Através dos tempos, os médicos têm sido referenciados como profissionais de vanguarda. Motivos sobram. Vivem em permanente estado de solicitude, sem distinção de noite ou dia, prontos para abdicar ou servir, o que os levam ao acatamento e apreço.

Suas vidas são embasadas fundamentalmente em atenuar as adversidades mórbidas dos seus semelhantes, diretamente ou na pesquisa. Estudam continuadamente, atualizando seus conhecimentos, na expectativa de oferecer o mais recente argumento na resolução das enfermidades.

Até no silêncio dos necrotérios suas presenças são marcantes. Esclarecem a infortunística ou iluminam a justiça, para que a razão seja elevada e prevaleça.

Devassam a intimidade das pessoas ou dos lares, atitude que exige honestidade de propósitos, sigilo e respeito. Estabelecendo uma relação tão forte e profunda que não raro são transformados em curadores eméritos, amigos, conselheiros, orientadores, assistentes sociais, aliviadores de tensões e sofrimentos, detentores da própria esperança. Outras tantas, no exagero das emoções, são transformados em mitos, semi deuses, pela fé lhes denotam ao se contraporem as doenças, obstacularem a própria morte.

A prática diária, contudo, encerra algumas controvérsias. Da dependência à exacerbação de sentimentos, afinal se mexe com o afetivo das pessoas significativamente. A cobrança comum é a resolução, cura de tudo. É obrigação, faz parte do compromisso. O insucesso, a morte eventual que ronda todo tratamento, a grande notícia. Como pode um julgamento a cada caso?

Contam inclusive, que há muitos séculos passados, a rainha Astrogilda, portadora de mal incurável, ao perceber a aproximação da morte, ordenou a execução de seus três médicos, porém que fossem sepultados em seu próprio túmulo, num misto de emoção, paixão e irracionalidade.

Neste dia 18 de outubro - Dia do Médico - abraçamos todos os companheiros e deixamos algumas reflexões. Aos nossos pacientes, motivo de todo o processo, de que estaremos aos seus lados de forma irrestrita, buscando minimizar seus sofrimentos, suas angústias e, se possível, curando-as.

Aos companheiros, que adiram cada vez mais a seus pacientes, fiéis depositários de suas confianças, cientes de que a dignidade humana reside no fazer e não na recompensa.

Com a firme convicção de que para os caminhos mais árduos e difíceis são escolhidos os melhores soldados, e a servidão humana é uma dádiva divina.

Com 35 anos de Anestesiologia, confesso que continuo a me emocionar com o labor diário, me envolvo como um iniciante, sinal que me encontro, confissão de fé.

Ser médico é dedicação, renúncia, responsabilidade. Porém, não tenham dúvidas, é um privilégio!