem sucedido de explosão nuclear no deserto de Alamogordo, no estado americano do Novo México.
Na mesma ocasião, realizou-se na Alemanha a Conferência de Potsdam. O presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, negociou com Josef Stalin, da União Soviética, e Winston Churchill, da Grã-Bretanha, a nova divisão do mundo após a Segunda Guerra. Informado do sucesso dos testes no Novo México, Truman endureceu sua posição na conferência e tentou limitar a influência soviética na Europa.
Para muitos historiadores, o marco inicial da Guerra Fria foi o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Nessa perspectiva, a destruição das duas cidades nada teve a ver com o Japão, já militarmente derrotado, e sim com a divisão geopolítica do mundo. O propósito dos Estados Unidos, para esses historiadores, foi de intimidar Moscou e conter o avanço do comunismo.
Em fevereiro de 47, Truman fez no Congresso americano um discurso que mais tarde ficaria conhecido como "Doutrina Truman". O presidente prometia acabar com a chamada "ameaça comunista" em qualquer parte do mundo onde ela surgisse. Era apenas o início de uma longa temporada de tensões internacionais que caracterizariam a Guerra Fria. A Europa se divide
Em abril de 1949, diversos países ocidentais, sob a liderança dos Estados Unidos, criaram a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte. A aliança consagrava, no aspecto militar, a divisão da Europa em dois blocos antagônicos. Os primeiros países a integrar a OTAN foram Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Canadá, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Portugal. Em 52, entraram a Grécia e a Turquia. Em 55, a Alemanha, e em 82, a Espanha.
A situação esquentaria ainda mais em agosto de 49, quando a União Soviética faria seu primeiro teste nuclear bem sucedido.
O antagonismo na Europa ficou mais evidenciado com a divisão da Alemanha em dois países, ainda em 49. A área ocupada pelo Exército soviético tornou-se a República Democrática da Alemanha e passou a integrar o bloco socialista. Sua capital era a parte oriental da cidade de Berlim, também dividida em duas.
Comunismo chinês: a Guerra Fria na Ásia
O ano de 1949 foi conturbado também no continente asiático. Em outubro, o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Tse-tung, tomou o poder e proclamou o nascimento de mais um país socialista, a República Popular da China. Um gigante continental com uma população, na época, de mais de 500 milhões de habitantes.
Os americanos, com a Doutrina Truman, não estavam alheios ao avanço da esquerda na Ásia e reforçaram a presença militar na bacia do Pacífico, procurando preservar sua influência no sudeste asiático. Dessa forma, a revolução chinesa levou para a Ásia as fronteiras da Guerra Fria. Havia o receio de que o Japão, pela proximidade com a União Soviética e a China, fosse engolido pelo bloco socialista.
Uma das primeiras consequências dos acontecimentos na China foi a invasão da Coréia do Sul pelos vizinhos norte-coreanos, de governo pró-soviético. Eles queriam reunificar o país sob a bandeira do socialismo. A ofensiva, em junho de 1950, desencadeou uma ação enérgica dos Estados Unidos, que aprovaram na ONU uma ajuda multinacional à Coréia do Sul. Era tudo o que os americanos queriam. Em algumas semanas, sua indústria bélica produzia uma quantidade expressiva de armamentos para uso na Guerra da Coréia.
Além disso, Washington estimulou a participação do Japão no chamado "esforço de guerra". A indústria japonesa passou a produzir o material de apoio aos soldados no front, como roupas, remédios e alimentos sintéticos. Com isso, o Japão tentou resolver o problema do desemprego por meio de compromissos econômicos com o bloco capitalista. No final do conflito, em 53, a rígida divisão entre capitalistas e socialistas na bacia do Pacífico estava cristalizada. Essa batalha estratégica pelo controle do sudeste asiático teria desdobramentos dramáticos nos anos 60, com o envolvimento direto dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
A corrida espacial
Ninguém sabe, exatamente, quando o homem teve pela primeira vez o desejo de voar. Sabemos que é uma ambição muito antiga. A mitologia, a arte e a literatura de todas as épocas e culturas estão repletas de imagens de homens-pássaros e do anseio humano de alcançar os céus.
A corrida espacial nos remete ao desenvolvimento tecnológico do século XX, particularmente do período da Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética disputavam quem obteria primeiro maior domínio e conhecimento do espaço. É claro que essa disputa tinha um significado científico e militar. Mas não era só isso. Talvez mais importante do que o aspecto da estratégia, havia também uma profunda questão psicológica e cultural envolvida. Para entender por quê, é preciso fazer uma pequena viagem no tempo.
De Ícaro a Isaac Newton
Uma das figuras mais célebres da mitologia é Ícaro, filho do arquiteto Dédalo de Creta. Para que Ícaro fugisse da ilha onde estava aprisionado, seu pai construiu-lhe asas de cera. Ícaro conseguiu escapar, mas sua ambição o levou a um vôo tão alto que o Sol acabou por derreter a cera. Ícaro caiu no mar e morreu. Num tempo bem mais recente e real, o homem tentou construir máquinas de voar. O gênio renascentista Leonardo Da Vinci, no início do século XVI, desenhou esquemas de aparelhos muito parecidos com os atuais helicópteros. O artista estudou a anatomia dos pássaros e seus movimentos de vôo. Apesar de avançadas, as concepções de Da Vinci não saíram do papel porque faltava-lhe o conhecimento das leis fundamentais da aerodinâmica, que seriam formuladas muito posteriormente.
Na mesma época, o astrônomo polonês Nicolau Copérnico causou um grande escândalo ao propor um modelo do sistema solar em que o centro seria o Sol e não a Terra, como pregava a Igreja Católica.
No século XVII, a investigação do espaço tornou-se mais fácil com o telescópio aperfeiçoado por Galileu. Em algumas semanas, o fundador da ciência experimental moderna foi capaz de fazer um mapa da face visível da Lua. Galileu teve sérios problemas com a Santa Inquisição por sustentar que os planetas se moviam e, principalmente, por apoiar a teoria heliocêntrica de Copérnico. Para a Igreja, as estrelas e os planetas estavam todos fixos na abóbada celeste, e a Terra era o centro do Universo.
Na mesma época, o astrônomo alemão Johannes Kepler calculava a órbita elíptica dos planetas. Alguns anos depois, ainda no século XVII, o físico inglês Isaac Newton viria a formular as leis da atração da gravitacional e do movimento dos corpos celestes.
A conquista do espaço e a literatura
À medida que o desenvolvimento da ciência tornava mais viável o sonho de voar, crescia o interesse da literatura pelo assunto. Nos séculos XVIII e XIX, grandes escritores tentaram captar a força dos sentimentos quase mágicos provocados pela chamada "conquista do espaço". Em 1865, o romancista francês Jules Verne, um dos pioneiros da ficção científica, lançou o livro "Da Terra à Lua". Conta a história de um homem enviado ao espaço dentro de uma cápsula, impulsionada por uma espécie de canhão gigante.
Em 1898, o escritor e historiador Inglês H.G. Wells publicou o livro "A Guerra dos Mundos", abordando a possibilidade de vida em outros planetas. A obra seria a inspiração de Orson Welles em seu célebre programa de rádio de 1938. O programa, que provocou pânico nos Estados Unidos, simulava o ataque de Nova York por invasores marcianos.
Santos-Dumont
Quando o assunto é a conquista do espaço, a primeira coisa que normalmente nos vem à cabeça são os grandes foguetes. Mas antes deles houve um longo processo de invenções e descobertas, desde os primitivos mísseis usados pelos chineses contra o exército de Kubilai Khan, no século XIII, até as máquinas voadoras mais pesadas que o ar.
Nesse sentido, a história da conquista espacial daria um grande salto em 1901, ano em que o engenheiro brasileiro Alberto Santos-Dumont fez um pequeno vôo em torno da Torre Eiffel, em Paris. A façanha foi a bordo de um balão de hidrogênio equipado com um pequeno motor a gasolina. A experiência, que deu fama a Santos-Dumont, coroou um longo trabalho para tornar dirigíveis os aparelhos mais leves que o ar.
Mas o grande êxito do inventor brasileiro seria obtido em outubro de 1906, com o histórico vôo do 14-Bis. Pela primeira vez, um aparelho mais pesado que o ar foi capaz de levantar vôo por meios mecânicos próprios. Começava ali uma nova fase na história da humanidade.
O que Santos-Dumont não calculou foi o potencial destrutivo de seu invento, quando utilizado como arma de guerra.
Para desgosto do Pai da Aviação, já na Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, era evidente o significado bélico da conquista do ar. Naquela época, a falta de instrumentos precisos de balística para determinar a trajetória das bombas contribuiu para a devastação de centros urbanos e para a morte de um número assombroso de civis. A humanidade estava ingressando na era da alta tecnologia de destruição.
Dos monomotores aos bombardeiros
Depois da Primeira Guerra, a indústria da aeronáutica experimentou um extraordinário crescimento. Dos pequenos monomotores a hélice de 1914, a indústria militar passou à fabricação de bombardeiros de grande porte.
Na Segunda Guerra Mundial, os aviões tinham capacidade de transportar um número expressivo de pára-quedistas, de interceptar aeroplanos e de lançar detonadores de minas submarinas inimigas. Além disso, os alemães já contavam com o primeiro avião a jato, criado em 1928. O modelo deu origem ao jato de combate He-280, utilizado na Segunda Guerra a partir de 1941.
O grande salto qualitativo na conquista do espaço, no entanto, seria representado pelo sinistro foguete V-2, concebido no fim dos anos 30 pelo físico alemão Werner Von Braun. A "arma da vingança", como ficou conhecido o V-2, era movida a combustível líquido e possuía um alcance de 322 quilômetros. A simples existência do armamento deixava a Europa em pânico. Mais de 4 mil foguetes V-2 foram lançados contra Londres, entre setembro de 1944 e março de 1945. A pesquisa necessária à fabricação do V-2 viria a ser utilizada no desenvolvimento da tecnologia espacial soviética e americana durante a Guerra Fria.
A Espionagem
Um dos temas mais frequentes nas telas de cinema a partir da década de 60 é a espionagem. Cineastas americanos e europeus produziram aventuras, dramas e comédias com espiões dos mais diversos tipos. Quando o assunto é espionagem, a primeira coisa que geralmente nos vem à cabeça é a figura do superespião James Bond. "Moscou Contra 007" é o segundo filme da série baseada nos livros de Ian Fleming, ele mesmo um ex-agente britânico em Moscou, nos anos 50.
