Até meados dos anos 80, as oficinas mecânicas constituíam território dominado quase que exclusivamente pelos homens. O lugar onde a graxa se misturava com peças de carros soltas, há também outra marca registrada: as paredes repletas de fotos de mulheres nuas. Esse modelo perdurou por vários anos e até hoje quando se fala em oficina mecânica, o que vem à cabeça são esses aspectos. O local tornou-se quase que proibido para o sexo feminino, pois esse “Clube do Bolina” passa a impressão de que mulher no local só atrapalha.
Aos poucos as oficinas foram perdendo seu aspecto “sujo” e algumas delas se modernizaram. As peças já não ficam mais espalhadas; em muitas a tecnologia se faz presente e o controle dos serviços prestados e dos carros que entram e saem é feito através do computador. Mas, e os pôsteres femininos que caracterizavam as oficinas, porque eles haveriam desaparecido?
A diminuição ou até mesmo o fim dos pôsteres nas paredes das oficinas talvez tenha se dado pelo fato de que essas fotografias que eram distribuídas por fábricas de peças de carros, hoje não se produzam mais. Outro fator é o número de mulheres que frequenta as oficinas aumentou consideravelmente. Algumas delas trabalham na atividade mecânica de forma direta ou indireta. As clientes ou profissionais dizem evitar oficinas que tenham fotos de mulheres nuas e sentem-se confortáveis onde o ambiente é “mais familiar”.
Já os frequentadores dessas tradicionais oficinas que ainda restam, comparam as mulheres dos calendários com as máquinas (carros). Está aí um dos significados para que as oficinas estejam lotadas delas. Outros dizem que oficina é como boteco, os homens conversam sobre futebol, carros e é claro, mulheres e aquelas nas paredes estimulam as conversas.
Marlyn Monroe, uma das modelos mais famosas do mundo posou para um desses calendários. Por aqui, a mais conhecida é a ex-chacrete, Rita Cadillac. Entre anônimas e famosas, estas mulheres povoaram a imaginação de mecânicos e clientes por muito tempo.
Hoje as oficinas não “amedrontam” mais, também não são mais dominadas somente por homens, estão perdendo aos poucos suas peculiaridades em nome da tecnologia. Elas também fazem parte da cultura de nosso país e ao lado dos botecos e sinucas nos fazem compreender o universo masculino, não como um todo, apenas parte dele. E nos fazem refletir sobre as transformações que ocorrem a cada dia em nossa sociedade.
Andreia Santos é jornalista, formada pela Universidade Estadual da Paraíba, atualmente é repórter da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Este texto foi publicado originalmente na revista Caruaru Hoje, de dezembro de 2003.