Os filmes de James Bond, feitos na Inglaterra, estão diretamente ligados ao período de tensão entre as superpotências, e dão uma ideia da importância do cinema no cenário da Guerra Fria. Mostram as aventuras de um sedutor espião ocidental em luta contra vilões aparentemente a serviço da União Soviética. Por mais que se fale em agentes americanos e soviéticos, curiosamente o espião mais célebre do cinema é britânico e está a serviço de Sua Majestade.
É verdade que, no mundo real, os serviços secretos europeus estiveram bem ativos durante o período da Guerra Fria. Mas as duas grandes forças da comunidade de informações eram mesmo a CIA e a KGB. E é sobre o mundo real da espionagem que vamos falar hoje. Um mundo desprovido de conceitos como moral e ética, em que para cada espião infiltrado num país estrangeiro existia um batalhão de funcionários públicos anônimos, encarregados de coletar dados na imprensa e tabular informações fornecidas por embaixadas e consulados. Uma rotina que fazia parte de uma história ainda muito mal contada.
Espionagem, ofício antigo
Foi durante a Guerra Fria que a espionagem adquiriu a importância que tem hoje. Mas não é uma atividade recente na história da humanidade. Entre os hititas, povo indo-europeu que há mais de 3 mil anos habitava a região onde hoje é a Turquia, já circulavam informes sobre os inimigos, escritos em pedaços de argila. O primeiro tratado conhecido sobre espionagem é do ano 510 antes de Cristo. Chama-se "Princípios da Guerra", e foi elaborado pelo estrategista chinês Sun-tzu. Mas foram necessários dois milênios até que os Estados investissem em agências de espionagem e informação.
Até o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, os poucos serviços secretos operavam de forma precária e amadorística. Na época, não havia uma agência desse tipo nos Estados Unidos. Na França e na Grã-Bretanha, os serviços secretos estavam paralisados por escândalos políticos. Na Rússia, as atividades de espionagem da era czarista desmoronavam sob os efeitos da guerra e da revolução comunista. E, entre os alemães, o serviço razoavelmente eficiente era desprezado pelos generais prussianos, mais interessados no poderio militar.
Alguns historiadores acreditam que, se as potências da época contassem com uma rede eficiente de informações, a Primeira Guerra poderia ter sido evitada. Ninguém esperava pelos desdobramentos dos conflitos nos Bálcãs, que culminaram numa guerra global até certo ponto involuntária.
Já na Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, o dirigente soviético Josef Stalin teria menosprezado uma importante informação de um de seus espiões, que fornecia exatamente o dia e a hora em que Adolf Hitler iniciaria a invasão da União Soviética. Stalin já havia condenado à morte seus mais respeitados estrategistas, entre 1938 e 1939. Assim, a ofensiva nazista, em junho de 41, apanhou os soviéticos de surpresa e sem seus melhores quadros militares.
Da mesma forma, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, não teria dado crédito às informações sobre um provável ataque do exército japonês à base americana de Pearl Harbor, no Havaí, em dezembro de 41.
Século XX: nova força à espionagem
Esses episódios, que poderiam ter sido evitados através de um sistema de informações, foram decisivos para os investimentos em serviços de espionagem. A formação de dois grandes blocos econômicos depois da Segunda Guerra, liderados por Estados Unidos e União Soviética, também foi um fator importante para o desenvolvimento da chamada comunidade de informações. Pela primeira vez na história, o planeta havia se tornado uma arena gigante, onde duas superpotências desafiavam-se mutuamente. Nesse novo cenário, os inimigos desenvolviam tecnologias de destruição cada vez mais poderosas, destrutivas, rápidas e eficazes.
Sem dúvida, forças tão formidáveis exigiam um balanço permanente e atualizado de ambos os lados. Cada superpotência precisava estar sempre por dentro das conquistas tecnológicas do adversário. Assim, chegamos ao ponto que nos interessa: o desenvolvimento das técnicas de espionagem no período da Guerra Fria.
Espionagem e revolução
Na União Soviética, as relações internacionais no início da Guerra Fria estimularam a modernização do serviço secreto, criado em 1917 durante o processo revolucionário. Na época, chamava-se Cheka, iniciais de "Comitê Contra Atos de Sabotagem e Contra-Revolução". Como Cheka, o serviço combateu as atividades internas contrárias à revolução comunista. Era o período de guerra civil, que se prolongou até 1921. Em 1922, ano da criação da União Soviética, passou a se chamar GPU, iniciais de "Administração Política do Estado". A GPU tornou-se a polícia política de um Estado já consolidado, e investiu contra os inimigos clandestinos do novo regime.
Nos anos 30, o serviço passou a atuar diretamente sob as ordens de Stalin e acabou rebatizado como NKVD, "Comissariado do Povo para Assuntos Internos". Foi um período de intensa perseguição aos adversários políticos do líder soviético, dentro do próprio partido comunista. Muitos deles foram torturados e executados.
O caso mais célebre é o do ex-chefe do Exército Vermelho, Leon Trotsky. Exilado no México, ele foi assassinado em 1940 por Ramon Mercader, um ativista espanhol supostamente instruído pelo NKVD. O atentado contra Trotsky foi uma das poucas ações internacionais atribuídas ao serviço secreto soviético, na época. Até o final da Segunda Guerra, as principais funções do NKVD relacionavam-se ao controle e à repressão dentro do próprio país. Anos 50: surge a KGB
Com a divisão do mundo em blocos e o início da Guerra Fria, o sistema de informações soviético foi gradativamente ampliando sua presença em outros países. O ano de 1954 foi decisivo nesse processo. Logo após a morte de Stalin, em 53, o chefe da NKVD, Laurenti Beria, tentou tomar o poder. Acabou executado por ordem da cúpula do Partido Comunista, que reformulou toda a estrutura do serviço secreto. A KGB surgia, nesse cenário, com a missão de conciliar a manutenção do controle interno com uma ação mais efetiva fora do território soviético.
A situação era tensa na Europa. Forças da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada em 1949, movimentavam-se nas bases militares instaladas nas fronteiras com a Europa Oriental. No bloco socialista, havia sinais de insatisfação popular na Alemanha Oriental, Hungria e Polônia.
Numa tentativa de unir os países do bloco e fazer frente à OTAN, Moscou tratou de criar, em 1955, o Pacto de Varsóvia. A KGB passou a operar dentro dos aparelhos de Estado e dos serviços secretos desses países, e também na imprensa e nas associações de trabalhadores. A central soviética de informação e espionagem tornou-se uma sombra onipresente em todas as instâncias da sociedade.
Em meio a denúncias de assassinatos e de violação sistemática dos direitos humanos contra presos políticos, a KGB coordenou, em 1956, a invasão da Hungria pelos tanques do Pacto de Varsóvia. No mesmo ano, orientou a repressão de um movimento reformista na Polônia. A forte influência da KGB junto à cúpula do Pacto de Varsóvia foi decisiva para a iniciativa do governo da Alemanha Oriental de erguer o Muro de Berlim, em 1961.
"Podemos afirmar que a KGB era a própria alma do sistema soviético. é simples mostrar isso. No auge do império comunista, após a Segunda Guerra, a União Soviética era formada por 15 repúblicas que abrangiam um território de 22 milhões de km² , quase três vezes o tamanho do Brasil, e com uma população de mais de 200 milhões de habitantes. Essa população era composta por povos que falavam pelo menos 300 idiomas e professavam todas as grandes religiões conhecidas. Apesar dessa tremenda diversidade cultural, e das diferenças econômicas e históricas, só havia um partido político legalizado: o Partido Comunista. É claro que a ditadura de partido único só podia se manter às custas da mais feroz repressão. Sem a KGB, não existiria a União Soviética.
O Terrorismo
Sempre que ouvimos falar em terrorismo, lembramos logo dos atentados a bomba, dos sequestros de avião e de outras ações violentas praticadas por extremistas. E pensamos nas vítimas, em geral pessoas inocentes, muitas vezes mulheres e crianças, que apenas estavam no lugar errado na hora errada. O método básico do terrorismo é a destruição da vida humana, em nome de certos princípios ideológicos, políticos ou religiosos.
O terrorismo não surgiu em nosso século, mas seu auge aconteceu durante os anos da Guerra Fria, depois da Segunda Guerra Mundial. Não foi por acaso. A Guerra Fria pode ser descrita como um sistema de equilíbrio entre dois blocos inimigos que se baseava no terror. Afinal, o poder de destruição nuclear dos Estados Unidos e da União Soviética era tão grande que ninguém poderia iniciar uma guerra total. Seria o fim da espécie humana. Essa mentalidade consagrou o terror como forma de relacionamento entre Estados. Nesse sentido, a chamada "cultura da Guerra Fria" foi o grande estímulo à multiplicação de grupos terroristas.
O que é terrorismo?
Formalmente, terrorismo é o uso da violência sistemática, com objetivos políticos, contra civis ou militares que não estão em operação de guerra. Existem muitas formas de terrorismo. Os terroristas religiosos praticam atentados em nome de Deus; já os mercenários recebem dinheiro por suas ações; os nacionalistas agem movidos por um ideal patriótico. Há ainda os ideólogos, que armam bombas motivados por uma determinada visão de mundo. E, muitas vezes, o que se vê é uma mistura de tudo isso com desespero e ódio.
Por outro lado, houve no século XX o crescimento do terrorismo de Estado, em que é adotada a política de eliminação física de minorias étnicas ou de adversários de um regime. Um exemplo é o regime racista da África do Sul, responsável por ações terroristas contra a maioria negra do país até o fim do apartheid, no início dos anos 90. Na América Latina, as ditaduras militares dos anos 60 e 70 promoveram o terrorismo de Estado contra seus opositores, torturando e matando milhares de pessoas. No Oriente Médio, os palestinos de cidadania israelense e os habitantes dos territórios de Gaza e Cisjordânia foram segregados e sofreram ataques das forças armadas de Israel, entre 1967 e 1993. O terrorismo de extremistas muçulmanos contra judeus de Israel, por sua vez, também aterrorizou e matou pessoas inocentes, principalmente a partir da década de 80.
Muitos historiadores e intelectuais avaliam que as bombas atômicas jogadas pelos Estados Unidos sobre o Japão, em agosto de 45, foram o maior atentado terrorista já praticado até hoje. Mais de 170 mil civis perderam a vida num ataque que não tinha como objetivo vencer a guerra, mas fazer uma demonstração de força para a União Soviética.
Violência e terrorismo
Muitas vezes ouvimos dizer que todo ato de violência é terrorismo, mas isso é força de expressão. Nem sempre um ato de violência é terrorista, mesmo quando a vítima é uma personalidade política. A tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em 1981, é um exemplo de violência sem conotação política. O autor dos disparos, John Hinckley Jr., agiu isoladamente, motivado por questões pessoais. Já o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em 1995, este sim, foi um ato terrorista.
O atentado contra Reagan não teve o objetivo de fazer propaganda política ou ideológica, ao passo que a morte de Rabin fazia parte da estratégia política de uma organização radical. O objetivo era interromper o processo de paz no Oriente Médio. De qualquer modo, atentados contra chefes de Estado fazem parte de uma longa história de práticas terroristas mundo afora.
Terrorismo na era contemporânea
Na era contemporânea, a França conheceu o regime de terror implantado pelos jacobinos de Robespierre a partir de 1793, pouco depois da Revolução Francesa. Quase um século depois, em 1881, o czar Alexandre Segundo, da Rússia, foi assassinado pela organização terrorista "Vontade do Povo". E, no início do século XX, o estopim que deflagrou a Primeira Guerra Mundial foi o atentado contra o arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando, em 1914. Ele foi morto pelo estudante Gavrilo Prinzip, do grupo terrorista sérvio "Mão Negra". "Até os anos 20, o terrorismo era um fenômeno no tempo e no espaço, de dimensões relativamente pequenas, transitórias e restritas. Ele começou a ganhar maior abrangência e importância com o surgimento dos regimes totalitários de Josef Stalin e Adolf Hitler.
Já no final dos anos 20, Stalin enviava aos campos de concentração centenas de milhares de opositores ao seu regime, sem contar os treze milhões de camponeses executados por resistirem à coletivização de suas terras, entre 1929 e 1932. Na Alemanha dos anos 30, Hitler iniciou a perseguição aos comunistas, judeus, ciganos e outras minorias étnicas.
Até o final da Segunda Guerra, em 1945, seriam assassinados seis milhões de seres humanos pela máquina nazista. Os dois regimes de terror tinham algumas características muito semelhantes: o culto à personalidade do dirigente, no caso Stalin e Hitler, e os poderes absolutos da polícia política, no caso a KGB e a GESTAPO."
Terrorismo e poderio nuclear
O desenvolvimento da tecnologia nuclear, a partir do fim da Segunda Guerra, causou uma importante mudança na mentalidade das pessoas, do ponto de vista psicológico e cultural. A morte deixou de ser uma consequência natural da vida para se tornar uma questão política. A preservação da espécie humana passou a depender da decisão das superpotências de iniciar ou não um confronto nuclear fatal para o planeta.
O mundo dos anos 50 não apresentava perspectivas muito animadoras. Na primeira metade do século, guerras, revoluções e conflitos localizados haviam consumido a vida de pelo menos 150 milhões de pessoas. Além disso, a tragédia atômica em Hiroshima e Nagasaki havia colocado o mundo sob a sombra permanente de um holocausto nuclear.
Guerrilha e terrorismo: vertentes distintas
No final dos anos 50, o êxito da revolução cubana abriu novos horizontes para uma juventude desiludida. A vitória de Fidel Castro, contra uma ditadura corrupta sustentada pelos Estados Unidos, representou para muitos jovens a vitória do idealismo. Militantes de todo o mundo ganharam nova disposição de luta. Muitos jovens optaram pela vida clandestina, que oferece dois caminhos: a guerrilha e o terrorismo.
A guerrilha, de um modo geral, realiza ataques contra objetivos militares e alvos estratégicos. Tenta conquistar a simpatia da população para formar seu próprio exército e, eventualmente, tomar o poder. Os grupos terroristas utilizam o método inverso, intimidando pessoas inocentes para alcançar seus objetivos.
O Bloco Socialista: Leste Europeu Em junho de 1941, a União Soviética era invadida pelas tropas de Adolf Hitler. O objetivo era aniquilar o que Hitler chamava de "câncer comunista". Depois de três anos de guerra em solo soviético e quase trinta milhões de mortos, o Exército Vermelho de Josef Stalin reverteu a situação e iniciou sua marcha rumo a Berlim, a capital da Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial. Os soviéticos foram os primeiros a ocupar Berlim, em abril de 1945. Cercado pelos comunistas, o fuhrer cometeu suicídio, em 30 de abril. Dois dias depois, Berlim capitulou.
Com o triunfo militar, a União Soviética ficou em boa posição para sentar-se à mesa de negociações, junto com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. Os líderes das potências vitoriosas tomaram para si a tarefa de reorganizar a estrutura geopolítica, econômica e financeira do mundo. Entre muitas decisões vitais para o planeta estava o futuro da região situada entre a Alemanha e a União Soviética, mais tarde chamada de Europa do Leste, ou Europa Oriental. Uma região de fundamental importância durante todo o período da Guerra Fria.
Conferência de Potsdam: formação do bloco socialista Josef Stalin, da União Soviética, Harry Truman, dos Estados Unidos, e Winston Churchill, da Grã-Bretanha, reuniram-se na Conferência de Potsdam, no subúrbio de Berlim, de 17 de julho a 2 de agosto de 1945. Durante o encontro, Churchill foi substituído por Clement Attlee, do Partido Trabalhista inglês, vencedor das eleições e novo primeiro-ministro britânico.
Na cúpula de Berlim, o mundo foi partilhado entre comunistas e capitalistas, dando origem aos blocos da Guerra Fria. O líder soviético, Josef Stalin, apresentou um fato consumado: seu país já ocupava toda a região da Europa a leste da Alemanha. Na conferência, a área foi formalmente reconhecida como de influência soviética.
De um modo geral, a ocupação da Europa do Leste pelo Exército Vermelho e a imposição da política de Moscou aconteceram sem grandes resistências. As instituições políticas e as organizações sociais haviam sido desmanteladas pelas tropas de Hitler. Na Albânia e na Iugoslávia, no entanto, a União Soviética encontrou lideranças e instituições mais sólidas.
Na Iugoslávia havia uma estrutura comunista bem organizada por Josip Broz Tito. O dirigente, após anos de resistência contra o ocupante nazista, decidiu não compartilhar com Stalin as decisões sobre os destinos de seu país. Até sua morte, em 1980, manteve uma política independente de Moscou.
Na Albânia aconteceu um processo semelhante. O líder comunista Enver Hodja havia estruturado um forte grupo de resistência ao ocupante italiano, e assumido o poder após a derrota do Eixo, em 1945. Hodja também ficaria no poder até morrer, em 1985. Mas, diferentemente de Tito, manteve boas relações com Stalin.
No final de 1948, Moscou estendia seu domínio até a Europa Central, numa vasta região que englobava a Polônia, a Hungria, a Tchecoslováquia, a Romênia e a Bulgária.
Alemanha: divisão complexa
A inclusão da Alemanha no bloco socialista foi mais complicada, porque o país estava dividido em dois.
A parte oriental sob influência de Moscou, e a parte ocidental subdividida entre a França, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. A capital Berlim, situada na área controlada pelos soviéticos, adquiriu uma configuração bizarra: a parte oeste da cidade tornou-se uma ilha capitalista cercada de socialismo por todos os lados.
As negociações foram difíceis por causa das tensões provocadas pelo Plano Marshall, um programa de ajuda aos países europeus ocidentais elaborado pelo secretário de Estado norte-americano George Marshall, em 1947. Os Estados Unidos passaram a injetar dinheiro na Alemanha e apoiaram a convocação de uma assembleia constituinte nas zonas ocidentais, marcada para setembro de 1948.
Os soviéticos, por sua vez, decidiram retirar seu representante do Conselho de Controle Interaliado, que administrava a Alemanha desde a Conferência de Potsdam. Com a saída soviética, a Grã-Bretanha, a França e os Estados Unidos realizaram uma reforma monetária na Alemanha. Surgiu uma nova moeda, o Deutche Mark, desvinculada da moeda emitida no leste pela União Soviética. Em pouco tempo, o novo dinheiro invadiu o setor oriental, criando instabilidade na economia socialista e gerando a primeira crise berlinense.
Em junho de 48, Stalin ordenou o bloqueio de Berlim, proibindo a entrada de trens e caminhões de suprimentos no setor capitalista da cidade. Em reação, os países ocidentais organizaram uma grande ponte aérea, que por quase um ano abasteceu os dois milhões de habitantes do lado oeste de Berlim.
O bloqueio foi suspenso em maio de 49. Em seguida, foi anunciada a criação da República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental, com capital em Bonn. Em outubro de 49, foi proclamada a República Democrática Alemã, ou Alemanha Oriental, com capital em Berlim Oriental. Nos primeiros anos do pós-guerra, o mundo estava se acomodando à nova ordem econômica e política, regida pelas duas maiores potências, Estados Unidos e União Soviética. Com a divisão formal da Alemanha, em 1949, estava configurada a Cortina de Ferro, como Churchill referia-se ao bloco socialista. E, com ela, o cenário definitivo da Guerra Fria na Europa.
Plano Marshall: reação ocidental
Àquela altura o Plano Marshall estava em plena execução, com grandes investimentos americanos na Europa. O Plano Marshall havia surgido a partir da Doutrina Truman, lançada em 1947 pelo presidente americano Harry Truman. Segundo a doutrina, os Estados Unidos não mediriam esforços para conter o expansionismo soviético.
Definida a nova configuração da Europa, e sedimentada a concepção dos blocos econômicos, as tensões internacionais só viriam a aumentar, com demonstrações de hostilidade mútua por parte das superpotências.
A criação da OTAN
Em abril de 49, antes mesmo do fim do bloqueio de Berlim, os Estados Unidos criaram a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, com a participação do Canadá, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Portugal. A Grécia e a Turquia ingressariam em 52, a Alemanha Ocidental em 55 e a Espanha em 82.
Uma das principais resoluções da OTAN garantia a defesa em bloco no caso de um ataque armado a qualquer país membro da organização. Os Estados Unidos queriam assegurar a hegemonia militar na Europa capitalista, e também garantir um ataque rápido e eficiente no caso de um confronto com a União Soviética.
No momento de criação da OTAN, tropas soviéticas e americanas realizavam manobras provocativas nas fronteiras da Alemanha. Eram tensas as relações entre Washington e Moscou.
Em março de 53, Stalin morria sem ter presenciado qualquer turbulência mais séria num país sob influência soviética. O primeiro conflito aconteceria logo em seguida, em junho, quando uma greve de operários de Berlim Oriental seria reprimida com violência pelo exército da Alemanha socialista.
Com a morte de Stalin, teve início uma guerra surda na cúpula do Partido Comunista soviético. Em setembro de 53, Nikita Khruschev foi eleito primeiro-secretário do Partido. Mas o novo líder consolidaria seu poder somente em 1955. Para se fortalecer no Partido e isolar os adversários, Khruschev adotou uma linha reformista e rompeu com o stalinismo, denunciando os crimes de Stalin durante o Vigésimo Congresso do Partido Comunista, em 1956. Na área da política externa, o novo líder propôs o diálogo e a coexistência pacífica.
A criação do Pacto de Varsóvia
Ao mesmo tempo, Khruschev tornava-se o principal arquiteto do Pacto de Varsóvia, um organismo militar criado em maio de 1955 como resposta à adesão da Alemanha à OTAN. O Pacto teve, no início, a participação da União Soviética, Albânia, Alemanha Oriental, Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia, Polônia e Hungria.
Em 1956, aconteceu na Hungria a primeira intervenção das forças do Pacto. No primeiro semestre, o país viveu um período liberal, sob o comando do dirigente Imre Nagy. A União Soviética acompanhou os acontecimentos a distância. Em outubro, Nagy decidiu retirar a Hungria do Pacto de Varsóvia, o que provocou a reação imediata de Moscou. Tanques do próprio Pacto entraram em Budapeste, pondo fim à iniciativa. Dois anos depois, Imre Nagy seria executado como traidor.
Também em 56, os operários poloneses, influenciados pela Igreja Católica, iniciaram uma série de protestos que o Partido Comunista reprimiu antes da intervenção do Pacto. O Bloco Socialista
De um modo geral, quando o assunto é Ásia, nos lembramos logo dos países mais importantes do Oriente: a China, a Índia e o Japão. Um deles é o nosso ponto de partida: afinal, a China de Mao Tse-tung colocou de vez o continente asiático no cenário da Guerra Fria.
Na verdade, já havia um regime socialista na Ásia desde 1924, a República Popular da Mongólia. Depois viriam o Vietnã do Norte, em 1945, e a Coréia do Norte, em 48. Mas sem dúvida foi a entrada da China no mundo socialista que abalou o equilíbrio entre as grandes potências no final dos anos 40. Com a chegada de Mao Tse-tung ao poder, a política interna dos países asiáticos passou a ser influenciada pela lógica da Guerra Fria.
O império japonês
A ascensão comunista na Ásia do Pacífico teve muito a ver com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Desde o fim do século XIX, o Japão imperial havia ocupado inúmeros territórios e arquipélagos do Pacífico. No ano de 1910, havia anexado a Coréia. Nos anos 30, iniciou a invasão da China e criou o Estado Manchukuo sob o cetro de Pu-Yi, o último imperador chinês.
Em 1937, o império nipônico iniciou a invasão da China em larga escala. Um ano antes, o Japão e a Alemanha de Hitler haviam firmado o Pacto Anti-Komintern, um prenúncio da formação do Eixo Berlim-Roma-Tóquio. Em 42, o Japão já ocupava a Indochina, a Indonésia, Malásia, Filipinas, Papua Nova Guiné, Hong Kong, as Ilhas Salomão, Cingapura, Birmânia e as ilhas Guam, além de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados da China.
Em todos esses países e territórios, a ocupação japonesa provocou o surgimento de movimentos nacionalistas de resistência, em sua maioria apoiados pelo Ocidente. No final da Segunda Guerra, o Japão já havia sido expulso de praticamente todos eles.
Coréia e Índia: socialismo e independência
A Coréia era um desses casos. Anexado ao Japão em 1910, o país tinha tradição de resistência ao invasor. Em 32, o líder oposicionista Kim IL-Sung se destacava à frente de um exército revolucionário antijaponês. No fim da Segunda Guerra, a Coréia foi partida em dois territórios, divididos pelo paralelo 38. A região norte ficou sob controle da União Soviética.
Em 1948, com o apoio de Moscou, o líder Kim-IL-Sung fundou a República Democrática Popular da Coréia, a Coréia do Norte, com a intenção de exercer jurisdição sobre todo o país. No mesmo ano, a Coréia do Sul, sob intervenção dos Estados Unidos, realizou eleições para pôr fim à ocupação, formando um governo que também reclamava jurisdição sobre todo o território.
Outro fato importante nos anos que precederam a revolução chinesa foi a conquista da independência da Índia, em 1947, pondo fim ao império colonial britânico na Ásia. Àquela altura já vigorava a Doutrina Truman, anunciada em fevereiro de 47 pelo presidente dos Estados Unidos, Harry Truman. Em discurso no Congresso americano, Truman comprometeu-se a prestar assistência a qualquer país onde se verificasse o avanço do movimento comunista. Um compromisso que esquentou a temperatura das relações internacionais no final dos anos 40.
De um lado, a Índia saía da dominação britânica. De outro lado, a Coréia do Norte formalizava sua adesão ao socialismo. E, para aumentar ainda mais a dor de cabeça dos norte-americanos, Mao Tse-tung ganhava força na China em sua luta contra o Partido Nacionalista, o Kuomintang do líder Chiang Kai-shek.
A Era de Mao Tse-tung
A luta dos comunistas pela tomada do poder na China começou em 1921, com a criação do Partido Comunista em Xangai. Mao Tsé-tung foi um dos fundadores. Até 1927, os partidos Comunista e Nacionalista agiam em frente única contra os caudilhos militares que dominavam quase todo o país. Com o rompimento da frente única, o Kuomintang assumiu o controle do país, enquanto os comunistas refluíam para o campo. Teve início, nessa época, uma guerra civil que se estenderia por 10 anos.
A luta entre Mao Tse-tung e Chiang Kai-shek foi interrompida em 1937, quando os dois partidos uniram forças para combater o invasor japonês. A trégua durou até a derrota dos japoneses e o fim da Segunda Guerra, em 45.
Acuados pelas forças de Mao, os nacionalistas fugiram para a ilha de Taiwan, conhecida também como Formosa. Lá, Chiang Kai-Shek continuou a encabeçar o governo da República da China. Garantido pelo apoio norte-americano, Chiang tomou para si o assento da China nas Nações Unidas e em seu Conselho de Segurança.
Em outubro de 49, Mao Tse-tung chegava ao poder. Com uma área de 9 milhões e 600 mil quilômetros quadrados e 21 mil quilômetros de fronteiras com 14 países, a China contava na época mais de 500 milhões de habitantes.
Washington passou a temer que a vitória comunista na China provocasse uma reação revolucionária em cadeia em toda a Ásia do Pacífico. Para a Casa Branca, o próprio Japão, com a economia devastada pela Guerra, era um forte candidato a se tornar comunista. Os Estados Unidos, fiéis à doutrina Truman, estudavam uma intervenção militar na região.
Guerra da Coréia
A oportunidade chegou em junho de 1950, com os conflitos entre o sul e o norte da Coréia, na região dividida pelo paralelo 38. As duas partes reivindicavam para si a hegemonia sobre todo o país.
Os Estados Unidos, liderando uma força multinacional da ONU, enviaram, em setembro, suas tropas em auxílio ao governo sul-coreano. Ao mesmo tempo, fizeram grandes encomendas ao Japão, que ficou encarregado de fabricar roupas e suprimentos para as tropas na frente de batalha. Dessa forma, o Japão pôde iniciar a reconstrução de sua economia. A Guerra da Coréia durou três anos e matou pelo menos três milhões e quinhentas mil pessoas. No final, tudo como antes. As fronteiras permaneciam as mesmas, no paralelo 38, e os regimes dos dois países também: o norte sob o domínio dos comunistas pró-soviéticos e o sul controlado pelos capitalistas pró-Estados Unidos.
Indochina: derrota francesa
A situação continuou explosiva na Ásia do Pacífico. A Guerra da Coréia terminou em julho de 53, mas, dez meses depois, em maio de 54, a França sofreu uma derrota histórica no Vietnã, na batalha de Dien Bien Phu. Foi o fim da Guerra da Indochina, iniciada em 1946. A derrota francesa, além de pôr fim ao período colonial na região, serviu de estímulo aos movimentos nacionalistas que pipocavam ao sul da China.
Depois da Segunda Guerra, a França, que havia capitulado no início do conflito mundial, tentava retomar o controle da Indochina, sob seu domínio desde a segunda metade do século XIX. Mas enfrentava os movimentos que lutavam pela independência da região. O grupo de resistência mais forte era o Vietmin, fundado em 1941 e liderado pelo comunista Ho Chi Min. Depois de várias vitórias contra o imperador Bao Dai, aliado do Japão, Ho Chi Min proclamou, em 45, a República Democrática do Vietnã, com capital em Hanói, no norte do país. Com o fracasso das negociações em torno da região sul, a França, fortemente apoiada pelos Estados Unidos e sua doutrina Truman, deu início à Guerra da Indochina. A batalha final aconteceu entre novembro de 53 e maio de 54. Os franceses consideravam estratégica a localização da aldeia de Dien Bien Phu. A derrota nesta batalha decidiu a guerra a favor de Ho Chi Min.
Para pacificar a região, uma conferência de paz realizada em Genebra, em julho de 54, celebrou a divisão provisória do Vietnã pelo paralelo 17 e a independência do Laos e do Cambodja. Ho Chi Min passou a chefe de Estado do Vietnã do Norte, enquanto no Vietnã do Sul o primeiro-ministro Ngô Dinh Diem destituiu o imperador Bao Dai, proclamando a República.
Os Estados Unidos, decididos a consolidar sua esfera de influência na Ásia do Pacífico, assinaram acordos de proteção com Japão, Filipinas, Coréia do Sul e Taiwan, além de formar um pacto militar com a Austrália e a Nova Zelândia. Os americanos criaram ainda a Organização do Tratado do Sudeste Asiático, integrado pelo Vietnã do Sul, o Laos e o Cambodja, além da França e da Grã-Bretanha. Essa série de acordos ficou conhecida como "cordão sanitário", uma tentativa de conter a expansão comunista na região.
O Terceiro Mundo: O Oriente Médio
O Oriente Médio é uma das regiões mais fascinantes do planeta. Habitado desde tempos imemoriais, é uma área estratégica do ponto de vista econômico, principalmente por causa do petróleo. É também um importante cenário geopolítico e militar, porque serve de passagem entre a Europa e a Ásia.
Com essas características, o Oriente Médio tornou-se um dos centros nevrálgicos da Guerra Fria. A criação do Estado de Israel, em 1948, agitou um passado milenar, que logo seria submetido ao jogo de xadrez das superpotências.
Em 1979, um fato novo desafiou Washington e Moscou. A revolução xiita do aiatolá Khomeini, no Irã, deu uma demonstração do poder latente da religião islâmica, com milhões e milhões de fiéis no mundo todo. Na verdade, a Guerra Fria no Oriente Médio sempre esteve filtrada pela força do Islã. É o que vamos ver a partir de agora.
Fim da 1ª Guerra Mundial: domínio franco-britânico e sionismo
Os países do Oriente Médio apresentam uma combinação curiosa: seus povos vivem há milênios na região, mas seus Estados e fronteiras são muito recentes. Essa talvez seja a causa de muitos de seus problemas.
Até 1918, a maior parte do Oriente Médio integrava o Império Otomano, derrotado na Primeira Guerra Mundial. Um pouco antes, em 1916, antecipando-se ao declínio dos turcos otomanos, a França e a Grã-Bretanha assinaram o acordo Sykes-Picot, tornando o Oriente Médio uma zona de influência franco-britânica.
Ao mesmo tempo, crescia na Europa a força do sionismo, um movimento lançado pelo escritor e jornalista húngaro Theodor Hertzl. Durante o Primeiro Congresso Sionista, em 1896, na Basiléia, Suíça, Hertzl lançou a campanha pela criação de Israel. A proposta era de retornar à Palestina, região onde havia existido uma nação judaica, o reino de Israel, no início da era cristã. O reino foi destruído pelos romanos. Os judeus, expulsos da região, dispersaram-se pelo mundo dando origem a um fenômeno conhecido como a diáspora judaica.
Mesmo espalhados pelo mundo, os judeus acalentaram, por muitas gerações, o sonho de voltar à chamada "terra prometida". Sonho que ganhou força com o movimento sionista, a partir do século XIX. Os ativistas judeus acreditavam que a reconquista de Jerusalém era um dever sagrado.
Adotaram o slogan "uma terra sem povo para um povo sem terra", referindo-se à Palestina. A região, na verdade, era ocupada havia muitos séculos pelos árabes palestinos. Este era só o início do impasse.
No final do século XIX , agências sionistas financiadas por grandes banqueiros, como o barão de Rotschild, criaram colônias agrícolas, estimulando a migração judaica para a região da Palestina.
Depois da Primeira Guerra, os assuntos do Oriente Médio passaram a ser decididos oficialmente em Londres e Paris, sem que fossem levadas em conta a história, a vontade, as tradições e a cultura dos povos que viviam na região.
Árabes reagem ao colonialismo
Com o fim da Primeira Guerra, as regiões da Síria e do Líbano ficaram sob domínio da França. As outras áreas que estavam controladas pelos otomanos, inclusive a Palestina, passaram para as mãos da Grã-Bretanha. O colonialismo da França e da Grã-Bretanha provocou fortes reações entre os árabes. Foi nesse contexto que surgiu no Egito a Irmandade Muçulmana, berço do fundamentalismo islâmico.
Quando surgiu, em 1929, a Irmandade pregava a expulsão dos estrangeiros e a volta aos princípios fundamentais do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Paralelamente à assistência aos mais pobres, a organização praticava uma guerra de guerrilha contra os ocupantes estrangeiros. O caráter militar da Irmandade foi se acentuando progressivamente.
Enquanto isso, nos anos 20 e 30, a Europa enfrentava uma série de crises nacionais, conflitos de interesses e movimentos revolucionários que iriam resultar na Segunda Guerra Mundial.
O nazismo e a crise na Europa estimulam a migração judaica Na Alemanha, Hitler capitalizou o descontentamento do seu povo, humilhado pela derrota na Primeira Guerra, e construiu uma monumental máquina bélica e militar. O ditador unificou o país apontando claramente um inimigo, contra o qual todos deveriam se unir. O judeu cosmopolita, segundo ele, era responsável por tudo de mal que havia no mundo. Hitler iniciou, assim, uma forte perseguição aos judeus a partir dos anos 30.
Uma das consequências desse novo período da história foi a intensificação da migração judaica para todas as partes do planeta, mas principalmente para a Palestina. Em pouco tempo, triplicou o número de judeus na região, de 10 para 30 por cento da população. A instalação dos novos imigrantes não foi tranquila. Os confrontos com a população árabe, majoritária, tornaram-se cada vez mais frequentes.
Um dos ativistas judeus dessa época, Menahem Begin, seria eleito décadas depois, nos anos 70, para o cargo de primeiro-ministro de Israel pelo Likud, o partido conservador israelense.
Anos 40: surge o Estado de Israel
Desgastados e impossibilitados de dar uma solução satisfatória para os conflitos, os britânicos decidiram abandonar a Palestina, passando o problema para a ONU. Em 1948, as Nações Unidas aprovaram a partilha da Palestina entre os Estados árabe e judeu. Havia um clima internacional favorável à criação de Israel, por causa do holocausto praticado pelos nazistas. Mas havia também muitos interesses geopolíticos em jogo.
Estava começando o período de tensão entre as superpotências, que iria se estender até o fim dos anos 80. Dessa forma, podemos dizer que os acontecimentos que conduziram à criação de Israel e transformaram o Oriente Médio foram influenciados pela lógica da Guerra Fria.
"Durante os anos mais sombrios na Europa, há 60 anos, não havia um exército para defender o povo judeu. Hitler sabia disso e aproveitou. Surgiu o Estado de Israel, que inseriu o judeu de novo no contexto da sociedade, no contexto do mundo. Os princípios da justiça social, dos direitos humanos, os princípios, valores e ideais dos fundadores do Estado de Israel continuam. E são estes os ideais que servem como uma inspiração. Israel, espero, vai voltar a ser uma luz para todos os povos, achando um modus-vivendi pacífico, justo, com os palestinos. Somos todos iguais, somos todos filhos de um único Deus. Portanto, devemos transcender os acordos de paz e transformá-los em relações de paz."
Rabino Henry Sobel
Presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista O dirigente soviético Josef Stalin acreditava que Israel poderia se tornar um país simpático à União Soviética, já que milhares dos imigrantes judeus de nacionalidade russa eram socialistas. Por outro lado, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos viam em Israel um provável representante dos interesses ocidentais, numa região estratégica.
Os palestinos e os Estados árabes não aceitaram a criação do novo país. Eclodiu assim a primeira guerra árabe-israelense. Israel venceu o conflito em 1949. O Estado árabe-palestino desapareceu, dividido entre Israel, Jordânia, que ficou com a Cisjordânia, e o Egito, que ficou com a Faixa de Gaza.
A crise do Canal de Suez
Sete anos depois, em 1956, o Oriente Médio seria palco de uma nova guerra. Dessa vez, pela posse do Canal de Suez.
O Egito era governado por Gamal Abdel Nasser, um político carismático e nacionalista. Ele fazia parte de um grupo de militares que derrubou a monarquia egípcia em 1952, instituindo um governo favorável a unificação de todos os árabes numa única grande nação. Nasser nacionalizou o Canal, desafiando abertamente britânicos e franceses. Além disso, proibiu o tráfego de navios israelenses, estrangulando o fornecimento de petróleo ao Estado judeu.
Em resposta, Israel, França e Grã-Bretanha organizaram uma ação militar conjunta contra Nasser. O chefe de Estado egípcio teria sido derrotado não fosse a intervenção americana e soviética no conflito. Os soviéticos queriam evitar que o Egito fosse novamente controlado pelos europeus aliados dos Estados Unidos. E Washington não estava disposto a brigar com Moscou pelo Canal de Suez. A saída foi um acordo: franceses e britânicos teriam de aceitar a nacionalização do Suez. E os egípcios, em compensação, teriam de garantir a todos o direito de utilizar o Canal.
A Guerra do Suez é um exemplo de que não eram os interesses nacionais que determinavam o curso dos acontecimentos, e sim a lógica da Guerra Fria. No caso do Egito, prevaleceu o jogo de equilíbrio entre Washington e Moscou.
O Terceiro Mundo: África
Sempre que ouvimos falar em África, logo formamos imagens de guerras, fome, seca, miséria. São quase 700 milhões de habitantes vivendo em 52 Estados, numa área de 30 milhões de quilômetros quadrados. Em seu conjunto, a população africana vive uma situação incomparável de tragédia humana.
Apesar da extrema miséria, a África ocupou um lugar importante durante a Guerra Fria. A luta pela independência, desenvolvida por grupos nacionalistas em diversos países africanos, ganhou força na segunda metade do século XX. O apoio a esses grupos, por parte de Washington e Moscou, contava pontos na disputa ideológica entre as duas superpotências.
Vamos relembrar um pouco da história da África e analisar o processo de descolonização do continente dentro do contexto da Guerra Fria.
Impérios coloniais: declínio
No final da Segunda Guerra Mundial, não havia mais clima político no mundo para a preservação de impérios coloniais. A guerra marcou a derrota do Japão, da Alemanha e da Itália, países que tinham um projeto declaradamente colonialista.
A própria criação da Organização das Nações Unidas, a ONU, em junho de 1945, tinha formalmente, como premissa, assegurar a igualdade entre todos os países do mundo. Nesse quadro, os impérios coloniais ainda existentes eram uma anomalia, o resquício de um ciclo histórico já ultrapassado.
Na realidade, a estrutura da ONU sempre refletiu a distribuição do poder na Guerra Fria. A composição do Conselho de Segurança é o melhor exemplo disso. Começou com 11 membros, depois ampliados para 15, sendo 5 permanentes e com poder de veto: Estados Unidos, União Soviética, França, Grã-Bretanha e China.
"A questão é que os países que realmente venceram a guerra - Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha, França e China - vão formar aquilo que se chama, no Conselho de Segurança, de bloco de países com direito a veto. Isso significa que qualquer decisão tomada pelo Conselho pode ser barrada por um desses cinco países. Agora, o que significa isso em termos, por exemplo, das regiões que estavam sendo colonizadas? Ficava muito estranho que essas nações todas tivessem lutado contra as nações totalitárias, pela democracia, pela liberdade, e ao mesmo tempo possuíssem colônias. Esse era o caso da França e especialmente da Grã-Bretanha, que possuía um vasto império colonial. Nesse sentido, fica claro que num determinado momento essas potências seriam colocadas em xeque e obrigadas a ceder a independência a todas as suas colônias."
Apesar do poder de veto, as potências coloniais estavam em declínio, abaladas por duas guerras mundiais e por crises econômicas. Em 1947, a Grã-Bretanha foi obrigada a ceder a independência à Índia, sob o impacto de um movimento nacionalista liderado pelo Mahatma Gandhi. Em 1954, foi a vez de a França ser expulsa da Indochina pelos guerrilheiros vietnamitas de Ho Chi Min, encorajados pela vitória comunista na China. Pan-Africanismo
Os sinais de enfraquecimento dos impérios coloniais, somados ao apoio retórico da União Soviética às lutas nacionalistas, estimularam as lideranças africanas a buscar o caminho da independência.
Um dos primeiros projetos foi o do pan-africanismo, ou a união de todas as nações africanas, formulado pelo líder negro Jomo Kennyata, do Quênia. O principal obstáculo do pan-africanismo era a diversidade étnica e cultural do continente. Existiam, como ainda existem, muitas "Áfricas" diferentes, impedindo as tentativas de aliança dos países africanos. Essa inexistência de uma "identidade africana" deve-se, em grande parte, ao fato de a África ter sido dominada, dividida e explorada por potências que nunca se preocuparam com os traços culturais daquelas populações.
Escravagismo e exploração dos bens naturais
Uma das raízes mais profundas da dura realidade africana é o mercado de escravos, explorado por árabes e europeus entre os séculos XVI e XIX. Naquele período, mais de ONZE milhões de seres humanos foram capturados por portugueses, holandeses, ingleses e franceses, e transportados à força, principalmente para as plantations dos Estados Unidos e para as possessões portuguesas na América.
Encerrado o período escravagista, no século XIX, as potências coloniais mantiveram o controle sobre a África, que se tornou fonte de minerais e matéria-prima para a florescente indústria europeia. No processo de colonização, muitas tribos e nações inimigas acabaram unidas à força pelos colonizadores. Por causa disso, as fronteiras dos Estados e regiões refletiam muito mais os interesses estrangeiros do que a história dos povos locais.
"O tráfico de escravos vai de certa maneira desarticular não só as economias locais mas desorganizar os pequenos reinos, as pequenas formações sociais existentes no litoral do continente, possibilitando futuramente a possibilidade de uma colonização, de uma dominação desses povos. Essa dominação ocorre de uma forma violenta ou estabelecendo fronteiras artificiais, cortando, na maior parte das vezes, segmentos e grupos étnicos. Isso pode ser notado na Conferência de Berlim, onde as principais potências europeias dividem aleatoriamente, segundo seus interesses, o continente africano."
Bandung: tentativa de união dos países do Terceiro Mundo Quando o líder nacionalista Jomo Kenyatta falava em pan-africanismo, ele tinha em vista, provavelmente, muito mais uma estratégia geopolítica do que cultural ou étnica. O objetivo era defender os interesses geopolíticos comuns dos países africanos. Da mesma forma, e também no começo dos anos 50, outro líder nacionalista, o egípcio Gamal Abdel Nasser, defendia um ideal pan-arabista, que centralizasse os interesses do povo árabe. Nos dois casos, do pan-arabismo e do pan-africanismo, essa unidade serviria de cimento político e ideológico contra os interesses imperialistas.
Foi com esse propósito, de unir os países do Terceiro Mundo, que se realizou a Conferência de Bandung, na Indonésia, em abril de 1955. A conferência proclamou-se representante dos países não alinhados nem ao bloco soviético nem ao bloco capitalista, mas favoráveis à criação de sociedades igualitárias.
O encontro, convocado pela Indonésia, Mianmar, Sri Lanka, Índia e Paquistão, reuniu 29 países da África e da Ásia. O presidente da Indonésia, Ahmed Sukarno, propôs um compromisso de todas as nações ali presentes de apoio mútuo em casos de agressões de países imperialistas.
A Conferência soou como um sinal de alerta para as potências coloniais. Dez anos antes, Sukarno havia liderado o processo de independência da Indonésia, ex-colônia da Holanda. Além disso, em 1954, um ano antes de Bandung, a França havia sido expulsa da Indochina. E, para completar, o pan-arabista Gamal Abdel Nasser havia dirigido, em 52, o processo de independência do Egito e despontava como líder do norte da África.
Nasser e o Pan-Arabismo
Gamal Abdel Nasser, na verdade, era o principal articulador do chamado "pan-arabismo", que propunha a união de todos os países de maioria árabe-muçulmana, como forma de fortalecer a cultura e a causa islâmica frente ao mundo ocidental. Em função da identificação do Egito com o Islã, o país estava mais próximo do Oriente Médio, do ponto de vista cultural e político, do que dos países da África Negra.
De qualquer forma, o pan-arabismo de Nasser foi de grande importância para a causa pan-africanista, já que as duas iniciativas tinham em comum a luta contra os interesses estrangeiros em seus países. E um dos pilares dessa luta, no caso da África, era exatamente a descolonização do continente.
Outra iniciativa importante para acelerar o processo de descolonização foi a realização, em 1958, da 1ª Conferência dos Povos da África, em Acra, capital de Gana. Na ocasião, os países fecharam um acordo de ajuda mútua contra a Grã-Bretanha, França, Bélgica e Portugal. Àquela altura, a descolonização do continente já estava em andamento. Em 56, Marrocos e Tunísia, colônias da França, haviam conquistado a independência. O Terceiro Mundo: As Américas
"A América para os americanos". Esse slogan resumia a doutrina lançada em 1823 pelo presidente dos Estados Unidos, James Monroe. A doutrina estabelecia como prioridade, na política externa, a ampliação da influência de Washington sobre os países do continente americano.
Até a primeira metade do século XX, os Estados Unidos de fato garantiram sua hegemonia nas Américas. Mas com a nova configuração geopolítica do planeta, depois da Segunda Guerra, os americanos precisaram reformular sua política externa para fazer frente à expansão do socialismo no mundo. Era o início da Guerra Fria.
Cuba e o início da Guerra Fria na América Latina
No final dos anos 50, a revolução cubana representou uma ameaça ao controle de Washington sobre os países americanos. Os Estados Unidos não mediram esforços para garantir esse controle, inaugurando a Guerra Fria na América. Nos primeiros anos da Guerra Fria, a Casa Branca já havia demonstrado a disposição de afastar qualquer vestígio de influência comunista na América.
Em 1954, na Guatemala, a CIA, o serviço secreto norte-americano, articulou um golpe que depôs o presidente Jacobo Arbenz, eleito em 1950 com apoio dos comunistas. Arbenz , que havia realizado a reforma agrária e expropriado terras de empresas americanas, foi deposto pelo coronel Carlos Castillo Armas, que implantaria uma sangrenta ditadura no país.
Cuba seria o próximo país a sofrer profundas transformações, cinco anos após o golpe na Guatemala. Os guerrilheiros liderados por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, que até então não apresentavam posições esquerdistas, lutavam para derrubar o ditador Fulgêncio Batista
Sob a ditadura de Batista haviam se multiplicado em Cuba os hotéis de luxo, os cassinos e as casas de prostituição. Grandes plantações exploravam a cultura do tabaco, mas sem permitir qualquer liberdade sindical ou partidária aos trabalhadores. Com o apoio da população e até uma discreta simpatia da Casa Branca, os guerrilheiros tomaram o poder em janeiro de 1959, provocando a fuga de Batista. Começava a era de Fidel Castro.
Pouco depois de assumir o governo, Fidel Castro iniciou um programa de reforma agrária e de nacionalização das empresas americanas, além de levar a julgamento os principais colaboradores de Fulgêncio Batista. As medidas surpreenderam os Estados Unidos, que passaram a se preocupar com os rumos do novo regime de Havana.
Tensão entre Washington e Havana
À medida que Fidel Castro se aproximava da União Soviética, o governo americano adotava medidas de represália, como a suspensão da compra de açúcar cubano. A ruptura diplomática aconteceria em janeiro de 1961, inaugurando um período de relações tensas entre Washington e Havana.
Em abril de 61, meses depois do rompimento diplomático, a CIA organizou uma invasão de Cuba a partir da Baía dos Porcos. Recrutou cubanos exilados em Miami, na maioria refugiados e cidadãos expulsos pelo governo de Fidel. A invasão foi um fracasso. Uma série de desencontros, falhas de estratégia e má coordenação permitiu que as forças armadas de Cuba realizassem um contra-ataque fulminante.
A principal consequência da tentativa de invasão, do ponto de vista geopolítico, foi o aprofundamento dos laços entre Cuba e União Soviética. Essa proximidade provocaria uma das mais sérias crises da Guerra Fria e do século XX, a crise dos mísseis.
Em outubro de 62, aviões de espionagem dos Estados Unidos detectaram movimentos que indicavam a disposição soviética de instalar uma base de mísseis nucleares em Cuba. Seguiram-se duas semanas de tensão, período em que o presidente Kennedy advertiu Moscou de que usaria armas nucleares caso a União Soviética insistisse na base de mísseis.
O dirigente Nikita Khruschev recuou, mas conseguiu de Kennedy um compromisso de não-intervenção americana em Cuba. Esse compromisso, no entanto, não impediu que os Estados Unidos iniciassem um bloqueio econômico e naval do país, numa tentativa de asfixiar a economia cubana. Washington também fez pressões para que Cuba fosse expulsa da Organização dos Estados Americanos, a OEA. Na prática, os Estados Unidos passaram a considerar Cuba como integrante do "bloco do leste", o grupo de países do leste europeu aliado de Moscou. Mas a Casa Branca jamais perdeu de vista a proximidade geográfica da pequena ilha, e utilizou a revolução cubana como pretexto para uma grande ofensiva anticomunista no continente americano.
EUA voltam a atenção para o Brasil
Dentro da estratégia de evitar o surgimento de "novas Cubas", os Estados Unidos voltaram a atenção para o maior e mais importante país da América Latina, o Brasil.
No início dos anos 60, a situação no Brasil era de instabilidade política. Em 25 de agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo sete meses depois de eleito, numa frustrada manobra política para ampliar seus poderes. O Congresso aceitou a renúncia e o país mergulhou numa séria crise política. Os militares de direita não queriam a posse do vice de Jânio, João Goulart, um político identificado com o trabalhismo de Getúlio Vargas.
Jango
A construção de hidrelétricas, a instalação da indústria automobilística e a criação de Brasília, durante o governo de Juscelino Kubitschek, entre 1955 e 1959, haviam estimulado o surgimento de grandes concentrações de trabalhadores urbanos, que se organizaram em sindicatos para exigir seus direitos.
Dentro desse contexto, a ascensão de um líder trabalhista como João Goulart parecia significar uma ameaça aos interesses tradicionais dos grupos dominantes brasileiros. Num primeiro momento, a crise foi contornada e Jango tomou posse. Em 62, no entanto, as centrais sindicais convocaram greves gerais por melhores condições de trabalho e para exigir do governo um ministério nacionalista e democrático.
O avanço das lutas trabalhistas e o prestígio de líderes como Luís Carlos Prestes, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, assustavam os setores mais conservadores da classe média e da Igreja Católica. Políticos influentes, grupos de direita, setores da igreja e donas-de-casa organizaram passeatas em defesa da religião, da família e da liberdade, valores que julgavam ameaçados pelo avanço comunista. A sociedade marchava para uma crise de graves proporções.
"O período logo após a renúncia de Jânio Quadros foi de intensa efervescência na política e na sociedade, nos movimentos populares, sindicais, estudantis e principalmente nos considerados mais perigosos, os movimentos das ligas camponesas. É assim que se constrói a democracia, com a participação dos vários segmentos da sociedade. Mas isso foi considerado extremamente ameaçador para os grupos dominantes e também para a imensa classe média, que foi muito mobilizada pelo medo. Medo de descer na escala social, a chamada proletarização da classe média. Esse medo foi bem manipulado e explorado pelos setores dominantes, que alardeavam o que se considerava as duas grandes ameaças para o Brasil: a corrupção, associada aos antigos políticos do getulismo e incorporada pelo presidente João Goulart, e a subversão, associada ao perigo do comunismo. Tudo isso levou a um tal clima de medo que, em nome da segurança, da estabilidade e até mesmo da paz da família brasileira, aceitou-se essa violência que foi o golpe militar de 64."
Golpe militar e repressão
Os militares brasileiros tomaram o poder em 31 de março de 64. Vários dispositivos legais impuseram a censura à imprensa, suspenderam as liberdades democráticas e tornaram ilegais os partidos de oposição, os sindicatos e as associações de classe. Agentes da polícia política, o Dops e o Doi-Codi, perseguiam e prendiam os opositores do regime militar. Todas as operações eram descritas como "medidas de guerra" contra o que os governantes chamavam de "comunismo internacional". Muitos opositores foram torturados ou assassinados. Vários deles desapareceram para sempre.
A consolidação do regime militar aconteceu em dezembro de 68, quando o presidente, general Arthur da Costa e Silva, assinou o Ato Institucional número 5. O AI-5 conferia ao governo o poder de cassar mandatos políticos, decretar o recesso do Congresso, impor estado de sítio e suspender as garantias individuais.
Herzog e Fiel F°: início da abertura
O clima de terror que o Brasil conheceu a partir da decretação do AI-5 teve seu ápice em outubro de 1975, quando o jornalista Wladimir Herzog foi morto na prisão, em São Paulo. Houve uma imediata reação dos setores democráticos do país, que se reuniram num ato ecumênico pela alma de Herzog na Catedral da Sé.
Em janeiro de 76, a morte do operário Manoel Fiel Filho em circunstâncias semelhantes forçou o governo a apressar a liberalização do regime. O general Ednardo D'Ávila Mello foi afastado do comando do 2.º Exército, sediado em São Paulo. A partir daí teve início um processo que Geisel chamava de "abertura lenta, gradual e segura". Em 1979, finalmente, foi decretada a anistia aos presos políticos e exilados.
A partir de 1983, o movimento das Diretas-Já, pelo restabelecimento do voto popular para a eleição do presidente da República, levou milhões de pessoas às ruas das principais capitais. A ditadura definhava aos poucos, encerrando seu período em 1985, quando o senador José Sarney, vice de Tancredo Neves, tomou posse como presidente do país.
A Questão Cultural no Brasil Em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, era lançado o primeiro liquidificador no Brasil. Mas, um momento! O que um liquidificador tem a ver com o nosso assunto, a Guerra Fria? Tem tudo a ver.
Liquidificador, televisão, máquina de lavar, torradeira, aspirador de pó... Enfim, o uso da tecnologia na vida cotidiana refletia, e ainda reflete, um determinado modo de vida, um ideal de felicidade inspirado na sociedade consumista surgida nos Estados Unidos nos anos 20. Foi justamente a partir desse modo de vida típico do capitalismo que se desenvolveu a mensagem ideológica ocidental durante a Guerra Fria. Uma mensagem que se propagou por todo o mundo capitalista.
Ideologia do consumo
Em todo o mundo fora da esfera socialista, comprar eletrodomésticos e automóveis tornou-se parte de um projeto de vida. O Brasil recebeu em cheio o impacto da ideologia consumista e da revolução tecnológica norte-americana. Nossa classe média, principalmente, adotou o sonho do carro na garagem e consumiu em larga escala a fantasia exportada por Hollywood.
Na gestão de Washington Luís como presidente do estado de São Paulo começaram a rodar os primeiros carros a gasolina. Os rapazes de famílias ricas passeavam com seus automóveis causando medo e apreensão entre os pedestres.
Em 1922 foram instaladas em São Paulo novas linhas postais, telegráficas e telefônicas. Em janeiro de 1924, a cidade viu nascer a Rádio Educadora, criada para dotar o estado de uma emissora com fins culturais. Àquela altura o Brasil já contava com a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em abril de 1923. A capital paulista contava, então, com 14 salas de cinema e seis de teatro. Na época, era a segunda cidade mais habitada do Brasil, mas abrigava sozinha um terço da mão-de-obra industrial do País, empregando em suas fábricas cerca de 140 mil operários.
As novas tecnologias e a arte Os avanços trazidos pelas novas tecnologias modificaram o cenário urbano. A cidade começou a se verticalizar e ganhar seus célebres arranha-céus, como o Edifício Martinelli, construído no início dos anos 30 a partir das concepções urbanísticas de Nova York e Chicago.
A chegada das novas tecnologias industriais foi notada também pelos artistas brasileiros. Eles sentiram o início de uma nova era na história da humanidade, cheia de inovações tecnológicas. Ao mesmo tempo, levantaram uma questão central: onde estaria a identidade nacional nesse redemoinho de novas possibilidades, nas mudanças radicais que afetavam o mundo?
Essas inquietações estimularam o surgimento da Semana de Arte Moderna de 1922. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e todos os artistas envolvidos na Semana de 22 tinham, em geral, uma formação intelectual e técnica muito mais europeia do que americana. Mas foram obrigados a dialogar com a realidade tecnológica exportada pelos Estados Unidos.
"A afirmação de que a Semana de Arte de 22 foi o evento mais significativo na história cultural brasileira acaba por acobertar alguns outros significados que podem ser associados ao Modernismo. Para além de ser um capítulo na história da nossa literatura, das artes plásticas, da música, o Modernismo foi significativo para a composição, para a fundação de uma nova identidade nacional. Os artistas, os participantes da Semana de 22 procuraram incorporar todos os procedimentos técnicos poéticos das vanguardas europeias. Nesse sentido, buscaram atualizar as questões da literatura, da arte, da música e, ao mesmo tempo, resgatar elementos da tradição popular brasileira. Isso deu origem a uma cultura ambígua que expressava cosmopolitismo por um lado, fruto de uma modernização crescente, fruto da industrialização, fruto da presença de imigrantes na sociedade brasileira; por outro lado, expressava também o resgate das tradições populares especialmente das classes que durante muito tempo não figuravam naquilo que se poderia chamar de cultura brasileira. Trata-se então de um país que incorpora a cultura europeia mas que tem uma cultura, traços culturais diferentes, variados, múltiplos e que produz algo novo. Talvez a expressão mais bem acabada disso tenha sido a Antropofagia."
Desenvolvimento econômico e produção cultural Nas décadas seguintes, sobretudo a partir dos anos 40, o país viu crescerem as atividades de pesquisa e a formação de mão-de-obra qualificada nas universidades. Ao mesmo tempo, a classe média brasileira embarcava com tudo na ideologia do consumo.
Foi durante o governo de Juscelino Kubitschek, entre 1956 e 1961, que se firmou no Brasil a convicção de que o progresso dependia do desenvolvimento industrial. O Plano Nacional de Desenvolvimento de Juscelino tinha o slogan "Cinquenta Anos em Cinco", propondo a realização, em cinco anos, de um trabalho de meio século. No governo JK, as indústrias básicas, que produziam alimentos, máquinas e peças, expandiram seus negócios. A produção industrial teve um crescimento de 80 por cento.
Para viabilizar a produção de energia, fundamental para o desenvolvimento, foram construídas grandes obras, como as hidrelétricas de Furnas e Três Marias, em Minas Gerais. Além disso, o mercado brasileiro se abriu para as montadoras de automóveis, como a Ford, a General Motors e a Volkswagen.
JK procurava um símbolo para marcar e consolidar a nova fase industrial do Brasil, a obra máxima de seu governo. Começava o projeto da construção de Brasília, inaugurada em abril de 1960. Curiosamente, a ideia da nova capital, uma cidade moderna e planejada em pleno sertão, agradou à esquerda e à direita brasileiras.
João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes... A Bossa Nova As mudanças nos grandes centros urbanos tiveram reflexos nas artes, na ciência e na tecnologia. Enfim, na produção cultural do país. O aumento da população economicamente ativa criou condições para o desenvolvimento comercial do teatro, do cinema e da música. Foi assim que, no final dos anos 50, surgiu a bossa nova, com João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, entre outros. Eles beberam na fonte de músicos como Pixinguinha, Noel Rosa, Ari Barroso, Lamartine Babo e Villa-Lobos.
Reunidos em sessões musicais na casa da cantora Nara Leão, no Rio de Janeiro, os criadores da bossa nova identificavam-se com os grandes sambistas cariocas. Ao mesmo tempo, dialogavam com as formas do jazz produzido nas grandes cidades dos Estados Unidos, como Chicago e Nova York.
Teatro e cinema: efervescência
No teatro, Nélson Rodrigues escandalizava ao retratar a hipocrisia e os conflitos da classe média urbana típica, angustiada por problemas materiais e incertezas existenciais. O estilo direto e ferino do dramaturgo chocava-se com os valores tradicionais da sociedade.
No cinema, a produtora Atlântida adotou a fórmula da chanchada, inspirada na receita de sucesso de Hollywood. Outra produtora, a Vera Cruz, lançou-se a uma vertente mais séria, produzindo filmes com um conteúdo mais elaborado e dentro dos padrões industriais do cinema americano.
Um fato muito significativo do cinema na época foi o surgimento do Cinema Novo, com o filme "Rio 40 Graus", de 1955, dirigido por Nélson Pereira dos Santos. O baiano Gláuber Rocha, também um expoente do Cinema Novo, colocou nas telas os problemas do sertão no filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", realizado em 1964.
O Cinema Novo retomou em parte a discussão levantada pela Semana de Arte Moderna de 1922. Ele se preocupava com o Brasil, com as origens e com o futuro da cultura e da arte do país, num mundo cada vez mais industrializado e dividido em torno de temas globais, como o capitalismo e o comunismo. "Uma ideia na cabeça, uma câmera na mão": a célebre frase de Gláuber resumia a preocupação estética do Cinema Novo. Ao mesmo tempo em que questionavam esquemas hollywoodianos de superprodução, os cineastas procuravam retratar o Brasil através de uma estética despojada mas com sofisticação de linguagem.
Num mundo em transformação, medo do comunismo
No início dos anos 60, o país estava em processo de transformação, em todos os sentidos. Brasília prometia a modernidade, as grandes cidades estavam mudadas e a arte buscava novos caminhos. No dia a dia, a presença cultural norte-americana se multiplicava por todos os lados: na grande indústria, nos arranha-céus, na publicidade, nas roupas, no cinema.
Com a grande concentração de operários nas cidades, surgiu o receio de movimentos trabalhistas e sindicais. A Casa Branca passou a se preocupar com possíveis levantes comunistas na América Latina, a exemplo do que ocorreu em Cuba em 1959. A mesma preocupação da burguesia e da classe média brasileiras.
O clima de insegurança no Brasil aumentou com a renúncia do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, em circunstâncias nunca inteiramente esclarecidas. O trabalhista João Goulart, o Jango, vice de Jânio, assumiu a presidência em setembro de 61, em meio a ameaças de golpes e contragolpes de Estado. Os militares não queriam um governo identificado com a estrutura sindical herdada de Getúlio Vargas. Se Jango nada tinha a ver com o comunismo, o receio dos militares era de que o trabalhismo aproveitasse a oportunidade para uma ofensiva.
Foi o que aconteceu. As greves se multiplicaram. Em 62, a Confederação Nacional dos Trabalhadores e o Pacto de Unidade e Ação convocaram uma greve geral, reivindicando um ministério progressista e comprometido com os interesses nacionais. A influência das esquerdas sobre o movimento causava ainda mais inquietação nas Forças Armadas.
No Rio de Janeiro, grupos de mães, profissionais liberais e oposicionistas em geral do governo organizaram um comício contra as reformas de base de Jango. Em São Paulo foi organizado um movimento semelhante, a "Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade". Era o sinal que os militares aguardavam para o golpe de Estado.
O Fim da Guerra Fria: A Era Gorbatchev De 1917 até 1990, o povo soviético viveu sob um regime de partido único, que exercia um estreito controle sobre a vida dos cidadãos. A partir da ascensão de Gorbatchev, em 1985, a União Soviética experimentou uma fase de transição rumo a uma nova ordem política, ao modelo de economia de mercado e a uma nova orientação nas relações internacionais.
Com as reformas liberalizantes de Gorbatchev, surgiram na União Soviética as organizações políticas e sindicais independentes e o pluripartidarismo. Nós vamos acompanhar essa trajetória do Estado soviético até o momento da tentativa de golpe militar, em 1991. Vamos falar de glasnost e perestroika, dois conceitos que se tornaram muito conhecidos nos anos 80 e que lançaram as bases daquilo que mais tarde se convencionou chamar de Nova Ordem Mundial.
URSS, anos 80: crise econômica
No início dos anos 80, a economia soviética, inteiramente controlada pelo Estado, encontrava-se à beira do colapso. O parque industrial, em sua maior parte, estava obsoleto. Os níveis de produção caíam a cada ano e a qualidade de vida tornava-se insatisfatória para a maioria da população. Oficialmente não havia desemprego na União Soviética. O governo não divulgava informações sobre a verdadeira situação do Estado. Na verdade, em algumas regiões, como no Cáucaso, mais de um terço da população economicamente ativa estava sem trabalho.
A crise chegou a alguns bairros de Moscou. Os moradores enfrentavam a falta de alimentos e produtos básicos e a precariedade de serviços, como o fornecimento de luz, água e telefone. A população formava grandes filas para comprar pão, leite e outros produtos essenciais.
Essa realidade contrastava com o dia a dia de um reduzido grupo de cidadãos com acesso a todo tipo de privilégios. A opulência dos altos funcionários do Partido Comunista, uma das mais notórias distorções dos ideais marxistas, ficava ainda mais visível num momento de crise econômica. Os funcionários da burocracia estatal, moradores de amplos apartamentos, faziam suas compras em lojas especiais, longe das filas. Possuíam carros novos ou andavam em limusines, viajavam sempre ao exterior e se refugiavam em confortáveis casas de campo, as famosas datchas.
Os cidadãos comuns, de modo quase oposto, moravam em pequenos apartamentos, muitas vezes com outras famílias, viajavam para as colônias de férias determinadas pelo governo, e aguardavam alguns anos na lista de espera para adquirir um carro popular.
A KGB e a burocracia soviética
De um modo geral, um quadro como esse, de desequilíbrio econômico e injustiça social, costuma estimular o surgimento de grupos de oposição. Mas, na União Soviética, as tentativas de oposição organizada eram logo reprimidas com rigor pela KGB, a temida polícia política que não media esforços para eliminar os focos de resistência ao regime.
De 1964 a 1982, mais do que nunca, a KGB foi utilizada para preservar os privilégios dos burocratas de alto escalão do PCUS. Durante esse período o homem forte da União Soviética era Leonid Brejnev, que chegou ao poder em outubro de 64, em substituição a Nikita Khruschev.
Considerado nos meios políticos ocidentais um dirigente de linha dura e pouco afeito às formalidades da diplomacia, Brejnev marcou seu governo com medidas graves como a invasão da Tchecoslováquia, em 1968, para pôr fim ao período liberal conhecido como "Primavera de Praga".
Onze anos depois, em dezembro de 79, outra medida dura e de grande repercussão: o líder ordenou a ocupação militar do Afeganistão, para preservar o domínio de Moscou na região centro-oeste da Ásia.
Na era Brejnev, a KGB lançou mão de métodos duros para combater os focos de oposição a este quadro de privilégios dos burocratas, e aos rumores de envolvimento do governante e de sua filha Galina com episódios de corrupção e contrabando.
Muitos oposicionistas foram presos, enclausurados em hospitais psiquiátricos ou confinados em localidades determinadas pelo governo. Alguns dissidentes tornaram-se célebres no Ocidente, como o escritor Alexander Soljenítsin e o físico Andrei Sakharov, prêmio Nobel da Paz em 1975.
O fim da era Brejnev
Na época da morte de Brejnev, em 1982, o único setor em boas condições, além da burocracia do Partido Comunista, era o militar. A indústria bélica e espacial manteve a produção de mísseis e foguetes de alto nível de sofisticação, apesar do elevado custo social.
O novo secretário-geral do Partido Comunista era Yuri Andropov, uma figura enigmática que assumiu o poder com fama de linha dura, por ter sido chefe da KGB durante 15 anos. Essa imagem foi reforçada com a derrubada, em 83, de um avião de passageiros da Korean Air Lines, por invasão do espaço aéreo soviético.
Por outro lado, Andropov iniciou um processo de pequenas mudanças liberalizantes na economia, estimulou uma campanha contra a corrupção na máquina administrativa do Estado e reuniu em seu governo alguns auxiliares que mais tarde estariam envolvidos nas reformas de Mikhail Gorbatchev. Andropov ficou no poder até a morte, em fevereiro de 1984.
Para alguns historiadores, Andropov estava bem informado sobre a precária situação econômica do país, em virtude de suas ligações com a KGB. Assim, teria decidido antecipar algumas reformas para evitar a eclosão de movimentos sociais e trabalhistas que poderiam abalar a estrutura de poder na União Soviética.
O sucessor de Andropov, Konstantin Tchernenko, assumiu o poder já em condições precárias de saúde. Governou por 11 meses, até morrer em março de 1985. Hoje, sabe-se que sua indicação pelo partido foi um modo de adiar por algum tempo a questão sucessória, até que os dois grupos em disputa chegassem a um acordo. De um lado, os herdeiros políticos de Brejnev não queriam saber de reformas. De outro lado, a ala mais jovem do partido pretendia levar adiante as mudanças políticas e econômicas no país. No final, deu Gorbatchev.
Começa a era Gorbatchev
Mikhail Sergueievitch Gorbatchev assumiu a secretaria-geral do Partido Comunista em março de 85, aos 54 anos. Sua ascensão ao cargo foi resultado de uma trajetória rápida e brilhante dentro da estrutura do partido. Membro desde 1980 do Politburo, a instância máxima do Comitê Central do PCUS, Gorbatchev demonstrava uma habilidade diplomática incomum, e quando assumiu o poder já era uma figura conhecida nos meios políticos ocidentais.
Em agosto de 85, Gorbatchev surpreendeu o mundo ao suspender os testes nucleares subterrâneos, declarando uma moratória nuclear unilateral. A medida, no entanto, soou como mais uma peça de propaganda soviética.